"Stranger Things" retorna com força total e se consagra como uma das melhores séries do gênero.
Após um hiato muito maior do que se esperava, afinal de contas sua terceira temporada foi lançada ainda em julho de 2019, finalmente chegou ao catálogo da Netflix a tão esperada 4ª temporada de Stranger Things. E devo dizer que ela já bate recordes e é a série em língua inglesa mais assistida do streaming em seu fim de semana de estreia (sim, ultrapassou a segunda temporada de Bridgerton!).
Com o sucesso estrondoso que o show atingiu mundialmente desde sua estreia, estrategicamente a Netflix resolveu explorar esse hype por mais tempo e decidiu lançar a nova temporada em duas partes, diferentemente de suas antecessoras. Além disso, os episódios são mais longos, têm entre 64 e 98 minutos de duração.
Stranger Things é uma série estadunidense que mescla elementos de ficção científica, terror e suspense criada, escrita e dirigida por ninguém menos que os irmãos Duffer. Vale salientar, que eles também assinam a produção executiva, ao lado de Shawn Levy e Dan Cohen.
Na nova temporada os amigos estão separados. Enquanto uma boa parte do grupo permanece em Hawkins, outra parte se mudou para a Califórnia – neste grupo estão incluídos Onze (Millie Bobby Brown), Will (Noah Schnapp), Jonathan (Charlie Heaton) e a mãe deles, Joyce (Winona Ryder).
Além da distância e dos novos desafios inerentes da adolescência (um deles o bullying, que é bastante enfatizado nos primeiros episódios), temos um cenário no qual Onze não detém mais seus poderes, enquanto um poderoso vilão surge e ameaça a humanidade.
Pra quem tinha dúvida se a série se sustentaria por mais duas temporadas (a quinta foi confirmada como sendo a última), a quarta temporada chegou para acabar com os receios do espectador. A história está mais oxigenada do que nunca, em especial com a inserção de novos personagens, o plot é coeso e a imersão na década de 1980 é um dos grandes acertos e carros chefes do seriado. É dada uma atenção especial aos elementos de terror e de fato o resultado é positivo, com momentos de tensão muito bem construídos e um excepcional episódio 4.
No protagonismo da história mais uma vez temos Onze, que está com dificuldade para se adaptar à realidade do ensino médio. Somado a isso, boa parte de sua trama se ancora em inúmeros momentos de flashbacks nos quais On revive fragmentos do seu passado que são fundamentais no desenrolar da narrativa.
Para representar a infância de Onze, já que Millie está hoje com 18 anos, utilizaram CGI no rosto da atriz mirim Martin Blair a fim de deixá-la mais semelhante à protagonista. Em algumas cenas, no entanto, esse recurso tecnológico causa estranhamento. É como dizem, às vezes menos é mais. Uma solução simples seria utilizar a atriz mirim sem uso de efeitos, já que ela é MUITO parecida com a Millie quando criança.
Outro ponto a ser mencionado é que, apesar de ser um arco imprescindível e explicativo, esse vai e vem de memórias de Onze torna o plot cansativo (alguns minutos a menos nos episódios e menos repetições talvez tivessem ajudado nesse aspecto). Por vezes, a chorosa heroína parece até mesmo um tanto quanto caricata em suas expressões.
Nessa temporada, Nancy (Natalia Dyer) tem destaque e ganha liderança, em especial pelo distanciamento de parte do grupo. O relacionamento com Jonathan se encontra abalado e a proximidade com Steve (Joe Keery) pode reviver antigos sentimentos (talvez não dela, mas certamente do público que shippa o casal). A amizade entre Steve e Robin (Maya Hawke) cativa mais uma vez e a nova parceria entre Nancy e Robin é uma novidade que funciona muito bem.
A separação geográfica dos personagens trouxe consequências. Não que tenha prejudicado o enredo, ao contrário, diversificou cenários e possibilidades, porém alguns personagens receberam mais destaque do que outros. O arco da Califórnia, por exemplo, acabou por ser secundário, com Jonathan e Mike (Finn Wolfhard) com pouquíssima notoriedade, embora tenham feito parte de cenas marcantes. Entre elas a do tiroteio, que é uma das minhas favoritas por ser extremamente dinâmica e bem dirigida.
O grande destaque no elenco, no entanto, é a intérprete de Max, Sadie Sink. A atriz simplesmente dá um show ao demonstrar os traumas, fragilidades e ao mesmo tempo força de sua personagem. Sua história é destrinchada naquele que é o melhor episódio da temporada (4) e, com certeza, um dos melhores da série.
Dos amigos, Will continua sendo o desinteressante da história e quase um peso morto na trama. Tudo indica que na parte dois dessa temporada, mais dele será exposto e quem sabe esse jogo vire. Lucas (Caleb McLaughlin), no entanto, traz novidades. Acompanhamos ele ganhando espaço no time de basquete do colégio quase que como uma forma para escapar do bullying e estigma (na época) pelo fato de ser nerd. Isso, contudo, o afasta de seu grupo de amigos. Dustin (Gaten Matarazzo), por sua vez, continua sendo o alívio cômico da série e seus momentos com Steve garantem sempre muitas risadas.
Entre os novos personagens, Eddie (Joseph Quinn) e Argyle (Eduardo Franco) roubam a cena e a simpatia do público. Agregaram demais ao elenco e eu não imagino a temporada sem eles. Antigos personagens que pouco apareciam agora recebem maior e merecido destaque, tais como: Erica (Priah Ferguson) e Murray (Brett Gelman).
Eu, como fã da série Anne With an E, estava ansiosa pelo aparecimento da personagem Vickie interpretada pela maravilhosa Amybeth McNulty. E foi literalmente um aparecimento. Não deu nem pra considerá-la coadjuvante, foi mais para figurante. Fico na torcida por alguma relevância de sua personagem na parte dois, ou pelo menos na última temporada, já que ela é uma atriz brilhante.
O fim da terceira temporada teve como grande evento a "morte" de Hopper (David Harbour). Nessa temporada, ele está de volta mais "brabo" do que nunca. O arco da Rússia pode não ter agradado alguns fãs, mas pra mim está longe de ser a barriga da série. Na Rússia temos um dos grandes momentos da temporada, fora que a interação entre Joyce e Murray tem um timing de humor impressionante.
Esteticamente Stranger Things é um deleite para os olhos. Desde a pista de patinação, o rpg, a cada item de cenário e figurinos, todos remetem a uma nostalgia inexplicável e repleta de referências interessantes que os irmãos Duffer sabem pulverizar ao longo dos episódios com sabedoria. Os efeitos especiais mais acertam do que erram fazendo jus ao robusto orçamento (mais de 30 milhões de dólares por episódio). O mundo invertido continua com seu visual arrebatador e que causa arrepios e Vecna está absolutamente perfeito. A trilha sonora mais uma vez marca e agora tem uma contextualização ainda mais especial.
Eu, pessoalmente, não curti a ideia de fragmentar a temperada em partes, mas não dá pra negar o frenezi que isso causou. Esse é o efeito Stranger Things de ser.
A segunda parte da quarta temporada de Stranger Things com dois episódios, totalizando quatro horas de duração, chega no dia 1º de julho. Cola aí nos comentários e conta o que achou da nova temporada!
Nota: 9,0
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