O Amante de Lady Chatterley entrega um romance de época erótico, que exalta a importância da apropriação do corpo pelas mulheres.
Romances de época trazem consigo um encantamento peculiar. Em geral, são cercados por uma atmosfera quase etérea, na qual acompanhamos paixões quase sempre proibidas pelas normais sociais vigentes. No filme da crítica de hoje a história a ser contada segue essa premissa, embora traga algo não tão comum assim: o elemento erótico.
O Amante de Lady Chatterley (Lady Chatterley's Lover) é um romance dramático dirigido por Laure de Clermont-Tonnerre com roteiro de David Magee baseado no famoso livro de mesmo nome de DH Lawrence cuja primeira publicação data de 1928.
Dado o sucesso dessa obra e todo o seu simbolismo, várias versões dessa história já foram traduzidas para o cinema. A película dessa crítica foi lançada em alguns cinemas no dia 25 de novembro de 2022 e chegou ao catálogo da Netflix em 2 de dezembro. Vale salientar que a classificação indicativa desse filme é 18 anos.
Sua história se passa no início do século XX e acompanha a vida de uma jovem, Connie, interpretada por Emma Corrin, que se casa com o rico aristocrata Clifford (Matthew Duckett) tornando-se assim Lady Chatterley (Emma Corrin). Quando seu esposo é chamado para servir na guerra, ele acaba ferido e perde o movimento das pernas. Ao retornar para casa, Clifford se torna inteiramente dependente de sua esposa. Em busca de um herdeiro, ele propõe que Connie se deite com outro homem. Mais tarde, ela inicia um caso tórrido com o guarda-caça da propriedade, Oliver Mellors, (Jack O'Connell) por quem se apaixona perdidamente.
Em meio a uma fotografia de tirar o fôlego, propriciada pelas incríveis locações no País de Gales, acompanhamos a interessante construção de um matrimônio, que muda de figura a partir do momento em que o amor deixa de existir e é substituído pelo fardo da obrigação.
Seguimos uma jovem devota se cansando de uma vida na qual ela é a única a ceder e se sacrificar, abrindo mão das coisas que ama para cumprir as funções de esposa e cuidadora em tempo integral. E é justamente na exaustão de sua rotina de servitude que ela encontra em Oliver, funcionário da família, a janela para o novo e para o conhecimento de si mesma.
Em paralelo, acompanhamos Clifford, que a princípio demonstra um perfil progressista, se tornar pouco a pouco um marido tóxico e abusivo, que se preocupa apenas consigo mesmo em detrinemento de todos os que o cercam.
É incrível como um romance de 1928 pode ser tão moderno. Vemos o explorar do corpo e do sexo de uma forma selvagem e ao mesmo tempo doce graças à direção assertiva de Laure de Clermont-Tonnerre. Não há vulgarização, ao contrário, é lindo de ver como Connie se apropria de seu próprio corpo a medida que inicia sua relação com Oliver.
Emma Corrin, que ficou conhecida por interpretar a princesa Diana durante a quarta temporada de The Crown, está divina no papel de uma mulher a frente do seu tempo, que busca prazer e libertação em uma época patriarcal onde a mulher era vista como mera reprodutora.
Jack O'Connell foi uma ótima escolha para interpretar um homem reservado e que se abre para o mundo quando conhece Connie. A química entre os dois garante cenas quentes e belíssimas. É o acerto do elenco que permite a essa história simples, onde pouca coisa acontece, se sustentar. Uma das cenas mais marcantes de se ver no longo é a sequência de dança na chuva. A nudez frontal dos protagonistas pode espantar os mais conservadores, mas a forma como ela é conduzida funciona muito bem e condiz com a proposta.
Ainda que carregado de encantos e acertos, não dá pra negar que o ritmo é algo que incomoda. Temos um filme longo e repetitivo, onde pouca coisa acontece de fato. A trama da mina, por exemplo, que poderia render um arco interessante, vem de maneira superficial, tal como outros arcos que poderiam endossar e tornar o enredo mais intrigante e dinâmico.
Em meio a tudo isso, é importante ressaltar que temos de pano de fundo um debate social importante. Ainda que em outro século, temos a indigesta tarefa de vermos a exploração trabalhista e a desumanização da classe trabalhadora por parte da aristrocracia.
O Amante de Lady Chatterley é um filme lento, mas convincente dentro da sua proposta. Emma Corrin chama novamente atenção e aos poucos consolida seu espaço na indústria. Para os apreciadores de histórias mais picantes, é uma boa pedida.
Nota: 6,5
Postar um comentário