Crítica | Echoes (Netflix, 2022)

Produções sobre gêmeos sendo trocados ou que, voluntariamente trocam suas vidas, seja por diversão, por dificuldades ou por quaisquer outros motivos, é um tema interessante. “Echoes” segue tal premissa e eleva essa narrativa a outro nível, de forma bastante intrigante, bem planejada e muito misteriosa.

Pelo caminho que a produção da Netflix explora a narrativa, e todos os elementos nela envolvidos, o resultado de trocas de identidades pode ser muito mais sério e grave do que se imagina, quando as coisas dão perigosamente erradas. Nessa esteira, “Echoes” é um intenso thriller psicológico com um cenário sombrio e que faz de tudo para confundir as pessoas ao redor das personagens centrais, bem como o público também – e isso torna a minissérie um dos melhores e envolventes thrillers de suspense, com altas chances de atender às expectativas dos fãs desse gênero.

A minissérie gira em torno de Leni e Gina (interpretadas por Michelle Monaghan, de “Controle Absoluto”, 2008), duas gêmeas idênticas que, desde crianças, sempre trocam de identidade secretamente nas mais diferentes situações. Isso acaba culminando em uma vida dupla para as irmãs na fase adulta, em que elas, secretamente, compartilham duas casas, dois maridos e a filha de Leni. Para se manterem atualizadas, as irmãs compartilham um diário virtual registrando todos os fatos e acontecimentos de tudo o que acontece nas vidas delas.

Porém, tudo se complica quando Gina é informada que Leni desapareceu misteriosamente alguns dias antes do aniversário delas. Embora a polícia acredite que Leni tenha fugido voluntariamente, Gina está convencida que algo terrível aconteceu e, assim, começa a investigar sozinha para tentar encontrar alguma pista. Com o desaparecimento misterioso de Leni, a vida de Gina também começa a desmoronar. Gina embarca em uma corrida contra o tempo para salvar a própria pele e descobrir o que realmente aconteceu com Leni. Com a ajuda de Jack, marido de Leni, Gina mergulha cada vez mais fundo em segredos terríveis sobre o passado que ela jamais poderia imaginar.

A minissérie australiana foi criada e roteirizada por Vanessa Gazy, que também participa da produção executiva ao lado de Brian Yorkey, Quinton Peeples, Imogen Banks, e Shine Banks. Yorkey e Peeples também assumem o cargo de showrunners da minissérie.

Um pouco complicada de entender logo de início, “Echoes” é inovadora e surpreendente ao trazer um grande mistério no centro de sua trama. A produção, com 7 capítulos, não é uma simples história sobre duas gêmeas idênticas que, secretamente, trocam suas identidades: a produção também mostra como a troca de identidade voluntária acaba sendo extremamente perigosa, bem como as assustadoras consequências que tal esquema pode trazer para ambas enquanto uma vive a vida da outra pelo próximo ano.

“Echoes” também tem uma trama extremamente detalhista, exigindo atenção total sobre todos os fatos e detalhes mostrados em cena – principalmente nos primeiros episódios –, pois são elementos narrativos importantes que serão úteis para melhor compreensão entendimento posteriormente. Além disso, o thriller tem um potencial ainda maior para confundir pelo fato de que, em praticamente todos os episódios, há excelentes reviravoltas – principalmente no que diz respeito sobre quem é Gina e quem é Leni; a produção, sabiamente, faz o público constantemente questionar qual das duas irmãs realmente está em determinada cena.

Oscilando entre as perspectivas de Gina e Leni, a trama onde uma das gêmeas desaparece e a outra assume a identidade da irmã desaparecida é tão complexa quanto intrigante, onde (quase) nada é certo e praticamente tudo é questionável. Cabe ao público descobrir e compreender o que realmente está acontecendo com muita atenção, além de entender o conflito das reais identidades das irmãs.

Essa complexidade na trama de “Echoes” se intensifica ainda mais pelo fato de a linha narrativa da minissérie ir e voltar no tempo, trazendo ainda mais complicações na trama. À medida que as histórias das irmãs do presente e do passado colidem, a produção aumenta o senso de urgência através da edição rápida e da inserção de flashbacks reveladores durante a narrativa.

Como resultado, há uma sensação confusa de mistério sobre o que é verdade ou não, assim como a enorme desconfiança de um inevitável confronto entre Gina com Leni e seus segredos sombrios. Mas, uma vez que se presta o máximo de atenção possível aos pequenos detalhes desde o início da série, o restante dos episódios fica mais fácil de entender, culminando em um desfecho incrivelmente impressionante.

Michelle Monaghan está duplamente espetacular e é quem carrega a minissérie nas costas. Ela é surpreendentemente notável ao interpretar duas irmãs gêmeas e consegue equilibrar perfeitamente as diferentes nuances de cada gêmea tentando imitar a outra. A maneira como ela transita entre as personagens é excepcionalmente bem executada, conseguindo confundir e convencer plenamente.

E tudo funciona perfeitamente, pois é exatamente esse o gancho central da trama – haja vista que o enredo é justamente tentar resolver a questão de quem é quem (Gina ou Leni), e como ambas se passam perfeitamente uma pela outra. Além disso, as trocas de identidades entre as duas irmãs sempre permanecem um intrigante e curioso tópico de discussão até o final do último episódio.

Um dos únicos pontos negativos de “Echoes” são os efeitos visuais, que deixam a desejar. O CGI para fazer as cenas das duas personagens de Michelle Monaghan juntas é um tanto desleixado, possibilitando que seja um pouco perceptível ver que a atriz foi cortada, na pós-produção, e depois colada, para que uma das gêmeas contracene com a outra.

Embora o último capítulo tenha terminado com uma conclusão aberta e com um gancho promissor, “Echoes” foi designada como uma minissérie. Portanto, (ainda) não há planos oficiais para a Netflix produzir uma segunda temporada.

“Echoes” é uma ótima minissérie com atuações brilhantes, com uma premissa extremamente intrigante, promissora, complexa, detalhista e cheia de reviravoltas. O ritmo narrativo é ágil e minimalista, e a produção fixa perfeitamente o aspecto de mistério ao entregar uma história peculiar e que consegue prender a atenção até o último episódio, contribuindo para um final surpreendente. O excelente suspense ao longo dos episódios aumenta a emoção com um tom sombrio e intenso.

A minissérie tem os ingredientes de um thriller competente, conseguindo estabelecer muito bem o drama na narrativa – e depois se desenrolando de forma muito bem entrelaçada como suspense, se concentrando mais precisamente no mistério em torno das identidades de Gina e Leni. Com isso, a produção se destaca facilmente como um intrigante e complexo jogo de gato e rato das irmãs gêmeas com todas as pessoas ao seu redor.

“Echoes” está disponível na Netflix.

Nota: 9.0