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As
produções que abordam assaltos (seja em bancos, cassinos, cofres particulares
etc.) sempre são interessantes porque, além de sua narrativa tipicamente
elegante, igualmente costumam trazer uma alta sensação de tensão, adrenalina e
ansiedade. Embora quase nunca apresentem uma plausibilidade real, é inegável
que os planos para assaltar um determinado local são inteligentes e muito bem
elaborados.
Existem
excelentes produções com essa temática. Nessa esteira, a Netflix já começou
2023 com o pé direito ao disponibilizar, já logo em sua primeira semana de
janeiro, a minissérie “Caleidoscópio”. De forma bastante inteligente, cativante
e divertida, a produção narra o evento real de um assalto, carregado de ação e
suspense; e seu diferencial é ter uma abordagem inovadora com episódios não
lineares, que podem ser assistidos em qualquer ordem, mesmo que no final acabe sendo um pouco confuso de entender.
Na trama, Leo Pap é um ladrão experiente que forma uma equipe de profissionais no ramo e planeja realizar o maior e mais épico assalto de todos os tempos. O objetivo é roubar US$ 7 bilhões de dólares em títulos bancários, cujo plano demorou cerca de 25 anos para ser desenvolvido e realizado.
Para
conseguir roubar esses títulos bancários, os ladrões precisarão enganar uma
forte equipe de segurança corporativa e a polícia, bem como tentar burlar um
sistema de proteção altamente tecnológico. O problema é que, em meio a tudo
isso, ganância, intrigas, vingança e traição entre os envolvidos ameaçam arruinar
o plano, além de colocar todos do grupo em perigo.
Criado e roteirizado por Eric Garcia (“Repo Men: O Resgate de Órgãos”, 2010), “Caleidoscópio” é inspirado em um acontecimento real sobre o roubo de US$ 70 bilhões de dólares em títulos bancários que desapareceram em Manhattan durante o furacão Sandy. Em oito episódios, a minissérie em tela mostra os eventos do assalto, que começam 25 anos antes do assalto e terminam seis meses depois.
Como
base narrativa, “Caleidoscópio” foca em Leo, um ladrão veterano interessado em
se vingar de Roger Salas (Rufus Sewell, de “O Ilusionista”, 2006), dono da
empresa de segurança SLS. Ironicamente, Roger guarda, no cofre de sua empresa,
bilhões de dólares em títulos. É a oportunidade perfeita para Leo planejar, ao
longo dos anos, o plano perfeito para conseguir contornar esse sistema de
segurança aparentemente perfeito e ficar milionário. Como Leo não consegue
realizar o plano sozinho, ele precisa reunir uma equipe de ladrões.
De forma geral, “Caleidoscópio” é um intrigante suspense de assalto real sobre uma equipe de ladrões experientes que tenta arrombar um cofre aparentemente inviolável. Porém, há um diferencial na abordagem narrativa na forma como a série é apresentada. A minissérie entrega episódios com uma narrativa não linear – ou seja, na plataforma, os episódios não estão numerados e não há qualquer indicação de uma ordem correta a ser seguida. Isso significa que a sequência em que cada episódio é assistido muda muito a maneira como a narrativa funciona e, com isso, afetará o ponto de vista de cada pessoa sobre a história, os personagens, o planejamento que envolve o roubo e os demais eventos da história.
A
produção trabalha com imersão e a ideia é que a experiência de assistir a
minissérie seja diferente para cada telespectador – assim, cada um pode ter sua
própria experiência imersiva. Os episódios têm nomes de cores diferentes e pode
ser assistido em qualquer ordem, com a recomendação de Eric Garcia em deixar o episódio
“Branco” por último. Porém, a Netflix compartilhou, no Twitter, duas formas de
assistir “Caleidoscópio”: A) a primeira forma é uma sugestão do próprio streaming;
e B) a segunda forma é a ordem cronológica dos eventos. É claro que assistir a
minissérie de forma cronológica, provavelmente, pode a maneira de entender melhor a
narrativa – mas, é importante ressaltar que não há obrigatoriedade em seguir
qualquer dessas sugestões, ficando a cargo de cada pessoa escolher sua própria
ordem de episódios.
