Apesar da pausa desnecessária e final decepcionante, Invencível continua se mostrando ser uma das melhores e mais consistentes séries da atualidade.

A história segue o jovem Mark Grayson, filho de um super-herói, Mark descobre que possui seus próprios poderes e tem que enfrentar um conquistador que possui planos de escravizar a humanidade.

Invencível foi um dos maiores hits recentes da Amazon Prime Vídeo. Baseada nos quadrinhos da Image Comics criados por Robert Kirkman (The Walking Dead), Cory Walker (Destroyer) e Ryan Ottley (O Espetacular Homem-Aranha), a animação retorna quase 3 anos depois da sua primeira temporada, que pegou as pessoas de surpresa pela sua qualidade de roteiro e “novo olhar” de um mundo de super-heróis.

O que eu realmente gosto de Invencível é como ele é simplesmente uma grande homenagem ao gênero de super-heróis, sem ter vergonha de ser rídiculo e abraçando todos os tropos de um gibizinho de heróis. E ainda consegue manter um texto bem acima da média com muitas reviravoltas e desenvolvimento de personagens que te faz simpatizar e se afeiçoar por eles;

A temporada continua após os eventos chocantes da primeira, com Mark lidando com o fato de seu pai ter revelado toda a verdade do Império Viltrumita, tentando se achar como um herói e lidar com a sua partida. Todo o plot dele se achando como um herói é bem legal e cativante (afinal, Mark é um personagem cativante), mas a desconexão e falta de foco em toda a guerra com os Viltrumitas é bem estranha e… pouco aproveitada??? 

Deveria ser algo bem importante mas parece que o próprio império não se importa direito com a Terra, e dado a todas as informações que tivemos, era de se esperar que teria um senso de urgência maior.

Mark sofre por vários arcos. A aceitação de seu destino como herói, o relacionamento conturbado com Amber que escala para uma discussão um pouco manjada mas bem interessante sobre a vida pessoal de um super-herói, todas as revelações seguintes sobre seu pai e a decisão sofrida que tem que tomar no último episódio só fazem ele crescer ainda mais.

Allen que foi um personagem bem divertido da temporada passada finalmente começa a ganhar uma função maior e de fato se mostra a cola entre a Terra e todo o plot da aliança galáctica contra os Viltrumite. Suas piadas e personalidade funcionam e sempre que ele aparece deixa os episódios bem mais divertidos, inclusive o episódio que tem mais destaque é bem chocante e bem conduzido.

Particularmente gosto de todo o arco que Nolan tem através da temporada onde ele busca uma redenção sem saber o que realmente quer, já que seus sentimentos conflitantes estão fazendo ele mudar a perspectiva da vida. E essa sensação de estar perdido é o grande tema dessa temporada, já que todos os personagens estão passando por mudanças e tentando se achar na vida ou descobrir quem realmente são. E quem melhor exemplifica isso é ele e Debbie, que tem momentos sensacionais de tristeza feitos de forma tão realista que eu nem lembro de ter visto isso antes em uma série sendo retratado tão seco.

Aprecio também como personagens menores conseguem ter arcos e destaque para crescerem ainda mais. Eve tentando deixar de ser uma heroína que combate só vilões mas acaba sendo puxada de volta para esse caminho, Donald descobrindo verdades cruéis sobre si mesmo e tentando aceitá-las, o Imortal tendo toda uma crise de identidade causada por uma perda repentina, o relacionamento de Rudy com a Menina Monstro… Esses são exemplos de arcos secundários que são muito gostosos de se acompanhar, e que causam um afeiçoamento por estes personagens.

A maior novidade na temporada é o antagonista e “vilão”: Angstrom Levy, vivido pelo maravilhoso ator Sterling K. Brown (Pantera Negra, Ficção Americana). Ele começa como um personagem que tem o poder de viajar pelo multiverso e quer se tornar uma espécie de Deus com todo o conhecimento do multiverso, mas que por um acidente causado pelo Invencível, se torna em um monstro que quer se vingar de Mark. Ele é um vilão que tinha muito potencial, mas foi colocado tão de lado durante toda a a temporada que quando teve seu momento, foi relegado a diálogos e momentos bem superficiais.

O tema do multiverso já está manjado e todo mundo enjoou dessa parada após essa exposição incessante nos últimos 3-4 anos. Mas aqui sinto que foi feito de maneira simples e que de fato tem uma grande importância para a trama de Invencível e principalmente para trabalhar melhor Mark. É bem brutal e triste ver essas versões alternativas de um personagem tão querido e amável como Mark sendo retratadas como monstros, e isso é algo que vai ter ainda mais impacto nas temporadas futuras.

No geral eu sempre me pegava pensando como os roteiros e a direção são tão ágeis e sabem tornar episódios de 50 minutos em aulas de escrita e ritmo, fazendo a duração parecer ter só 5 minutos. Nesse espaço de tempo eles avançam e desenvolvem múltiplos núcleos e tramas diferentes. É claro que tem uma ou outra trama que fica mais desinteressante, mas eles nunca deixam de explorar ao máximo as possibilidades, e isso é algo que eu aprecio muito.

O elenco de voz continua sendo outro grande acerto.Steven Yeun (The Walking Dead, Okja), J.K. Simmons (Homem-Aranha 2, Whiplash), Sandra Oh (Killing Eve, Grey's Anatomy), Seth Rogen (O Rei Leão, Freaks and Geeks), Walton Goggins (Homem-Formiga e a Vespa, Os Oito Odiados), Clancy Brown (Thor: Ragnarok, Demolidor), Jason Mantzoukas (O Ditador, Lego Batman: O Filme), todos trazem sentimento e força em suas performances, enriquecendo e dando personalidade para seus personagens.

Em contrapartida, a animação continua sendo um dos pontos mais fracos de Invencível. A falta de orçamento e tempo para os animadores conseguirem criar uma animação fluída atrapalha vários momentos. É claro que as cenas de ação tem um investimento maior e ocasionalmente são bem mais vistosas de se olhar. Isso até virar um momento sensacional onde eles fazem uma piada bem metalinguística (que nem nos quadrinhos, mas desta vez para a mídia de animação) sobre esse fato, e os problemas de se fazer uma série animada tão popular.

A temporada se encerra em um confronto bem capenga entre Mark e Angstrom, que traz uma trama interessante mostrando as versões alternativas e assassinas de Mark. Mas sinto que não conseguiram atingir o real potencial que esse embate prometia, e muito menos adaptar bem um dos quadros mais icônicos dos quadrinhos. 

Pelo menos isso serviu pra dar mais uma camada para Mark que eles estava precisando, deixando seu personagem ainda mais complexo. O final envolvendo Nolan e Allen é uma boa forma de fechar a temporada e criar uma expectativa para a terceira.

A 2ª Temporada de “Invencível” continua em um nível bem alto sabendo expandir esse universo fantástico criado por Kirkman. A violência e reviravoltas na trama continuam sendo o grande chamariz para as pessoas, mas o desenvolvimento dos personagens e abordagem de temas simples como o que é ser um herói ou a natureza do bem trazem um ar único para a série. Apesar de uns deslizes, é simplesmente gostoso demais acompanhar essa série, que é uma das melhores da atualidade. Espero que a terceira temporada não demore tanto.

Nota: 8

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