Prequel traz o retorno triunfal de "Game of Thrones" as telas, com um piloto forte que reafirma a qualidade e potencial deste universo.

A história apresenta a guerra civil entre a Casa Targaryen. Um período de disputas de poder entre Rhaenyra e seu meio-irmão Aegon, quando ambos acreditavam ter direito sobre o trono de ferro.

Game of Thrones” foi o maior fenômeno televisivo de todos os tempos. A adaptação da saga de livros escritos por George R.R. Martin e produzida pela HBO conquistaram o mundo todo e se tornaram algo obrigatório para qualquer pessoa que gosta de consumir séries. O fenômeno foi tão grande que até pessoas que não tem essa cultura de ver séries assistiram “Game of Thrones”, se reunindo com a família e amigos todos os Domingos e até mesmo em bares para assistir como se estivessem em um estádio. A glória da série no entanto não durou muito, com as últimas 2 temporadas terríveis que jogou a reputação dela na lama, encerrando a saga com um gosto amargo na boca.

Chegamos então ao ano de 2019, quando a Warner Bros. e a HBO anunciaram que estavam desenvolvendo o seu primeiro derivado de “Game of Thrones”, um prequel intitulado “A Casa do Dragão”, que seria focado na família mais amada da saga: os Thargerians. Sem o envolvimento da polêmica dupla de showrunners David Benioff e Dan Weiss (Game of Thrones, O Caçador de Pipas), a série agora tem Ryan Condal (Rampage: Destruição Total, Hércules) como principal roteirista e showrunner, um envolvimento maior de Martin na produção e roteiros, e o retorno do premiado diretor Miguel Sapochnik (Game of Thrones, Finch), que dirigiu alguns dos melhores episódios da série original, como produtor e diretor de 3 episódios.

Com esse retorno triunfal a Westeros, a história se passa 172 anos antes do nascimento de Daenerys (Emilia Clarke), onde Viserys Targaryen (Paddy Considine) se torna o rei, gerando um conflito político entre sua filha, a Princesa Rhaenyra Targaryen (Milly Alcock) e o seu irmão, o príncipe Daemon Targaryen (Matt Smith), que ambos almejam o trono.

Todas as temáticas políticas continuam muito forte neste episódio piloto, mas algo que cerca ele (e aparentemente a série) é toda a discussão de ter uma mulher como rainha e regente do reino, e como elas sempre foram colocadas em segundo plano na hora de tomar a sucessão, mesmo que seja o direito legítimo delas.

Miguel Sapochnik prova que ainda tem fôlego para mostrar o quão incrível e vasto é o universo de “Game of Thrones”. A direção é excelente em construir e expandir o universo, mostrando tensão e empolgação que é esse mundo que cerca estes personagens. A narrativa e o ritmo são tão bons, que em 20 minutos de episódio o espectador está imerso no universo e já está situado como ele funciona, quais são os personagens principais e seus objetivos, algo que poucas séries conseguem fazer. O visual e a produção são impecáveis, com as roupas (principalmente os vestidos das princesas) e armaduras únicas e um design de produção afiadíssimo. Dá pra ver claramente o orçamento gigante na tela. 

Algo que precisa ser urgentemente exaltado é o brilhante trabalho do compositor Ramin Djawadi (Westworld, Homem de Ferro) na trilha sonora deste episódio. Como eu disse na minha crítica da 4ª Temporada de “Westworld”, Ramin já se consolidou como um dos melhores compositores da atualidade, e seu trabalho em “Game of Thrones” foi primoroso. No episódio piloto ele se conte um pouco e reutiliza alguns temas da série original para manipular os nossos sentimentos e trazer uma nostalgia (e funciona que é uma beleza), mas ainda assim a sua trilha sonora serve como um condutor narrativo poderoso que seta o tom das cenas e diz muito sobre os personagens. Um gênio que esbanja todo o seu talento como compositor aqui. 

Os personagens da saga sempre foram intrigantes e complexos, fugindo do tom maniqueísta que muitas obras seguem na hora de fazer a construção deles. Aqueles que parecem ser bons, acabam se revelando monstros, e aqueles que iniciam a jornada como antagonistas, mostram que tem motivos para fazer o que fazem, e ainda assim tem um pingo de humanidade.

Já o elenco é composto de nomes veteranos como Paddy Considine (Chumbo Grosso, Peaky Blinders), Matt Smith (Doctor Who, The Crow) e Rhys Ifans (O Espetacular Homem-Aranha, Um Lugar Chamado Notting Hill), mas também se ancora bem em nomes não tão conhecidos como os das atrizes Milly Alcock (Upright, Pine Gap) e Emily Carey (Mulher-Maravilha, Tomb Raider: A Origem). Todos os personagens e o elenco são excelentes, mas os destaques ficam para o príncipe Daemon, e sua sede de poder e ambições sinistras, o Rei Viserys, que tenta ser um bom rei ao mesmo tempo que almeja ter um filho homem, e é claro a jovem princesa Rhaenyra, que já consegue cativar o público com sua astúcia, carisma e possibilidade de governar Westeros no futuro.

A brutalidade e cenas de violência continuam marcando presença na franquia, assim como as cenas de sexo. Existe no entanto uma cena específica envolvendo um parto que é talvez uma das mais violentas e emocionalmente sufocantes de toda a saga. As sequências de ação (que são poucas no primeiro episódio) são muito bem executadas e filmadas, com alguns shots bem bonitos e meticulosos. Destaque total para as belas cenas dos duelos de lança a cavalos, que são bem empolgantes.

Uma das coisas que mais foram prometidas durante o anúncio e marketing da série são os Dragões. No período em que a série se passa, o “auge” da casa Targaryen, eles possuíam dezenas de dragões de todas as idades, e a série não poupa esforços (e orçamento) para mostrá-los. Os efeitos especiais são perfeitos e eles optam por mostrar as criaturas em cenários iluminados e de dia, dando para ver bem os detalhes. 

O universo criado por Martin é rico e bem único. O episódio consegue ajudar nessa expansão trazendo não só locais, objetos, figuras históricas e casas icônicas, mas uma variedade de novidades e coisas nunca antes vistas (como por exemplo toda a dificuldades que alguns reis têm em sentar no trono de ferro, se cortando a todo momento).

O episódio termina setando o que deve ser a trama da série (ou pelo menos desta primeira temporada) com a guerra e disputa pela sucessão do trono, com diversos lados e facções almejando o tão sonhado trono de ferro. O final empolgante ajuda a dar esse gostinho de “quero mais” e alimentar a curiosidade do espectador em ver mais deste universo, personagens e trama.

O piloto de “A Casa do Dragão” entrega tudo que prometeu e muito mais. É satisfatório estar de volta nesse universo incrível e que marcou a vida de tantas pessoas, compensando aqueles que se frustraram com as últimas temporadas de “Game of Thrones” (ou seja, todos os fãs). Ela cumpre a função de um episódio piloto que é de apresentar esse universo e situar muito bem as tramas e personagens, com uma produção avassaladora de primeira qualidade que só a HBO consegue fazer. Aqueles que não assistiram a série original não vão perder nada além de pequenas referências, entendendo e se satisfazendo com a série do mesmo jeito. E que venha essas gloriosas 9 semanas com Westeros!

Nota: 9,5

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