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O que dois assassinos condenados no corredor da morte, uma jornalista, um pedófilo, uma professora particular de matemática, um vigário e seu filho adolescente têm em comum? Aparentemente, nada! Mas, por um acaso infeliz do destino e pelo desenrolar de situações equivocadas e desentendimentos, todas essas pessoas acabam se interligando de uma maneira cada vez mais complicada.

Conforme cada peça se encaixa no quadro, “Inside Man” se mostra cada vez mais inteligente e cativante. A minissérie de apenas quatro episódios (com cerca de uma hora cada) é uma produção original da BBC criada por Steven Moffat (“Sherlock”, 2010), que narra as histórias de todas essas pessoas que, aparentemente sem conexão alguma, acabam se cruzando e se juntando pouco a pouco como um quebra-cabeça – fazendo, assim, uma análise de uma ideia distorcida sobre justiça e moralidade.

Na premissa, qualquer pessoa pode ser um assassino com um bom motivo e um péssimo dia. Jefferson Grieff (Stanley Tucci, de “Quanto Vale?”, 2021) é um renomado criminologista condenado à morte pelo assassinato da esposa, ter decapitado e escondido a cabeça dela. Com isso, ele é prisioneiro no corredor da morte nos Estados Unidos. Como forma de buscar redenção antes que seja executado, Grieff gosta de passar o tempo livre resolvendo mistérios; assim, ele aceita fazer consultas para pessoas envolvidas em misteriosos casos aparentemente sem solução.

Enquanto isso, em um trem na Inglaterra, a jornalista Beth Davenport está em busca de uma nova história – e acaba encontrando uma. Assim, ela busca a assistência de Grieff para tentar encontrar uma mulher desaparecida. A trajetória deles se cruza com a do vigário anglicano Harry Watling, em um vilarejo da Inglaterra, que se encontra em uma situação equivocada e complicada com Janice, a professora particular de matemática de seu filho, após uma confusão de informações erroneamente interpretadas entre eles. Com isso, o destino dessas quatro pessoas se cruza e eles enfrentam dilemas que podem levar a um crime muito grave.

Inside Man” é uma minissérie de suspense tensa e misteriosa, que se baseia em uma série de decisões catastroficamente ruins feitas ao longo dos seus episódios – e que vai piorando cada vez mais. Com base nessa premissa, o mistério entrelaçando todos os personagens em sua narrativa ajuda a construir um roteiro muito bem elaborado.

Além disso, o título da produção (“Inside Man”, em tradução livre, seria “homem de dentro”) é um ótimo trocadilho, dentro do contexto da narrativa. Na trama, Grieff é um criminologista que está preso no corredor da morte no Texas pelo assassinato e decapitação da esposa que, por razões não explicadas, tem permissão para prestar assistência jurídica e ajudar pessoas a solucionar crimes e eventos aparentemente inexplicáveis, enquanto aguarda a execução. Isso faz de Grieff um “homem de dentro” – tanto no sentido de dentro da prisão quanto no sentido de estar por dentro dos casos para solucionar os crimes. E esse trocadilho ajuda a construir a premissa básica da série.

A produção tem uma temporada curta, com um total de episódios reduzidos pela metade – se comparado com outras minisséries, que costumam ter o dobro de episódios –, mas ganha destaque com suas performances impecáveis e temas pesados, ​​contados a partir de um enredo simples, porém bastante intrigante e tenso. Com apenas quatro episódios, a narrativa não perde tempo: já logo no começo do primeiro episódio, todos os elementos narrativos são apresentados e estabelecidos com a mecânica da trama geral e, a partir disso, desenrola-se todas as consequências subsequentes.

O criador de “Inside Man”, Steven Moffat, usa o corredor da morte e a casa do vigário como dois pontos principais da trama para manter uma narrativa equilibrada. O ponto de vista pelo qual o enredo é narrado se mostra completamente misterioso, tenso e suspeito, pois não há grandes revelações relevantes até seu desfecho. Com isso, o intenso jogo de gato e rato que acaba se estabelecendo, com ritmo hábil, entre personagens que muito pouco (ou nada) tem a ver entre si acaba apresentando uma das filosofias mais conflitantes sobre moralidade e justiça.

