“Westworld” retorna em uma trama instigante e surpreendente, que traz ótimas atuações e uma redenção para a série.
A primeira metade da quarta temporada começa sete anos após o final da terceira temporada em 2060, enquanto a segunda metade ocorre 23 anos depois, em 2083, e é descrita como uma "odisseia sombria sobre o destino da vida senciente na Terra."
Com o começo da popularização dos serviços de streaming e um surgimento de demanda maior por séries cada vez mais grandes e que prendessem o grande público, a HBO deu mais um passo à procura de uma série que fosse tão popular quanto “Game of Thrones”, e assim nasceu “Westworld”, uma série de ficção-científica que era uma reimaginação do filme de 1973 de mesmo nome. Criada por Jonathan Nolan (Batman: O Cavaleiro das Trevas) e Lisa Joy (Pushing Daisies) e produzida por J.J. Abrams (Star Wars - O Despertar da Força), a 1ª Temporada foi um estouro e uma das melhores coisas já feitas para a televisão, a sua 2ª Temporada teve uma pequena queda de qualidade, mas a 3ª Temporada foi um completo desastre, que afastou muitos da série. Assim, muitos se perguntaram que rumo o 4º ano iria tomar.
A 4ª Temporada segue o mesmo padrão narrativo das outras temporadas, seguindo uma narrativa não linear com diversos núcleos e personagens. Assim como na 3ª Temporada, a série não segue mais os parques e acompanha o plano das máquinas para conquistar o mundo e domar/aniquilar os humanos.
O alto nível de produção é uma das caraterísticas mais inegáveis de “Westworld” (e das produções gerais da HBO). A série continua tendo um escopo gigantesco, com uma produção cinematográfica de primeira, com cenários, efeitos, e cenas de ação impecáveis. Toda essa atmosfera impressionante dá um ar cinematográfico que não deve nada aos grandes blockbusters com orçamentos gigantescos, inclusive as cenas de ação da temporada mantém a qualidade gigantesca e não devem nada a outras franquias.
Falando em direção, dá pra ver uma melhora considerável em relação à temporada anterior. Não só o roteiro é mais ágil, como eles conseguem deixar a trama mais enxuta e a duração dos episódios menor. Algo que ficou nítido em algumas séries atuais (principalmente as da Marvel Studios) é que os diretores não sabem trabalhar com cgi, mas aqui nesta temporada eles sabem utilizar os efeitos de maneira bem natural, quase nunca parecendo artificial.
Outro destaque bem positivo fica para o excelente trabalho do compositor Ramin Djawadi (Game of Thrones, Homem de Ferro), que se consagra cada vez mais como um dos melhores compositores da atualidade, além da fotografia da série que continua sendo um colírio para os olhos.
Como de praxe, o elenco de “Westworld” continua excelente. Evan Rachel Wood (Aos Treze), Ed Harris (O Show de Truman), Jeffrey Wright (Batman) e James Marsden (Encantada) fazem ótimos trabalhos, mas quem rouba as cenas da temporada são Aaron Paul (Breaking Bad), Tessa Thompson (Thor: Ragnarok) e Thandie Newton (À Procura da Felicidade). Eles finalmente conseguem explorar o incrível talento de Paul como ator dramático, e seu personagem passa por um lindo e emocionante arco. Já nas novas adições, a única realmente de destaque é a personagem vivida por Ariana DeBose (Amor, Sublime Amor), que é a doce e alegre amiga de Dolores.
Dentre os núcleos, a trama de Caleb (Aaron Paul) e a sua busca pela filha traz uma jornada emocional muito bem construída (embora o final seja bem decepcionante) e a busca de Charlotte (Tessa Thompson) são de longe as partes mais interessantes da temporada. O arco de Dolores (Evan Rachel Wood) ao longo das temporadas foi construindo uma vítima, vilã, justiceira, mocinha e agora uma possível salvadora. Ele pode parecer o mais deslocado da temporada, mas ajuda a trazer os debates filosóficos envolvendo a humanidade e a importância de histórias e narrativas da vida das pessoas. Essa ambivalência faz da personagem bem única, e uma das mais interessantes de toda a série.
“Westworld” sempre teve uma fama (um pouco injusta) de ser “muito complexa e difícil de entender”, e isso se dá não só pelos temas mas também pela insistência em contar a história fragmentada e dividir ela em núcleos que não necessariamente se passam na mesma linha cronológica. Aqui eles utilizam esse recurso mas de uma maneira mais inteligente, sendo uma cartada que traz o grande twist na trama da temporada, que é surpreendente e inesperado. Ele dá um bom gás e deixa toda a temporada ainda mais interessante.
“O que é a humanidade, e o que é ser um ser humano” é o tema principal de “Westworld”, com as máquinas tentando entender essa questão e achar uma forma de replicar a sociedade humana. Na 4ª Temporada isso é levado ao extremo, mas os roteiristas aproveitaram para mostrar como enfrentar a realidade pode ser algo cruel e que nem as máquinas podem suportar.
Mesmo com o seu ótimo desenvolvimento, o final da temporada termina aquém do que realmente construiu. Não é um final brochante ou ruim, mas a temporada merecia uma conclusão mais épica ou realmente impactante. De qualquer modo, ele prepara muito bem uma possível 5ª Temporada (mesmo a série ainda não tendo sido renovada), e promete trazer finalmente uma conclusão para essa saga.
Em tempos onde temos tantas séries, filmes, jogos, animações e outras produções sendo feitas, é uma tarefa complexa escolher algo para assistir, fazendo com que todos nós tenhamos que ficar cada vez mais seletivos no que consumir. A 4ª Temporada de “Westworld” infelizmente não traz nenhum “buzz” ou sensação de ser algo único e imperdível a ponto de te fazer vibrar como no primeiro ano da série.
No entanto, ela eleva o nível em relação a última temporada mantendo a produção impecável e momentos bem emocionantes com os personagens, desenvolvendo o universo e trazendo boas reviravoltas. É quase um retorno as “origens”, e vai com certeza agradar os fãs das primeiras temporadas e que procuram um bom sci-fi. Que venha uma gloriosa 5ª e última temporada para encerrar a série de uma boa forma.
Nota: 8
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