O Forúm Nerd foi convidado a conferir o filme "Inverno em Paris" em cabine de imprensa da Pandora Filmes.

OBS: Essa crítica contém spoilers.

Inverno em Paris é um drama francês lançado originalmente em 2022, chegando agora, no ano de 2024, nas terras brasileiras. Dirigido por Christopher Honoré, o filme nos introduz à história da família Ronis, principalmente no no filho caçula, Lucas, em meio a morte do pai da família num acidente de carro.

O ponto que logo chama a atenção é como a direção de Honoré, de câmera um pouco solta, trazendo proximidade maior com os personagens, ressaltada nos momentos mais leves, faz o filme parecer emular uma espécie de "tom documental", como se tivéssemos sido jogados dentro da biografia do protagonista. Essa emulação é reforçada quando, narrativamente, temos cenas que interpolam certas partes da obra, onde Lucas, realiza monólogos descrevendo e expressando mais a fundo seus sentimentos, sentados, numa sala preta, como se estivessem realizando uma entrevista para o próprio público. Mesmo que eu ache que esse artifício seja meio deixado de lado, mais para a metade do filme, o que é bem triste, ser uma forma fresca de interpretar um coming of age.

Relativamente à história, é interessante dividi-lá em três diferentes partes, representando os 3 espaços principais que o protagonista vai ocupando durante o período da obra: Sua casa, Paris e o hospital. Durante o ato inicial, que vamos sendo introduzidos de pouco a pouco, aponto como sequência principal, quando vemos a única interação entre Lucas e seu pai, à caminho da escola. Mesmo curta, ela tem um mérito importante de conseguir apresentar, a relação, mesmo que amistosa, sendo um pouco conturbada entre os dois, o que traz um questionamento de se o acidente de carro foi realmente foi mesmo uma triste circunstância ou suicídio, porém acho que essa vertente da narrativa poderia ter sido mais bem explorada.

Também o quanto conturbada, é a presença de Quentin (Vincent Lacoste), aspirante a artista na grande Paris, e irmão mais velho de Lucas, principalmente numa cena que exemplifica bem a volatilidade e inconsequência dele, ao apontar um suposto abandono e o distanciamento entre os dois, numa cena de briga, remediada pela mãe, Isabelle, que sempre tenta agir como a cola que mantém os três juntos. Por meio dessa parte em específico, vemos o filme, ao lidar com o luto, vai mudando entre cenas mais clamas e divertidas, e as mais emocionais e "violentas", o que não torna o longa inconstante, mas sim mostra que ele sabe bem balancear os elementos que vão permeando a sua história

O segundo ato, onde vemos Quentin levando seu irmão mais novo para lidar com o sofrimento., à chegada em Paris é a que mais traz a tona a sexualidade de Lucas, mas não apenas uma forma de "exploração total" de sua homossexualidade, que é bem estabelecida desde o começo, e sim, que após os eventos anteriores, o sentido da sua própria vida fosse tornando-se mais nublado, o que faz ele entrar em situações quase "estúpidas" para poder testar seus próprios limites e a própria sensação de importância de si mesmo e de seu futuro, abalada pela introdução e um certo interesse por Lilio (Erwan Kepoá Falé), colega de quarto de seu irmão, é grande proximidade do jovem durante boa parte do filme, "faíscando" uma certa relação "quasi-romântica", de certa forma. Contudo, ainda acho que esta seção acaba por se alongar um pouco demais, e deixar o filme um pouco cansativo em certos momentos, sendo um pouco inconstante.

Em sua parte final, ainda mais abalado, após ser mandando de volta de Paris, por suas atitudes,     Lucas acaba sofrendo ainda mais com sua falta de perspectiva e do trauma recente, e mesmo com o apoio de sua mãe, tenta se suicidar, e acaba por ser internado para tratamento. Trazendo algumas cenas fortes como a automutilação do garoto, ou as imagens de seus sonhos sendo sobrepostas, que acabam que apresentam uma montagem diferenciada do apresentado durante o longa, a conclusão é sobre realmente conseguir lidar com o luto, e seguir em frente, onde no pior momento, o jovem finalmente reencontrou o caminho da sua própria família.

Em geral, a simplicidade, e o jeito que consegue flutuar entre as emoções e os pensamentos de suas personagens é o que mais cativa dentro de Inverno em Paris, mesmo não perfeito, principalmente durante seu meio, ainda é uma experiência extremamente catártica sobre as relações familiares e o sentido da sua própria vida.

NOTA: 7,5

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