Essa linha narrativa que Moffat estabeleceu envolve pessoas tão improváveis quanto a suposta ideia absurda por trás dela. O vigário Harry, um homem de Deus, é uma das pessoas menos suspeitas de se ver obrigado a aprisionar uma pessoa no porão de casa por causa de mal entendidos e decisões equivocadas que pioram cada vez mais – ao mesmo tempo em que ele se mostra como uma das pessoas mais burras a reagir em situações desesperadas e tomar decisões desnecessariamente estúpidas. Por outro lado, o criminologista Grieff, um condenado à morte não tão santo assim, é o gatilho que impulsiona a trama paralela ao dar assistência jurídica às pessoas que necessitam de sua ajuda. A única coisa que, talvez, assemelha os dois personagens é que nenhum deles atendem muito critérios de valores morais e de justiça; isso dentro do contexto das circunstâncias em questão.

Porém, ao entrelaçar essas duas premissas em um suspense de detetive eficaz com um inesperado sequestro (e cárcere privado), nenhuma das histórias apresentadas pela produção ganha fôlego suficiente para se sustentar por mais do que apenas 4 horas de duração. O que é uma pena, pois quase chega a ser um desperdício de enredo apresentar uma história sem muita base sólida que possa conseguir se desenrolar com maior profundidade e por mais tempo; ou seja, com, pelo menos, mais três ou quatro episódios.

A atuação de Stanley Tucci está brilhante e surpreendente. Tucci é um dos atores mais talentosos que existem e, em “Inside Man”, ele entrega uma performance completamente envolvente com um personagem complexo, frio, calculista e intrigante. É um papel que poderia ter sido interpretado por qualquer outro ator, mas, definitivamente, se encaixou muito bem com Tucci. De forma carismática e cativante, o ator convence bastante, funcionando como uma mistura elegante de Sherlock Holmes com Hannibal Lecter, que, com uma inteligência extraordinária, faz grandes deduções e se mostra como um excelente profissional da criminologia.

O resto do elenco principal também está excelente – principalmente Dolly Wells e David Tennant – e faz seu melhor para entregar atuações com o máximo de emoções possíveis; o que ajuda bastante a aumentar a tensão na narrativa. A cena de abertura de “Inside Man” é uma sequência muito bem elaborada, apresentando Janice como uma personagem inteligente, forte e estratégica. Apesar do alto carisma de Tennant, é difícil sentir muita simpatia pelo infeliz vigário – cujo idealismo e senso de proteção foram justamente os elementos que o levaram a tomar decisões muito ruins e, consequentemente, levando-o à ruína. Por outro lado, Lydia West faz o mínimo em tela, mas, ainda assim, consegue convencer com sua personagem que se compromete com seus ideais e que continua lutando para descobrir a verdade.

Os argumentos sobre moralidade e justiça através dos pontos de vista de Grieff e do vigário Harry certamente trouxeram um lado intelectual ao seriado. Apesar de ser um thriller de mistério, o maior destaque de “Inside Man” é a questão de valor moral e de senso de justiça, que podem ser facilmente distorcidos e, assim, levando pessoas a cometerem crimes. A produção entrega esses dois elementos narrativos de uma forma não muito perceptível logo no começo da série, mas, sim, à medida que a narrativa se desenrola e se tornando cada vez mais definida ao longo dos episódios – o que é muito benéfico para a série em geral. Com isso, a série em tela apresenta uma premissa intrigante e atuações excelentes. Detalhe para o fato de que o último episódio contém uma cena pós-crédito.

É certo que há elementos da trama que parecem um pouco forçados. As atitudes ruins cometidas por pessoas boas se tornam o gancho central da série, sendo considerado um elemento narrativo dramaticamente rico, mas com desfecho desperdiçado. O resultado final se torna um pouco presunçoso e, em grande parte, um desperdício de diálogo inteligente e de elenco talentoso. Assim, “Inside Man” apresenta toda uma ideia que gira em torno de um grande e insano mal-entendido, que faz com que seus personagens passem por muitos obstáculos tensos para serem críveis – e, apenas, para se perderem com um desfecho grosseiro e pouco gentil.

Inside Man” está disponível na Netflix.

Nota: 8.0

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