A sequência abraça seus clichês e excessos, entregando um filme cativante e, o mais importante, divertidíssimo.


O primeiro Enola Holmes é uma uma figura singular dentro do catálogo da Netflix, haja vista que foi idealizado (e orçado) para as telonas. No entanto, não poderia ter encontrado lar melhor do que a gigante de streaming: primeiro porque é estrelado por dois queridinhos da casa (Millie Bobby Brown e Henry Cavill), e segundo porque sua estrutura e narrativa possuem a fórmula típica de outros sucessos dentro da plataforma. Assim, a combinação desses 2 fatores resultou em quase 90 milhões de visualizações em menos de 4 semanas de lançamento. Obviamente, não demorou muito para a sequência ser oficializada.


Isto posto, Enola Holmes 2 chegou ao streaming nesta última sexta-feira, 04 de novembro, na esperança de reproduzir os feitos de seu antecessor. Se irá, de fato, chegar perto dos números do primeiro, ou mesmo superá-los, é uma incógnita. Mas há, definitivamente, uma constante nessa equação: a qualidade. A sequência traz novamente o que deu certo no primeiro, ao passo que explora o amadurecimento de sua divertida personagem-título de forma bem equilibrada.


O filme começa de maneira bem ágil e certeira, sem perder tempo com exposições cansativas e, após uma breve recapitulação, já somos apresentados ao mistério central que norteia a trama: o desaparecimento de Sarah Chapman (Hannah Dodd). Aqui abro um parêntese para destacar que trata-se de uma figura histórica real, envolvida em greves contra as condições insalubres de trabalho dentro das fábricas de fósforos, bem como jornadas de trabalho exaustivas. A escolha não poderia ser mais assertiva, pois permite linkar os avanços das pautas feministas com a própria evolução de Enola enquanto uma detetive independente.



O caso de Enola acaba cruzando com o de seu irmão, o Sherlock Holmes de Henry Cavill, dessa vez com um tempo de tela considerável. O ator imprime certa personalidade no personagem, sem tentar emular os trejeitos de Robert Downey Jr ou Benedict Cumberbatch, mas sua atuação não é um grande destaque: embora nesta sequência mais da mitologia do personagem seja abordada, inclusive com o envolvimento de Moriarty, ele não chega a roubar o holofote da verdadeira protagonista. 


Na verdade, o roteiro, que é escrito novamente por Jack Thorne, consegue trabalhar muito bem os seus coadjuvantes sem prejudicar a estrela. Desse modo, há uma narrativa que extrai o melhor do universo de Enola e entrega um produto que realmente pode entreter uma gama variada do público. Aqui, não há uma necessidade de verossimilhança, ou a construção da real sensação de perigo. Sim, existem clichês aos montes, e mais conveniências de roteiro do que posso enumerar. Mas, provavelmente, talvez esse seja o sabor da obra. E é muito difícil se ater a qualquer um desses pontos quando a personagem olha diretamente para o telespectador para tirar sarro da situação.


No que concerne à direção, Harry Bradbeer faz um trabalho similar ao do primeiro longa, com destaque para as belas tomadas de Londres e o período fabril. Existe um problema de ritmo quando inicia-se o 2ª ato e, sobretudo, na virada para o 3º, ficando a impressão de que alguns minutos a menos fariam bem ao filme. Especificamente na transição para o final, a construção do clímax fica em um vai e vem constante, e quando chega, não tem o mesmo impacto. Contudo, no todo, o diretor entrega um trabalho competente e bem filmado, com destaque para as cenas de luta que aparentam ser mais viscerais do que se esperaria para um filme como Enola Holmes



O papel da detetive peculiar é, sem sombra de dúvidas, o melhor da carreira de Millie. A atriz, enfim, conseguiu emplacar outro sucesso após Stranger Things. Ela está muito à vontade no papel e, além disso, atua como produtora, o que deve ter a aproximado ainda mais da personagem, o que torna tudo ainda mais fácil e natural. Outra atriz que merece destaque é Helena Bonham Carter como a mãe de Enola, com ótimas e divertidas cenas. Louis Partridge e Susie Wokoma também retornam e são competentes como Lorde Tewkburye e Edith, respectivamente. David Thewlis, por sua vez, é a grande adição ao elenco, embora seu papel não seja dos melhores. 


Por fim, ressalto que o humor bem dosado, os personagens cativantes e a coerência mínima são o suficiente para uma distração prazerosa durante os quase 130 minutos. É de se admirar a capacidade de prender a atenção do telespectador, que se pega várias vezes tentando desvendar o mistério assim como a jovem em tela. 


No mais, estamos ansiosos pelo próximo caso a ser solucionado. 



Nota: 8,0

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