Cheio de boas intenções, o novo filme de Ken Loach desperdiça chances de abordar assuntos importantes com uma narrativa convencional e sem qualquer inspiração.
O Forúm Nerd foi convidado para assistir o filme em uma cabine de imprensa á convite da Synapse Distribution.
O dono de um pub luta para manter seu negócio vivo em uma cidade decadente. Quando refugiados sírios começam a ocupar as casas vazias da região, a tensão aumenta e a união dos habitantes locais é colocada à prova.
Uma pauta bem recorrente no mundo de hoje são os “problemas” gerados com o aumento de imigrantes vindos de países do oriente médio, que buscam fugir de guerras e ter uma vida digna, para países da Europa e querendo ou não mudam muito a sociedade local. Seja nos EUA com os mexicanos, ou no Reino Unido e Portugal com sírios. Essa chegada deles somado a uma decadência sócio-política e econômica que tem se alastrado pela Europa causam ataques e mais ataques a essa população.
E aqui temos mais uma história assim, com uma recém comunidade síria que se muda para uma cidade decadente no Reino Unido que sofre diversos preconceitos de parte local dos moradores que a qualquer custo jorram os seus preconceitos e olhares em cima deles, exceto com o dono do último pub da cidade, TJ (Dave Turner), que mostra um pouco de simpatia por eles.
Conforme tudo vai avançando, temos um ritmo lento, convencional e divertido pra falar a verdade, que vai mostrando a rotina de cada um e “os corres” que todo mundo tem. TJ tentando administrar o bar e a sua vida caótica e até vazia que leva, sempre tendo que aguentar os comentários dos clientes costumeiros e reprimindo os seus reais sentimentos, apenas tendo paz e felicidade quando está perto dos novos moradores da cidade.
Em “Você Não Estava Aqui” , o seu último brilhante filme de 2019, Loach trabalhou brilhantemente todos os seus personagens e suas críticas ao sistema capitalista que serve como um grande moedor de carne do trabalhador. Até mesmo os personagens que serviam como os “vilões” eram tratados de uma forma mais dúbia e sem cair para uma caricatura superficial como vemos nesse filme.
É claro que esse tipo de gente tem que ser mostrada como realmente são: baixos, patéticos, mesquinhos e hipócritas. Mas as melhores histórias são aquelas que sabem trabalhar o lado humano sem deixar muito caricato. A jornada de TJ é simples mas bem eficiente, e a construção da cidade e das pessoas decadentes é sim bem genuína e interessante. Mas todo o arco da população “mudando de lado” e tentando melhorar, pra chegar naquele final é risível de tão vazio e fora da realidade que é.
Ken Loach (Eu, Daniel Blake, Ventos da Liberdade) é um cineasta britânico muito respeitado por seus filmes lindos que abordam questões sociais importantes como a luta de classes, pobreza e direitos trabalhistas. Por ser filho de operários sindicalistas, ele dedicou a vida e carreira como cineasta para lutar e fazer denúncias a favor da classe trabalhadora e dos oprimidos, e gerou uma grande cinematografia de filmes importantes.
Como disse, sou um grande fã do trabalho do diretor e é claro que um novo filme seu é sempre bem vindo. Loach não é necessariamente conhecido pela sua técnica, e sim por explorar essas histórias intimistas e humanas, sempre mesclando bem os personagens humanos com as cidades do Reino Unido. E aqui ele repete essa fórmula usando esses personagens para dar vida a essa pacata e decadente cidade do Reino Unido. Um destaque bem positivo no entanto para o trabalho do cinematógrafo Robbie Ryan (Pobres Criaturas, História de um Casamento) que ajuda a transformar esses ambientes em quase seres vivos.
Já o elenco tem pouco destaque ou nomes grandes, mas o que realmente chama atenção são as interpretações da dupla principal vivida por Dave Turner (Eu, Daniel Blake) e a novata Ebla Mari. São duas interpretações singelas e humanas que fazem justiça a esses personagens e deixam tudo no filme mais palpável.
“O Último Pub” é um exercício interessante mas pouco criativo sobre problemas sociais bem relevantes como preconceito e imigração na Europa. Ele se destaca pela abordagem humana e sincera de Loach e as interpretações dos protagonistas, mas deixa uma sensação de vazio e decepção por conta da premissa e currículo do diretor, que já entregou trabalhos mais competentes e marcantes.
Nota: 6
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