Michelle Yeoh luta para salvar o multiverso e sua família em um dos melhores filmes de todos os tempos.

Uma imigrante chinesa que vive nos Estados Unidos encara uma aventura insana, pois ela pode ser fundamental para salvar o mundo. Explorando outros universos paralelos que se conectam com as vidas que ela poderia ter vivido, essa senhora precisará de coragem para encarar os maiores desafios de sua vida.

Mais uma produção da A24, aclamada produtora que tem sido responsável por grande parte dos filmes hollywoodianos mais interessantes dos últimos anos. Dessa vez a produtora se junta com os diretores Joe e Anthony Russo (Vingadores Ultimato, Cherry - Inocência Perdida), que atuam como produtores desse filme que aborda o grande assunto do momento: Multiverso.

As grandes mentes por trás do filme no entanto são os geniais Dan Kwan e Daniel Scheinert (Um Cadáver Para Sobreviver, The Death of Dick Long), ou simplesmente os Daniels. Eles já tinham chamado a atenção de todos com o maravilhoso e completamente bizarro “Um Cadáver Para Sobreviver”, mas aqui a dupla eleva o nível de tudo (bizarrices e qualidade) para outro patamar, sendo responsáveis pelos roteiros e pela direção.

A inventividade do filme e o seu incrível visual são de deixar o queixo no chão. A direção, cenas de ação, e a criatividade de bolar os diferentes universos coloca qualquer outro filme sobre multiverso no chinelo. Se existe algo para criticar nessa obra como um todo, é que o final começa a ficar um pouco lento e arrastado, mas nada que realmente prejudique a narrativa como um todo.

Hoje vemos que as grandes produções de Hollywood têm sofrido muito quando se trata de efeitos especiais e prazos, que se agravou principalmente por conta da pandemia. Isso torna “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” ainda mais impressionante, devido ao cgi e técnicas aplicadas pelos diretores que fizeram o filme ficar impecável visualmente. Isso somado ao “baixo orçamento” de US $15-30 Milhões de dólares e a equipe de pós-produção de apenas 9 pessoas prova o que acontece quando você gosta de cinema e realmente se preocupa em fazer algo especial.

Michelle Yeoh (Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, O Tigre e o Dragão) já se provou uma excelente atriz, entregando tanto em cenas de ação mas também em cenas de comédia e drama. Mas o que ela faz nesse filme é elevar o seu status ao infinito. O caminho percorrido por Evelyn nesse filme é uma das grandes jornadas que eu já vi um personagem percorrer em um filme, com ela tendo que amadurecer não só para salvar o multiverso, mas para salvar a sua família e entender seus sentimentos.

Já o resto do elenco de apoio também entrega um trabalho fenomenal. Jamie Lee Curtis (Halloween: A Noite do Terror, Entre Facas e Segredos), interpreta uma cruel agente de impostos, mas que também pode amar, Stephanie Hsu (O Caminho) vive Joy, a filha de Evelyn que tenta a todo custo se comunicar com a mãe, Ke Huy Quan (Os Goonies, Uma Turma Genial) é o engraçado marido que sempre tenta ver um lado positivo nas coisas e James Hong (Aventureiros do Bairro Proibido, Kung Fu Panda) como o avô com uma mentalidade ultrapassada. Os destaques mesmo ficam para Hsu e Quan, que são engraçados e entregam muito nos momentos emocionais (e é obrigatório a participação do trio em todas as premiações do ano).

Mesmo com toda a loucura e insanidade do filme, no fundo isso tudo se trata de um drama familiar, onde cada membro da família tem uma jornada , algo para aprender e sentimentos para expor. Existem alguns momentos que me fizeram me debulhar em lágrimas e chorar feito uma criança, algo que é EXTREMAMENTE difícil de acontecer. E são com diálogos e frases “clichês” que já vimos diversas vezes, mas aqui elas acertam na mosca o coração por trazer humanidade e sentimentos reais.

O que é mais fascinante é a forma como o filme aborda o existencialismo e niilismo, trazendo uma mensagem bem emocionante e até mesmo esperançosa. A protagonista e os “Googly Eyes” representam uma antítese do niilismo de Joy (Hsu) e sua “rosquinha dimensional". Um é um círculo branco com um centro preto [olhos arregalados] contra um círculo preto com um centro branco [rosquinhal], onde Joy construiu um ultimato para acabar com o caos, Evelyn fez o oposto completo (entendendo tudo completamente) e corrigindo todo o caos ela mesma. 

Ambos são reações completamente válidas às suas experiências, e o argumento metafísico é tão divertido e absurdo quanto. São inversos completos e absolutos de um para o outro e ainda encapsulam o cerne do trauma geracional, hipocrisia emocional e solidão filosófica. A ironia de tudo isso é que quanto mais longe elas estavam (tanto metaforicamente quanto literalmente), mais próximas elas ficavam. A dinâmica mãe-filha e "problemas maternos” mais engraçada e filosófica que transcende o tempo, espaço (e multiverso). 

No fim é um dos elementos mais incríveis desse filme é como ele é bobo e não tem a menor vergonha disso. Ao mesmo tempo em que acompanhamos esses personagens passando por arcos tão emocionais, com mensagens poderosas e filosóficas, temos uma mulher usando um cachorro como arma, uma luta com pessoas usando troféus em seus orifícios anais, um universo onde pessoas tem salsichas no lugar dos dedos e um guaxinim que controla um cozinheiro ao melhor estilo "Ratatouille". Fazer tudo isso funcionar é uma magia que poucos diretores e filmes conseguem fazer.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” é praticamente um milagre. Um filme com orçamento tão “baixo” apresenta uma qualidade tão grande visual enquanto conta uma história linda, engraçada, emocionante e boba que vai te fazer rir, vibrar e chorar. Uma experiência sem igual que me fez lembrar o por que eu amo cinema e a importância de se contar histórias. A essa altura é clichê dizer isso, mas ele é um dos melhores filmes que eu já assisti na minha vida.

Nota: 10

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