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Filmes e Minisséries (documentais ou não) de True Crime estão em alta ultimamente. O gênero, mesmo os de ficção (ou seja, os que não são produções documentais), tentam trazer uma representação fiel aos fatos ocorridos – ainda que sejam acusados de amenizarem ou mudarem alguns fatos. Porém, o que muda de uma produção para outra é a forma como a narrativa é explorada.

O Enfermeiro da Noite”, novo filme da Netflix, é um thriller policial True Crime que aborda os crimes realizados por Charles Cullen, um dos seriais killers mais prolíficos de todos os tempos. Com excelentes atuações, a produção entrega uma inquietante história real sobre assassinatos ainda injustificados ocorridos dentro de nove hospitais ao longo de 16 anos. Mas, embora seja completamente intrigante e misterioso, o longa tem uma abordagem sem muita profundidade. Ou seja, a narrativa é um tanto superficial, simplificada e rápida demais.

Na trama, Amy Loughren (Jessica Chastain, de “It – Capítulo Dois”, 2019) é uma enfermeira e mãe solo de duas filhas, em Nova Jersey, que chega no limite com a constante rotina de turnos noturnos na UTI do hospital em que trabalha. Além disso, o fato dela sofrer de uma doença cardíaca grave torna tudo ainda pior. Porém, a chegada de Charlie Cullen (Eddie Redmayne, de “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore”, 2022), um novo enfermeiro, parece dar um pouco de paz a essa rotina tão difícil e exaustiva.

O problema é que vários pacientes começam a morrer em circunstâncias estranhas. Ao suspeitar que Charlie pode ser o responsável pelas misteriosas mortes de vários pacientes e alertada pelos detetives que investigam o caso, Amy começa a reparar no comportamento do colega e arrisca a própria vida para descobrir a verdade e inicia uma arriscada investigação.

Baseado no livro homônimo (no original, “The Good Nurse: A True Story of Medicine, Madness, and Murder”), de Charles Graeber, e na história real do serial killer de Nova Jersey, Charles Cullen, “O Enfermeiro da Noite” conta a eletrizante história da perseguição e captura de Cullen, o enfermeiro que foi apontado como um dos assassinos em série mais perigosos de todos os tempos. Chamado de “Anjo da Morte”, Cullen era considerado um enfermeiro responsável, mas ninguém imaginava que estava convivendo com um serial killer.

A compulsão secreta de Charles Cullen em tirar vidas levou à morte de, pelo menos, 29 pacientes em 16 anos, espalhados por nove hospitais em Nova Jersey e Pensilvânia – embora ele seja réu confesso de 40 vítimas e se suspeite que o total de vítimas possa ter chegado a 300. Ele foi preso por dois detetives da homicídios de Newark, que tiveram o auxílio de uma enfermeira que trabalhou ao lado de Cullen e arriscou seu trabalho e a segurança da família para ajudar a polícia a capturá-lo.

Geralmente, o objetivo principal de produções True Crime é girar em torno do serial killer, e as outras pessoas envolvidas no caso costumam servir apenas como uma parte menor da narrativa. Porém, “O Enfermeiro da Noite” dá uma guinada nessa fórmula ao focar a abordagem sob a perspectiva da enfermeira que ajudou a polícia a capturar Cullen – detalhe para o fato de que essa enfermeira trabalhava no mesmo turno que Cullen e era bem próxima dele. Ao empregar essa abordagem, o filme demonstra como, às vezes (e, principalmente, neste caso), os assassinos cometem seus maiores erros ao ignorar e subestimar por demais as pessoas que estão mais próximas deles.

Talvez, seja por esse o motivo que a produção resolveu escolher tal título para o filme em questão. No caso do filme em tela, o título original (“The Good Nurse” – em tradução livre, significa “A Boa Enfermeira”) não é nenhum pouco chamativo e, a princípio, não parece ser muito adequado com a proposta. Porém, se levar em consideração que o foco principal da produção é, justamente, sob a perspectiva da enfermeira Amy (e não Cullen), faz todo sentido – mesmo que não seja um título atraente.

