Terror slasher entrega uma trama envolvente e perturbadora.  

A Bruxa, Midsommar, Hereditário, já sabemos que a A24 sabe fazer terror de qualidade. O grande diferencial do estúdio está em incluir mais do que terror em suas tramas, ao exigir do telespectador atenção para sua complexa teia de informações, repleta de dualidades e mensagens subliminares. Em X mais uma vez a produtora ousa e entrega um longa, que como verão a seguir, tem o emblemático mind blown.


X, que no Brasil ficou intitulado como X - A Marca da Morte, é um terror slasher escrito, dirigido e produzido por Ti West, especialista no gênero.

A narrativa segue uma equipe que se hospeda em uma propriedade rural isolada, no estado do Texas, a fim de gravar um filme pornográfico. Lá, eles conhecem um misterioso casal de idosos, donos da propriedade, que logo no primeiro contato não parecem nada acolhedores.


Como pode perceber a premissa é clichê, no entanto, seu roteiro é muito bem escrito e amarrado. A introdução do longa, que foi filmado na Nova Zelândia, pode, no entanto, desagradar os mais urgentes por sangue. Pouco mais da metade do filme serve para apresentar seus personagens, suas personalidades e literalmente lançar as sementes da trama. Quando o slasher dá entrada, no entanto, vale cada segundo de investimento e temos a sensação plena de coesão.

A direção de Ti West impressiona. Ele é cuidadoso na construção de seus arcos e de quebra entrega uma fotografia belíssima, com um enquadramento de plano geral e conjunto de tirar o fôlego, vide a primeira cena do lago. Os cortes rápidos, por sua vez, criam a tensão necessária, enquanto a luz vermelha gera o contraste que ajuda a evocar o melhor do gore. 

A trilha sonora é a cereja do bolo e os mais observadores perceberão que a maquiagem é muito mais do que um mero acessório, mas também uma dica valiosa para compreender as mensagens da trama.

É quase impossível não identificar referências ao longa O Massacre da Serra Elétrica (1974), que serve como uma fonte de inspiração pra X, que se utiliza de momentos de tensão e violência de forma perturbadora e atinge o clímax de maneira arquitetada.

Outro ponto alto está em seu elenco. Mia Goth (Suspiria), protagonista da vez e chave do grande plot twist da trama, está sensacional. Ela dá vida a atriz pornô Maxine, cujo lema se baseia na crença de que ela acredita que nasceu para ser uma estrela e fará o que for necessário para atingir esse objetivo. Mia ainda é a atriz por trás de toda a maquiagem de Pearl, a senhora esposa de Howard (Stephen Ure) proprietário da fazenda.

Somam a ela outras duas grandes atuações. Jenna Ortega, futura Wandinha da série da Netflix, nome já conhecido e uma das revelações mais promissoras do circuito, mostra que é profissional na arte de gritar e gerar tensão. Ela interpreta Lorraine, responsável por auxiliar nas gravações do longa, que está inicialmente confusa sobre a proposta pornográfica, mas que surpreende com suas ações. Brittany Snow não fica atrás. Ela interpreta Bobby-Lynne, uma das atrizes do longa pornográfico e entrega uma personagem segura de si e liberta sexualmente, à frente de seu tempo. Sua voz e trejeitos são únicos e funcionam muito bem dentro da narrativa. 

Kid Cudi impressiona com o personagem Jackson e de Virgin River para as telas de um slasher, temos ainda Martin Henderson surpreendendo na pele do produtor executivo Wayne.

Temos muitas cenas de sexo, afinal de contas há um filme pornô sendo rodado, mas nada deslocado ou fora de contexto.

A mensagem sobre como algumas pessoas vivem o envelhecimento é notória. Enquanto de um lado acompanhamos os hedonistas, aqueles que seguem a premissa de viver cada dia como se fosse o último na busca pelo prazer extremo, do outro lado nos deparamos com quem sente que não viveu o que merecia, e que se vê preso ao tarde demais, ao mesmo tempo que sensura àqueles que vivem livremente. Temos ainda mensagens de luta à repressão sexual,  uma vez que o longa é ambientado na década de 1970, feminismo e, sobretudo, hetarismo e o culto estético (que ainda existem).

Mesmo com uma trama nada original, X é uma homenagem aos clássicos e encanta por sua belíssima construção, mensagens extremamente atuais e violência característica de um slasher.

Um filme prequel, Pearl , filmado em conjunto com X , será lançado em 16 de setembro de 2022. Além disso, uma sequência está em desenvolvimento.

Nota: 8,0

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