"Pantera Negra: Wakanda para Sempre" faz um tributo emocionante à memória de Chadwick Boseman e trilha um caminho consistente no futuro do MCU.
Em 28 de agosto de 2020 fomos pegos de surpresa pela morte de Chadwick Boseman, brilhante ator que deu vida ao Pantera Negra no longa de 2018.
Após o mundo tentar lidar com essa triste notícia, não demorou para se iniciarem os primeiros questionamentos sobre o destino do importante personagem do universo compartilhado da Marvel. Algo que se tornou praticamente consenso é que Boseman e seu personagem T'Challa eram simplesmente insubstituíveis. Logo, cabia ao estúdio pensar numa alternativa para dar sequência à narrativa do rei de Wakanda.
Assim que Pantera Negra: Wakanda para Sempre foi confirmado, as especulações sobre quem herdaria o manto do herói imediatamente começaram a surgir e, ao longo das filmagens, inúmeras polêmicas cercaram o set, uma vez que a pandemia estava em curso e a atriz Letitia Wright se posicionou como sendo antivacina. Entre vários adiamentos, o longa foi então finalizado.
Com ameaças de boicote, cabia a Marvel entregar um marketing competente que resgatasse a confiança desse público insatisfeito. Dessa forma, a fim preparar a audiência, os produtores optaram por deixar evidente, antes mesmo do lançamento, que seria Shuri (Leticia Wright) aquela a herdar o manto do Pantera. A estratégia funcionou.
Pantera Negra: Wakanda para Sempre é dirigido por Ryan Coogler, que co-escreveu o roteiro juntamente com Joe Robert Cole. Kevin Feige, como de costume, assina a produção. Ruth E. Carter vencedora do Oscar na categoria melhor figurino com o primeiro longa retorna, da mesma forma que Hannah Beachler vitoriosa na categoria de Direção de Arte.
A história traz Wakanda lidando com a perda de seu Pantera Negra. A resiliência e o luto são, portanto, elementos perenes no transcorrer do longa. Enquanto lidam com essa dolorosa perda, Wakanda é vista como desprotegida pelo mundo exterior que busca a todo custo Vibranium ao redor do planeta. Essa busca surge como uma ameaça a um reino subaquático até então desconhecido cujo líder é denominado Namor (Tenoch Huerta).
Temos o encerramento da Fase 4 do MCU justamente com o melhor filme dos últimos anos. Ryan Coogler é novamente assertivo ao construir sua trama e não deixa de lado o debate social, ao levantar questionamentos importantes com relação a colonização que subjuga e escraviza os povos.
Desta vez, o diretor teve a difícil tarefa de incorporar um drama mais profundo à sua história, sem ocultar os demais gêneros. Então espere humor, mesmo que de forma dosada, e muita ação, com sequências de luta eletrizantes. Para algumas pessoas a persistência na temática do luto pode parecer um excesso, mas temos que compreender que o luto pode ser vivido de maneiras diferentes e naquele contexto é mais do que razoável imaginar o pesar como uma sombra difícil de desaparecer.
A estética do filme novamente encanta. Ruth E. Carter capricha no simbolismo das tonalidades, se valendo do branco como elemento conectante de seus personagens com sua ancestralidade e na representação da morte. Espere as cores vivas do filme de origem também que viraram marca registrada. O novo uniforme da Pantera Negra acerta no visual ao incorporar o dourado. Os trajes da Coração de Ferro, bem como os das Dora Milaje de Wakanda também impressionam.
É quase imediato relacionar a tonalidade dos guerreiros de Namor aos na'vi da franquia Avatar. No entanto, nada que atrapalhe a experiência. Um bom recurso que ajudou a disassociar um pouco dessa ideia foi agregar acessórios da cultura mesoamericana ao figurino.
A trilha sonora original, que rendeu Oscar no primeiro filme, impressiona novamente e Lift me Up, canção interpretada por Rihanna foi de fato uma excelente escolha. Ela transmite a mensagem solene do filme e é, sem dúvida, uma forte candidata a entrar na temporada de premiações como melhor canção.
O CGI entrega um ótimo resultado, fora uma ou outra cena, ao contrário dos últimos filmes do estúdio, mostrando que houve um cuidado especial com essa produção. O grande destaque do longametragem, todavia, vai para seu elenco. Temos atuações poderosas e momentos que arrancam inadvertidamente lágrimas. O grande nome do longa é Angela Basset. Sua personagem Ramonda sabe se impor e comover como ninguém e, sobretudo, consegue traçar um contraponto inteligente entre a força e a vulnerabilidade.
Namor é de longe um dos melhores personagens introduzidos até agora pela Marvel na fase 4. Tenoch Huerta tem a essência de Killmonger ao entregar aquele perfil de vilão anti-herói que consegue conquistar prontamente, já que de certa maneira nos engajamos com suas motivações. É no plot dele, contudo, que o excesso expositivo de seu contexto histórico pode incomodar e soar como confuso. Além disso, as conversas entre Shuri e Namor nem sempre chegaram fundo como deveriam.
Danai Gurira entrega uma divertida Okoye, que é o alívio cômico do longa, mas que também entrega uma das cenas mais intensas. Ao lado dela, Dominique Thorne introduz a jovem Coração de Ferro, que além de divertida e inteligente, é ousada. Seu traje revive na nossa memória nosso querido Tony Stark. A sequência de ação que envolve Shuri, Okoye e Riri é uma das melhores do longa. Mas é importante ressaltar que esse filme está longe de dar uma introdução à Coração de Ferro, afinal sabemos que teremos a série pra fazer isso da forma apropriada. Nakia está de volta com uma interpretação incrível de Lupita Nyong'o.
A resposta é SIM! A história foi coesa ao passar o manto. Junto dele vem uma série de questões emocionais que são trabalhadas por mais da metade do longa e uma vez como Pantera Negra, ela mostra que tem competência para tal e dá a sua própria personalidade ao personagem. Lembrando que Chadwick é insubstituível!
A cena pós-créditos não é um simples filler. É importante para traçar os destinos do personagem no futuro do MCU e novamente dá aquele nó na garganta.
Não dá pra dizer que Wakanda para Sempre inovou, ou até mesmo superou seu antecessor (chegou perto). A sensação aqui é a de que a Marvel sabe ainda entreter com propriedade, sem abrir mão dos sentimentos, resultado de um elenco acima da média e direção competente. Após uma jornada de tropeços nos últimos anos, nada mal heim?
Pantera Negra: Wakanda para Sempre é muito mais que um filme de herói. É representatividade, luta, cultura. O filme exala sinceridade, emoção e isso transcende a tela.
Nota: 9,0
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