Novo filme da DC entrega filme padrão de super-heróis que consegue achar sua identidade apesar de cometer mesmos erros do gênero.
Besouro Azul é um dos personagens mais interessantes da DC, tendo passado por mais de quatro editoras em sua conturbada história de publicação. Aqui vemos a terceira e mais popular versão do herói: Jaime Reyes, um herói latino que já apareceu em jogos como “Injustice 2” e várias séries animadas como “Batman: Os Bravos e Destemidos” e “Justiça Jovem”.
Existia uma tentativa de fazer o filme sair do papel há mais de uma década, e em 2020, foi confirmado que o filme estava em desenvolvimento com roteiros de Gareth Dunnet-Alcocer (Miss Bala) e direção de Angel Manuel Soto (Charm City Kings, La Granja), produzido inicialmente como um filme original do serviço de streaming HBO Max. Essa ideia foi abandonada após mudanças de estratégias da Warner Bros. com seus streamings, cortando a produção de filmes originais para plataforma, levando o filme para os cinemas.
Chegamos então finalmente à estreia do filme, com um orçamento de aproximadamente US $100 Milhões e muitas dificuldades a superar. De início vale ressaltar que os trailers e marketing fizeram um péssimo trabalho em mostrar todo o coração e qualidades do filme, vendendo algo que parecia completamente genérico e desinteressante.
É o primeiro filme de super-heróis comandado e protagonizado por pessoas latinas, e isso é o tempero que faz com que o filme do Besouro Azul tenha o mínimo de identidade. Soto tinha se mostrado um cineasta interessante com “Charm City Kings”, e aqui continua mostrando que é um nome a se ficar de olho com uma direção surpreendente e com personalidade. Ele trabalha muito bem a identidade latina do filme e as cenas de ação são surpreendentemente boas e bem coreografadas, e parabéns por ter optado por usar muitos efeitos práticos.
Xolo Maridueña (Cobra Kai, Parenthood) nasceu para interpretar o Besouro Azul, convencendo com as cenas de humor e momentos dramáticos. Ele encarna muito bem Jaime e o trabalho em adaptar os seus poderes e personalidade são diretamente tirados dos quadrinhos.
O resto do elenco é muito bem posicionado, com os atores George Lopez (As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl), Belissa Escobedo (Sex Appeal, American Horror Story), Adriana Barraza (Babel, Thor), Elpidia Carrillo (O Predador, Questão de Vida) e Damián Alcázar (As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian, Narcos: México) tendo uma química encantadora.
E não podia deixar de enaltecer a surpreendente interpretação da atriz brasileira Bruna Marquezine (Mulheres Apaixonadas, Deus Salve o Rei), que nunca fui muito familiarizado com o seu trabalho como atriz, mas ela manda muito bem e tem um inglês perfeito. Ela interpreta Jenny Kord, a filha de Ted Kord (o segundo Besouro Azul) e uma personagem que tem muito mais a contribuir para a trama do que parece.
A vilã Victoria Kord vivida por Susan Sarandon (Thelma e Louise, Encantada) e o vilão Conrad Carapax interpretado por Raoul Max Trujillo (Apocalypto, O Novo Mundo) são os pontos mais fracos do filme. Victoria é uma vilã cafona que parece sair de um filme dos Looney Tunes, caricata e superficial ao ponto em que te tira do filme toda hora. Já Carapax, um vilão clássico do Besouro Azul é desperdiçado e nem mesmo a tentativa final de dar uma camada pra ele funciona ou faz ele relevante.
O roteiro de Gareth acerta em trabalhar a família principal mas tropeça em algumas piadas que não funcionam muito bem, embora o humor geral do filme seja bem eficiente. Mas o grande calcanhar de Aquiles do filme (sem contar os vilões) é o terceiro ato caótico que não escapa das convenções do gênero em transformar tudo em uma bagunça cansativa e repetitiva, com uma luta interminável e sem saber administrar a trama, carga emocional e personagens.
Família é o tema principal do filme (e muito bem trabalhado), que abraça a comunidade latina de forma orgulhosa e bem tocante, principalmente envolvendo a conexão que temos com a morte e a visão do pós-morte. Existem no entanto discussões importantes sobre colonialismo e apropriação de terras que empresas multibilionárias cometem com essas famílias segregadas, mas nada que tenha muito aprofundamento infelizmente.
O visual geral do filme é bem padrão somado a algo que é bem inusitado em filmes atuais do gênero que são efeitos especiais bem convincentes e finalizados. O excelente diretor de fotografia Pawel Pogorzelski (Hereditário, Midsommar: O Mal Não Espera a Noite) faz o melhor para de vez em quando criar alguns shots diferentes e bacanas. Ah e não poderia esquecer da excelente trilha sonora de The Haxan Cloak (Midsommar: O Mal Não Espera a Noite, Treta), que compõe temas originais muito bons e engajantes.
Em meio às constantes mudanças da DC, existe uma promessa do novo co-CEO da DC Studios, James Gunn (Guardiões da Galáxia, O Esquadrão Suicida) é que o personagem vivido por Xolo e o elenco de apoio continuarão no novo universo DC que está sendo minuciosamente planejado, independentemente do resultado financeiro do filme nas bilheterias.
A primeira cena pós-créditos (e a que realmente vale) é óbvia e qualquer um que assiste o filme imagina que isso está por vir. Vamos torcer para que ela tenha alguma continuidade no futuro.
Apesar dos pesares, “Besouro Azul” é um honestíssimo filme de super-heróis que consegue achar uma voz trazendo representatividade para o povo latino e sabe das suas limitações e o que está propondo. Como brasileiro, eu consegui me enxergar em diversos momentos e me conectar com a família Rayes. O que realmente impede ele de alçar voo para um patamar maior são os vilões e terceiro ato convoluto, mas não tem como alguém que seja fã do gênero de heróis não se divertir com o filme.
Nota: 6,5
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