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A Hora do Desespero desperdiça Naomi Watts e entrega um roteiro que apesar de ter muito a dizer, escolhe dizer muito pouco.

O porte de armas é uma pauta em evidência nos Estados Unidos que vem sendo debatida incansavelmente nos últimos anos, sobretudo pelo fato do país ter um histórico (infelizmente) de tiroteios em massa, especialmente em escolas. O suspense da crítica de hoje, como verão a seguir, tem como cerne essa triste temática.

A Hora do Desespero (The Desperate Hour) é um suspense dirigido pelo australiano Phillip Noyce, conhecido por thrillers como O Colecionador de Ossos e Salt. O roteiro fica por conta de Chris Sparling. Naomi Watts além de estrelar o longa, é um dos nomes que assina sua produção. O filme teve sua estreia nos cinemas pela Roadside Attractions e Vertical Entertainmentem no dia 25 de fevereiro de 2022 e  mais tarde chegou ao catálogo da Amazon Prime Video.


Na trama Naomi interpreta Amy Carr,  uma mulher que lida com a morte de seu marido e que recebe a notícia de que a escola de Ensino Médio onde o filho estuda foi invadida por um atirador. 

O primeiro grande problema do filme começa por sua escolha narrativa, que até pode parecer arrojada inicialmente, mas não se sustenta nem durante o primeiro terço do filme. Quando Amy recebe a notícia de que o filho pode estar em perigo real, ela está a muitos quilômetros de casa, já que sua atividade física diária é a corrida. A partir daí, praticamente 100% da trama é desenvolvida em um mesmo cenário, que é Amy na floresta tentando chegar ao local onde seu filho vem sendo mantido refém.

Dessa forma, as informações que recebemos sobre o atentado em si são exclusivamente pelo celular de Amy. E o que a princípio consegue gerar tensão, se torna desinteressante tamanha a repetição situacional. Vale salientar, que o longa foi filmado em Ontário, o que garantiu visuais incríveis de natureza, mas que eventualmente cansam pela dinâmica repetitiva do enredo e roteiro pobre.

O filme parece uma corrida sem fim que cai rapidamente nos jargões pra lá de batidos e previsíveis a cada metro corrido. Cada novo obstáculo para a protagonista cumprir seu objetivo, que é chegar à escola de seu filho, mostra que a história apesar de ter muito a dizer, escolhe dizer muito pouco.

Temos  o famoso "tudo dá errado", enquanto sabemos o quão improvável é, em pleno 2022l, alguém escolher por puro prazer fazer o trajeto de uma maratona em seu "jogging" diário, ou não conseguir uma carona sequer, ou um carro por aplicativo quando mais precisa.


Naomi Watts é referência quando se fala de tensão. Protagonizou o sucesso O Chamado e desde então não parou. Foi indicada ao Oscar pelo filme de catástrofe, O Impossível, onde entrega uma performance visceral, esteve a frente de King Kong e mais recentemente protagonizou a minissérie da Netflix, Bem-Vindos a Vizinhança. Mas nem mesmo todo o talento da experiente atriz foi capaz de salvar um roteiro tão fraco e uma montagem beirando ao amadorismo.

O filme é quase um monólogo da personagem, enquanto o desejo de quem assiste é acompanhar o  atentado propriamente dito, ou ao menos experienciar um pouco da ação. Um exemplo de uma escolha assertiva usando a mesma temática é o filme também disponível no catálago da Amazon Prime Video, A Vida Depois. Nele assistimos menos de dois minutos do atentado em si, mas a cena é tão bem feita e pungente que seu objetivo é atingido com sucesso e deixa rastros por todo o resto da narrativa. Em A Hora do Desespero falta informação, falta o algo mais. Falta coragem para o debate. Nem mesmo o celular é capaz de nos mostrar imagens ou vídeos de algo intenso e os diálogo são pobres de emoção e validação.

Até mesmo a forte mensagem sobre a questão das armas surge apenas como um ato quase burocrático  que se perde em meio a uma fala pouco enfática. O luto que era outra pauta significativa também não marca como deveria, pois é tratado quase de forma genérica.

O roteiro de Sparling combinado a uma direção pouco inspirada de Noyce geram, portanto, uma problemática trama que trata de algo tão importante da forma mais vazia possível.

A Hora do Desespero causa desespero. Um desespero que se confunde com a ansiedade de se chegar aos seus créditos e constatar seu fim.

Nota: 4,0

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