O verdadeiro mistério não está na trama de investigação e sim em como essa série existe
Depois de conceitos como viagem no tempo e multiverso terem sido introduzidos no universo cinematográfico da Marvel, agora é a vez do tédio — uma entidade poderosa que está presente em cada segundo dos episódios inaugurais de Agatha Desde Sempre, a mais nova minissérie da "Casa das Ideias". É proposital o primeiro plano, a primeira cena, ser a da Agatha (ou Agnes) em seu carro, com uma expressão entediada. Tudo o que ouvimos é um silêncio sepulcral. E essas são as primeiras imagens, que perduram; essa é a nossa porta de entrada para esse mundo: o tédio.
Há uma vontade, imposta pelo Kevin Feige, nessas séries do MCU de explorar gêneros diferentes; Mulher-Hulk tentou ser uma comédia jurídica, Ms. Marvel um coming-of-age, Invasão Secreta um thriller nos moldes do segundo filme do Capitão América e, claro, WandaVision, com seus episódios brincando com convenções de sitcoms através das décadas. O primeiro episódio de Agatha foi feito sob medida para continuar com essa esculhambação iniciada na série da Wanda, e o gênero escolhido da vez foi o noir nórdico, com direito a uma piadinha (na introdução falsa há créditos dizendo que a série é baseado em uma série dinamarquesa chamada WanvaVisdysen).
Sinceramente, o tédio é tangível durante toda a duração desses episódios. E eu comecei a tentar arranjar uma justificativa; eu não aceitava que esse estranhamento não fosse uma escolha artística e sim um produto do pouco esforço feito durante a produção da série. O roteiro, as atuações, a direção, a trilha sonora, é como se todo mundo envolvido estivesse no piloto automático, dando nada de si. Uma equipe e elenco unidos pela preguiça, que transborda nessa narrativa insossa. Então, pensei que esse aspecto tedioso fosse apenas um jeito de emular a atmosfera fria e o tédio existencial que são os alicerces do noir nórdico (pense em Millenium: Os Homens que Não Amavam As Mulheres). Mas apenas o primeiro episódio adota essa estética, no segundo já estamos de volta ao padrão e ainda assim a chatice prevalece.
Kathryn Hahn só sabe fazer caras e bocas, que acabam sendo meia-boca. Uma atuação tão insincera quanto os diálogos que ela é obrigada a dizer. A qualquer momento eu esperava um revirar de olhos, mas um cachê de milhões deve fazer a maioria aguentar uma tortura como essa. Mas se a Hahn pelo menos não tenta tentando, a Aubrey Plaza não tenta mesmo, sempre com a mesma cara de bunda em toda cena, a mesma voz insípida e monótona que espelha a própria série. Deixo aqui meus parabéns para o Joe Locke por sua incrível interpretação como Twink Gótico #1. Um dos melhores personagens da Marvel que com certeza não é o Wiccano.
E fica mais notável no segundo episódio, que é prejudicado por não ser uma parodiazinha, a falta de uma história de verdade. Não importa as consequências para futuros filmes e séries da Marvel, nada deve fazer valer a pena ver algo completamente perdido e sem propósito assim; não há o que esperar de uma série que foi encomendada por causa de uma música que viralizou no TikTok. Essas fases estão sendo tomadas por um marasmo que vai se acentuando a cada novo produto, todos definidos por personagens rasos em destaque e as mesmas ameaças de sempre fazendo com que cada novo fim do universo ou multiverso consecutivo pareça menos empolgante e apenas mais uma terça-feira. Até Guerras Secretas só o que restará do público será uma familiaridade que irá transformar o filme-evento em uma chatice. Ou não. Achar que as pessoas não irão amar cada referência banal é ter muita fé.
Mas se houve algo positivo nesses episódios, esse algo é a lição que aprendi e que nunca esquecerei: não há nada ruim que não possa piorar.
Nota: 2
Postar um comentário