Nos anos 70 e 80, Stephen King escreveu alguns livros contendo metáforas sobre raiva e de pessoas com poderes especiais. Como exemplos, ele criou “Carrie”, uma jovem com habilidade telecinética que ficou com raiva no baile de formatura; “O Iluminado”, um escritor frustrado que representa o retrato da raiva em um homem com problemas alcóolicos, cujo filho tinha dons especiais. E, com “A Incendiária”, não poderia ser diferente – uma história sobre uma garota com poderes pirocinéticos que precisa controlar sua raiva para não perder o controle de seu dom.
Porém, há um certo azar que envolve algumas adaptações cinematográficas das obras literárias de Stephen King. Não apenas em relação às adaptações ruins propriamente ditas, mas, também, para os azarados que irão assistir, no caso, “Chamas da Vingança”. A nova versão, extremamente fraca e preguiçosa de “A Incendiária”, produzida pela Blumhouse, ignora 90% da obra original e decepciona completamente por ser uma das piores adaptações das obras de King.
Durante os anos de faculdade, Andy McGee (Zac Efron, de “Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal”, 2019) e Victoria Tomlinson participaram de um experimento realizado pela “A Loja”; uma agência secreta do governo que lida com o “Lote 6”, uma droga experimental com efeitos alucinógenos. A droga deu a Victoria habilidades telecinéticas e a Andy poderes telepáticos de controle mental, que ele chama de “impulso”. Após Andy e Victoria se casarem e terem uma vida aparentemente normal, a filha, Charlie, acaba desenvolvendo uma capacidade pirocinética assustadoramente forte e incontrolável.
Porém,
“A Loja” acaba descobrindo sobre os poderes de Charlie, resolvendo pegá-la para
maiores estudos e quer aproveitar a habilidade dela em criar fogo para
transformá-la em uma arma de destruição em massa. Isso obriga Andy e Charlie a
fugirem desesperados e evitar que a agência os encontre. Enquanto isso, Andy
ensina Charlie a como controlar seu poder, que é desencadeado pela raiva ou
pela dor. Depois que um incidente revela a localização dos dois, a Capitã
Hollister, chefe da agência, contrata John Rainbird, um caçador de recompensas
particular, para caçar a família e capturar Charlie.
Baseado na obra “A Incendiária”, um dos livros mais bem-sucedidos de Stephen King, que mistura elementos de ficção científica e suspense, “Chamas da Vingança” moderniza uma história sobre incríveis poderes incontroláveis. Desde o lançamento do livro, em 1980, e a primeira adaptação cinematográfica em 1984 (protagonizado por Drew Barrymore), Hollywood tem sido frequentemente consumida por várias outras produções que exploram elementos narrativos que envolvem superpoderes descontrolados e agências secretas do governo que querem controlá-los. Porém, a indústria cinematográfica não é tão generosa, em termos de fidelidade, com as adaptações do grandioso escritor.
Stephen
King é um escritor tão rico em termos de caracterização narrativa que, ao
assistir “Chamas da Vingança”, fica imediatamente evidente o quanto o
respectivo livro usado como material base é maltratado pelo roteiro do filme em
questão. O roteiro despreza completamente vários detalhes narrativos que
compõem a história e que são importantes para o seu desenvolvimento, tornando a
história extremamente resumida. O mesmo pode se dizer dos personagens, que são
despojados de qualquer complexidade – como tal, há personagens que nem servem a
um propósito.
À medida que “Stranger Things” continua em alta, trazendo elementos narrativos semelhantes (agência secreta do governo que explora poderes extraordinários), o público é lembrado de que essas produções atingiram a saturação da superpotência. Talvez seja por isso que “Chamas da Vingança” seja ainda mais superficial e fraco, recontando uma história já conhecida e que, talvez, não precisasse ser contada novamente. Fica ainda pior quando a indústria cinematográfica tritura e despedaça a obra original em retalhos e aproveita apenas fragmentos da ideia central para construir um enredo mastigado, rápido, alterado, resumido, superficial e péssimo.
Assim,
pode-se dizer que “Chamas da Vingança” somente transmite a essência básica e
enxuta da narrativa que Stephen King criou, de forma extremamente resumida – e
que, além disso, modificou vários fatos que compõem a história. A partir disso,
o que se segue, ao assistir ao longa, é a releitura de uma narrativa sem profundidade
com perseguição livre de tensão, enquanto Andy e Charlie tentam fugir de um mercenário que também foi cobaia de testes poderosos e da chefe da
agência secreta que o contratou.
A direção de Keith Thomas e o roteiro de Scott Teems são tão superficiais e picotados quanto o visual terrivelmente horroroso que o filme entrega. Uma coisa boa que salva a produção é a Trilha Sonora, realizada por John Carpenter, Cody Carpenter e Daniel A. Davies, que apresentam um trabalho decente e em sintonia com a estética narrativa do filme. Fora isso, (quase) ninguém parece saber o que está fazendo.
Ryan
Kiera Armstrong estrela como Charlie, entregando uma atuação muito boa, principalmente
quando exibe as emoções profundas de raiva ao precisar usar os poderes
pirocinéticos. Zac Efron também convence bastante e apresenta um trabalho
satisfatório. Michael Greyeyes até se esforça e tem alguns momentos de
confronto notáveis, mas a resolução final para seu personagem não faz sentido
algum e apenas adiciona mais um ponto negativo para a adaptação. Kurtwood Smith
(de “Robocop – O Policial do Futuro”, 1987) e John Beasley (de “Com As Próprias
Mãos”, 2004) são os atores mais desperdiçados do longa; o que é uma grande
pena.
Geralmente, as adaptações de Stephen King brilham durante o clímax. Porém, “Chamas da Vingança” sofre com um clímax insuportavelmente desprovido de emoção, criatividade e honestidade, além de fazer inúmeras alterações narrativas em relação ao livro. Além disso, a produção é inconsistente ao pegar o gancho central do livro, destrinchar a narrativa e resumir completamente todo o desenvolvimento da obra literária para, enfim, entregar apenas uma vaga ideia da história original.
“Chamas
da Vingança” até tem uma boa performance de Zac Efron e de Ryan Kiera
Armstrong, combinando com uma Trilha Sonora envolvente; mas este remake horrível carece muito
de tensão, atração narrativa e melhor desenvolvimento. O longa é uma fraca,
resumida, superficial e vergonhosa tentativa de adaptar uma história de Stephen King. Decepção total é a descrição perfeita para “Chamas da Vingança”, que não cumpre o que promete e entrega uma das piores adaptações de S.K. Com isso, o filme em tela é um das produções mais medíocres de 2022.
“Chamas da Vingança” está disponível, para alugar, na Amazon Prime Video.
Nota: 1.0
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