Diante disso, fica evidente que a protagonista principal explorada na trama é Amy e como ela ajuda a polícia, haja vista de que ela é “a boa enfermeira” – e não o serial killer, propriamente dito. Tal fato é que torna a narrativa superficial, simplificada e rápida demais, pois a produção não se aprofunda muito em explorar especificamente o serial killer, sua jornada de assassinatos ao longo dos 16 anos e em nove hospitais (tendo o filme apenas representado o último hospital ao longo da trama); nem suas motivações e nem em explicações que possam explicar o porquê Cullen fez tudo o que fez. E isso se dá pelo fato de que Cullen, que atualmente está cumprindo várias sentenças de prisão perpétua, ainda não revelou suas motivações – elemento narrativo este preservado no longa. Sendo assim, a produção faz muito pouco para analisar a mente e a jornada de um assassino em série, mesmo que sua narrativa seja muito bem elaborada e se destacando como um ótimo thriller policial.

Desta forma, o diretor Tobias Lindholm, com base no roteiro escrito por Krysty Wilson-Cairns, procurou abordar outras questões importantes ao longo da trama, tal como a intensa investigação dos policiais Tim Braun (Noah Emmerich, de “Alta Frequência”, 2000) e Danny Baldwin (Nnamdi Asomugha), que fazem um trabalho primoroso para conectar Cullen aos assassinatos nos nove diferentes hospitais. Outro ponto curioso explorado é justamente a falta de denúncia e investigação interna por parte dos hospitais em relação às estranhas e repentinas mortes ocorridas durante o tempo em que Cullen trabalhou nessas instituições de saúde – além dos excessivos rumores que ele sempre deixava para trás.

O elenco de “O Enfermeiro da Noite” é excelente e faz um trabalho primoroso. Eddie Redmayne é sutilmente aterrorizante e convence ao personificar um psicopata frio e calculista, que não demonstra qualquer senso de culpa ou arrependimento ao praticar os assassinatos – mesmo durante as escassas cenas de morte. E, ao mesmo tempo, ele ainda consegue transpor o papel do rapaz bonzinho e preocupado com Amy, estabelecendo um vínculo muito próximo com a enfermeira.

De forma extremamente brilhante e com a sagacidade de quem sabe que carrega quase o filme inteiro nas costas, Jessica Chastain entrega uma performance maravilhosamente sutil e convincente. É através dos olhos de Chastain que a narrativa se desenrola e o público pode ver as crueldades (ou, pelo menos, uma parte dela) de Cullen dentro do hospital. Além disso, Chastain e Redmayne combinam muito bem em tela; os dois excelentes atores trazem uma excelente performance juntos.

O Enfermeiro da Noite” é uma excelente combinação de thriller policial com drama True Crime baseado em uma história real que, embora não seja visualmente violento (considerando que a trama explora um serial killer que matou mais de 20 pessoas em quase duas décadas), apresenta um ritmo bastante tenso e muito bem elaborado. Com isso, a produção eleva a narrativa a um ótimo suspense que consegue se destacar pela diferente abordagem apresentada – qual seja, sob a perspectiva da enfermeira. Dessa forma, a trama transforma essa misteriosa história real sobre um perturbador assassino em série em um filme sobre como uma boa enfermeira ajudou a polícia a capturar um dos mais perigosos seriais killers.

Mas, é uma pena que tal abordagem narrativa não seja devidamente explorada com muita profundidade. Enquanto “O Enfermeiro da Noite” explora como os Conselhos Administrativos dos hospitais cometeram falhas ao permitir que alguém como Charlie Cullen se livra impunimente de seus crimes, e que até continue em sua jornada de assassinatos dentro de nove hospitais ao longo de 16 anos, o filme em tela nunca se aprofunda tanto neste lado da história quanto deveria. Isso, infelizmente, torna a narrativa um tanto superficial, simplificada e rápida demais nessa questão de explorar mais sobre a trajetória do assassino. Ao mesmo tempo, a produção ocupa a maior parte do tempo de execução explorando a relação entre Cullen e Amy, enquanto a investigação policial sobre Cullen e o encobrimento dos hospitais acerca dos fatos se desenrola.

O Enfermeiro da Noite” está disponível na Netflix.

Nota: 8.5

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