Demolidor e Rei do Crime finalmente “retornam” em episódio duplo completamente distintos e igualmente divertidos.
Após a morte do Tigre Branco e Matt (Charlie Cox) enfrentar as consequências, temos o quinto episódio da série, que é uma aventura separada e episódica de Matt Murdock enfrentando um assalto armado a um banco orquestrado por um grupo de bandidos em conluio com parte da polícia.
Muitos reclamaram do episódio ser “filler” por em tese não avançar nada na história principal. Eeeeee bem, isto não deixa de ser uma verdade, ao mesmo tempo em que a história que está sendo contada não só casa com tudo que vêm sido construído, como é uma aventura bacana do Demolidor, algo que veriamos facilmente como uma edição solta dentro da excelente revista mensal escrita por Mark Waid do personagem. Este tipo de sensação, de que estou vendo uma história em quadrinhos ser adaptada para o live-action sem necessariamente adaptar alguma história específica é sempre delicioso de se ver.
A temporada curiosamente segue muito mais de Matt Murdock como uma pessoa civel do que sua identidade como Demolidor (que é justificado no primeiro episódio), mas não deixa de ser estranho ver ele resolvendo algo como um assalto a bancos sem ser o Demolidor. Causa uma dinâmica interessante e uma trama bem fora da caixa do que estamos acostumados nestas produções, sendo quase um “O Plano Perfeito” da Marvel Studios (guardando as devidas proporções).
Um dos pontos mais… estranhos da temporada para mim até agora é toda a trama de Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio). Toda a parte onde ele enfrenta os percalços de ser o prefeito de Nova York enquanto gerencia seus esquemas não só adapta os quadrinhos também, mas é muito bacana por ver algo diferente e sem fazer mais uma vez ele enfrentando o Demolidor. Em contrapartida, esse lado da história mostrando Fisk e sua esposa, Vanessa (Ayelet Zurer) fazendo terapia de casal é inacreditável e poderia facilmente não existir.
É claro que os dois lados dessa trama de Fisk se entrelaçam e mostram um crescimento de seu personagem, com as frustrações de sua relação com Vanessa e a dificuldade de gerir a cidade trazendo o Rei do Crime de volta. Gosto também de como a série ao mesmo tempo é covarde para mergulhar em certos temas espinhosos, não tem medo em trazer reflexões pertinentes como o abuso da polícia e a formação de milícias e policiais vigilantes que abusam do poder, e do estado, liderado pelo prefeito, dando carta branca para eles agirem ans ruas.
Existem algumas participações de personagens menores do MCU na série, e mesmo sempre reclamando disso, este são casos em que os famosos cameos tem uma utilidade na narrativa da série e no que eles estão querendo construir, além de continuar dando vida a este universo compartilhado. É legal ver o retorno de Yusuf Khan (Mohan Kapur), trazendo não só referência a Ms Marvel (Iman Vellani) mas sem ter apenas esta finalidade na história, e o Espadachim (Tony Dalton) que promete agregar mais para o debate do vigilantismo no futuro.
Finalmente os episódios mergulham mais na trama secundária do Muso, que está sendo levemente construída desde o primeiro episódio. O Muso não só tem um visual idêntico ao dos quadrinhos, como é uma adaptação bem fiel do que foi o personagem na fase de Charles Soule. Ele é um assassino em série com uma visão artística que usa o sangue das vítimas como tinta para suas pinturas. Obviamente ele não será igual aos quadrinhos, onde ele tem conexões com os Inumanos e poderes, já que nem nos quadrinhos esse plot chegou a funcionar.
Como disse, a versão do Muso no MCU é bem fiel, embora até agora ele não teve falas ou qualquer tipo de desenvolvimento, servindo apenas como um serial killer que está aterrorizando Nova York. Seu confronto com o Demolidor é bem banal, mas como claramente teremos mais dele nos próximos episódios, fico levemente inclinado a acreditar que ele deve ter o minimo de desenvolvimento como personagem.
Terminamos então com o “grande retorno” do Demolidor e do Rei do Crime, com Matt finalmente voltando a vestir seu uniforme vermelho e enfrentando o Muso, ao mesmo tempo em que Fisk retoma o seu lado violento e brutal do Rei do Crime, assassinando um homem com as suas próprias mãos. É construído um paralelo visual bem interessante sobre a violência dos dois, e como mesmo tentando fugir dela e de quem realmente são, estes dois indivíduos jamais vão poder escapar disto. Uma leitura bem conduzida de quem são o Demolidor e o Rei do Crime, dois dos melhores personagens de toda a Marvel Comics.
A direção dos episódios ficou à cargo de Jeffrey Nachmanoff (Lovecraft Country, Echo 3) e David Boyd (The Walking Dead, Friday Night Lights), que são diretores padrões de televisão sem um grande currículo. Por conta disto, era esperado que os episódios não tivessem nada demais neste quesito, e tirando alguns efeitos especiais e cenas de ação que não envergonham ou trazem algo de empolgante, são bem conduzidos e em nenhum momento te deixam desinteressado.
Depois do retorno das personas do Demolidor e Rei do Crime, o confronto deles é iminente, com cada vez mais Fisk utilizando o aparelhamento público para jogar a população contra os vigilantes e heróis urbanos, trazendo o retorno de personagens como o Justiceiro (Jon Bernthal) às ruas. Vai ser curioso ver como vão mesclar isto com a trama do Muso, que aparentemente irá continuar até o fim da temporada.
Mesmo não estando amando “Demolidor: Renascido”, ela é um interessante exercicio de olhar como a Disney e o MCU adaptam este personagem amado dentro do seu universo. Os episódios abraçam narrativas diferentes e continuam a construir uma história bacana do Demolidor, dando espaço para adaptar materiais diferentes e recentes do personagem, mesclando bem tudo isto com um universo maior que é o MCU. É bom estar genuinamente empolgado para uma série da Marvel Studios, coisa que só aconteceu mesmo em alguns momentos de Loki. Que pelo menos, o final de temporada não seja decepcionante como de costume, por que a jornada está tão deliciosa quanto um bom gibi mensal de super-heróis.
Nota: 8
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