O ano é 2022 e Hollywood continua na sua busca por emplacar a próxima saga de fantasia infantojuvenil que vai acumular fãs pelo mundo todo. A nova aposta vem direto do streaming na forma de A Escola do Bem e do Mal, produção dirigida e co-escrita por Paul Feig (Missão Madrinhas de Casamento, A Espiã que Sabia de Menos) e que promete uma repaginada nos contos de fadas que conhecemos e amamos.


A trama, baseada no romance homônimo de Soman Chainani e que já conta com 6 volumes, narra a história de duas amigas rejeitadas, Sophie e Agatha, que vivem em um vilarejo pequeno demais para conter seus sonhos. No entanto, quando ambas são levadas para a Escola do Bem e do Mal, onde serão treinadas para tornarem-se heroínas ou vilãs das histórias que conhecemos, as coisas parecem sair do controle: Sophie, que acreditou a vida toda ser uma boa pessoa, é levada para a Escola do Mal, enquanto Agatha é colocada no extremo oposto, a Escola do Bem. Soa familiar? 



Se a resposta for um sonoro “sim”, não houve equívoco, pois a nova produção da Netflix é justamente isso: um amontoado dos conceitos clichês de contos de fadas diversos e outras fantasias juvenis. Se a mescla de contos remete aos primórdios de Once Upon a Time e Descendentes (temos aqui o filho do Rei Arthur e também do Capitão Gancho, por exemplo), o ambiente escolar nos leva de volta aos corredores de Hogwarts da saga Harry Potter. Na verdade, a produção como um todo soa como um filme feito diretamente para o Disney Channel em meados dos anos 2000, mas com um orçamento consideravelmente maior - o que não necessariamente é algo ruim. 


Em quesitos técnicos, as escolhas estéticas para representar a Escola do Bem sempre em tons pastel e com pessoas bem vestidas, e a Escola do Mal com maltrapilhos para todos os lados e ignorância aos montes, denota, no mínimo, demasiada infantilidade para um produto com classificação indicativa para maiores de 14 anos. Do ponto de vista narrativo, o ápice desse contraste vem na forma da “aula de embelezamento” para a Escola do Bem e a aula de “enfeiamento” da Escola do Mal. É até controverso se considerarmos que a reitora dos vilões é ninguém menos que Charlize Theron


Ainda assim, o filme consegue explorar bem a dicotomia moral de séculos entre bem e mal, e a forma como os conceitos se personificam nas escolas distintas da trama. De fato, não há como as concepções de bondade e maldade serem condensadas em mera bilateralidade. Assim, a trama acerta em desenvolver essa ideia, representada, sobretudo, na melhor cena do longa: a que Agatha confronta a professora Dovey de Kerry Washington na aula do lago. Desse modo, existe certa franqueza em retratar os indivíduos como não sendo nem inteiramente bons e nem inteiramente maus. 



E apesar dos tropeços e superada a estranheza inicial, a trama realmente consegue envolver o seu telespectador, sobretudo, o seu público alvo, pois a verdade é que o roteiro de Feig e David Magee não pretende realmente fugir das conveniências em excesso ou ser marcado por sua originalidade. Com uma boa dose de suspensão da descrença, você aceita até mesmo a mixagem de Toxic da Britney Spears no confronto final entre as escolas - o que de fato vai arrancar um sorriso seu pela completa falta de sentido.


Por isso, destaco que grande parte do mérito do entretenimento que o filme proporciona é devido ao seu elenco carismático, a começar pelas protagonistas interpretadas pelas novatas Sophia Anne Caruso, com 21 anos, e Sofia Wylie, de apenas 18. Ambas conseguem sustentar bem seus respectivos papéis por conta de seu carisma, com destaque especial para a Agatha de Sofia Wylie, mesmo que algumas decisões técnicas e narrativas coloque elas em situações embaraçosas. Ademais, o elenco de coadjuvantes é composto por nomes de peso na indústria: além das brilhantes e já citadas Charlize Theron e Kerry Washington, temos também Laurence Fishburne, Michelle Yeoh e Cate Blanchett. Apesar de alguns não terem o destaque merecido e outros serem completamente desperdiçados, como Yeoh,  todos são extremamente eficazes no que se propõe e, é claro, é sempre bom vê-los em tela. 


Em última análise, de fato, The School for Good and Evil (no original) não acrescenta nada de novo ao mundo da fantasia audiovisual, mas certamente irá conquistar uma parcela do público que ainda se diverte com romance juvenil, intrigas acadêmicas, frases de efeito bregas e uma boa dose de CGI.


Ora, e alguém esperava algo mais? 


Nota: 6,0

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