Abordar uma história de assalto com episódios que podem ser assistidos de forma aleatória é um enorme diferencial criativo. Mas, por outro lado, “Caleidoscópio” também tem falhas. Primeiro: embora seja interessante e desafiador, o conceito de oferecer episódios fora de ordem é uma ideia que funciona melhor na teoria do que na execução. Assistir à minissérie fora de ordem cronológica apenas entrega uma trama com uma linha temporal bagunçada, além de trazer reviravoltas dispersas e descontextualizadas. Assim, fica mais difícil de conectar um fato a outro ao longo de toda uma narrativa não linear. Com isso, as grandes revelações da trama e a narrativa em si se perdem quando toda a história se desenrola aleatoriamente, entregando uma trama confusa.
Segundo:
também há uma falta de caracterização forte em quase todos os personagens.
Muitos dos personagens são, basicamente, simples coadjuvantes descartáveis que
não têm profundidade sólida, ao passo que seus arcos durante os episódios
parecem insatisfatórios. E isso ocorre, principalmente, com o relacionamento
paterno entre Leo e sua filha, Hannah. Para piorar, assistir os episódios fora
da ordem cronológica não permite que esses personagens sejam compreendidos
corretamente, da mesma forma que poderiam se a minissérie fosse entregue com
uma linha temporal linear.
Entretanto, o fato de “Caleidoscópio” não entregar episódios lineares não quer dizer que não tenha potencial para ser ótimo. Mesmo com um formato narrativo confuso, a produção consegue idealizar um evento real de assalto de forma intrigante, dinâmica e divertida. Mas, para alcançar o resultado pretendido, Eric Garcia precisa contar com muita criatividade para conseguir prender a atenção do público – mesmo entre os que fazem questão de acompanhar produções que obedeçam a linha do tempo corretamente. Desta maneira, Garcia tem um árduo trabalho de roteirizar todos os episódios de modo que pudessem ser assistidos aleatoriamente.
“Caleidoscópio”
é classificado como uma série antológica, devido à enigmática e diferenciada
abordagem narrativa não linear de contar um evento real sobre assalto com um
começo, meio e fim (mesmo com uma linha temporal dispersa). Com isso, a grande
questão é: essa abordagem narrativa funciona? A resposta é: depende! Depende
das expectativas de cada telespectador e do tipo de experiência que ele quer
ter ao escolher a forma como quer assistir os episódios. E é justamente neste
ponto que Eric Garcia acerta ao apresentar uma abordagem narrativa criativa e
diferente.
No geral, “Caleidoscópio” é uma minissérie de assalto inovadora, dinâmica e cheia de adrenalina, que mantém o público imersivo e intrigado ao longo de cada um dos episódios. A minissérie funciona muito bem de várias formas e experiências diferentes, incluindo com a brilhante atuação de Giancarlo Esposito (que interpreta o personagem Moff Gideon na série “The Mandalorian”). Com isso, a minissérie em tela, definitivamente, tem um gancho narrativo novo, atraente e que vale a pena ser assistido.
A
ideia de que uma história pode ser abordada a partir de vários pontos diferentes, ser
assistida em qualquer ordem e ainda fazer sentido é uma abordagem narrativa
elegante e chamativa. Mas, infelizmente, o enredo, como um todo, se perde com
uma linha temporal confusa ao apresentar episódios fora de ordem. Ainda assim, a estrutura narrativa não linear
pode tornar “Caleidoscópio” uma das minisséries mais criativas da Netflix no início de 2023 – mesmo que não consiga alcançar o patamar de ser uma produção fortemente memorável por muito tempo.
“Caleidoscópio” está disponível na Netflix.
Nota: 8.0
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