Por mais que seja divertido, live-action do desenho animado é um filme ruim em sua essência.


Sinopse: Dois anos depois de separarem-se após resolverem seu último caso, a equipe da Mistério S.A une-se para investigar estranhos acontecimentos em um parque mal-assombrado chamado Ilha do Espanto. A atração parece assombrar jovens visitantes de maneiras muito estranhas, mas cabe a Scooby, Salsicha e todo o grupo desvendar o mistério.

Scooby-Doo foi criado em 1969 pela Hannah-Barbera e fez parte da infância de muitas gerações, sendo até hoje um dos maiores ícones da cultura pop. O primeiro live-action da franquia também fez parte da infância da geração dos anos 2000 e por mais que seja um filme que honre os personagens, não deixa de ter muitos defeitos. Esse é o tipo de produção em que é necessária muita suspensão de descrença por parte do público para que a experiência seja proveitosa, pois quando começa-se a indagar a lógica do roteiro, digamos que pode arruinar a sua visão do filme.

Há quem possa dizer que não existe lógica num filme onde temos um cachorro falante ou monstros, porém é necessária uma certa “coerência” até dentro de premissas mais fantasiosas, o que não acontece aqui. O roteiro de James Gunn sacrifica a coerência de várias cenas em nome da comédia, alguns casos funcionam e outros não. Vamos começar falando do mistério, a turma da Mistério S.A é contratada por Emile Mondavarius (Rowan Atkinson) para investigar o comportamento estranho de alguns clientes de seu parque de diversões. Até aí não tem nada demais, porém o que viria a seguir é muito conveniente e eu diria até preguiçoso.

Toda a investigação do grupo segue a fórmula estabelecida nos desenhos, os mais inteligentes procuram as pistas enquanto os bobalhões fazem trapalhadas. Chama a atenção que eles tranquilamente entram em vários locais que em tese deveriam ser “protegidos” e acham todas as informações de que necessitam de uma tacada só. Esse é um elemento comum nos desenhos, mas que numa produção live-action não funcionou bem, pois para deixar o espectador engajado, é necessária uma trama que instigue a curiosidade. Tudo aqui vem excessivamente mastigado e pior, quando a “reviravolta” entra em ação, fica a sensação de que nada faz sentido.

Ora, se o objetivo do culto maligno era pegar o Scooby, por que diabos não o pegaram de primeira com reforços para garantir que tudo daria certo ? Outro elemento falho está no que tange ao público do parque temático, com tantos problemas e gente estranha era de se esperar que as pessoas falassem disso ou no mínimo fossem embora, mas isso não ocorre. Os vilões são caricatos demais, isso não é problema visto que nesse universo as pessoas tendem a ser muito dramáticas ou clichês.


A ideia de explorar elementos sobrenaturais foi bem acertada em alguns pontos e a mitologia empregada é interessante, porém a falta de lógica mencionada anteriormente prejudica essa parte também. O duplo-twist envolvendo a identidade do vilão é até surpreendente à primeira vista, mas o uso que fazem disso é vergonhoso, pois os efeitos visuais utilizados são péssimos e os diálogos beiram à cafonice. De forma geral, o CGI deste filme é ruim até pra época, as criaturas são muito artificiais e sem a menor textura ou peso aparente. O design de produção e os figurinos por outro lado, são bem produzidos e respeitam o material original.

Os personagens e o elenco são os pontos mais legais da obra, quem fez a seleção desses atores merece até um prêmio. Fred (Freddie Prinze Jr.), Daphne ( Sarah Michelle Gellar), Velma (Linda Cardellini) e Salsicha (Matthew Lilard) dão um show e fazem jus ao legado desses personagens tão icônicos. E óbvio que o Scooby-Doo (voz de Frank Welker) também está excelente, todos os traços da personalidade dele estão muito fiéis. Uma coisa que o roteiro de Gunn acerta, é na dinâmica do grupo. O entrosamento entre eles é bem feito e a química entre os atores faz tudo funcionar melhor.

Em termos narrativos, foi interessante vê-los além do estereótipo de “garotos intrometidos", lidando com temas mais adultos como frustação, mágoa e ego. Durante a trama, eles vão resolvendo suas diferenças aos poucos e de forma orgânica ainda que um momento ou outro seja forçado. Um fato que chama a atenção são as piadas de teor adulto, quando criança a gente não tem maturidade para sacar isso, mas revendo o filme hoje em dia, deu para notar várias brincadeiras de cunho sexual e cheias de duplos sentidos. O maior exemplo disso é na cena em que eles trocam de espírito e acabam em corpos diferentes.

Por fim, vale dizer que apesar desses problemas mencionados, é um filme muito divertido. Ele incorpora várias coisas do desenho como um aceno para agradar os fãs e brincam com os personagens clássicos e seus estereótipos. A Daphne que antes era sempre a “donzela em perigo”, aqui é mais feroz e detesta não der capaz de cuidar de si própria. A Velma soluciona os mistérios e bola os planos, mas nunca recebe o crédito por isso, o que a deixa bem magoada. O Fred é o personagem mais raso, pois ele não tem um arco próprio, simplesmente reage aos outros personagens e é usado como fonte de piadas por ser um cara meio lesado. Já Salsicha e Scooby são os comilões e medrosos de sempre, mas são o coração da história por terem uma amizade bonita.

Scooby-Doo é um guilty-pleasure e não se pode negar.

Nota: 5,0

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