"Primeira Morte" se perde em uma enxurrada de informações e se ancora  exclusivamente no romance entre suas protagonistas.

Inicio este texto com o famoso meme que exemplifica bem a minha experiência com a série da crítica hoje: "É horrível! Eu amei!"

Como verão a seguir, não faltam motivos para criticar Primeira Morte, o romance teen sobrenatural lançado pela Netflix no último dia 10 de junho. No entanto, tem algo ali que simplesmente nos compele a continuar assistindo e isso também será analisado.

Primeira Morte (First Kill) é uma série criada por Victoria Schwab para a Netflix  baseada no conto de mesmo nome de Schwab. Além de criadora, ela assina a produção executiva ao lado da atriz Emma Roberts entre outros nomes.

Sua premissa não traz grandes novidades. Juliette (Sarah Catherine Hook) é uma jovem vampira que sofre pressão de toda sua família para realizar uma espécie de ritual de passagem que seria matar pela primeira vez uma pessoa com o objetivo de se alimentar. Até então ela se alimenta por meio de cápsulas que contêm sangue, mas é cada vez mais difícil conter os efeitos adversos da abstinência. A vampira que carrega características únicas de sua raça conhece uma nova estudante de sua escola, Calliope (Imani Lewis), e logo se apaixona. Ela só não imaginava que Calliope  fazia parte de uma família de caçadores de monstros disposta a eliminar toda e qualquer ameaça sobrenatural.


Um dos fatores interessantes da série se encontra em sua representatividade, afinal de contas é raro encontrar um casal lésbico e, ainda por cima, interracial que seja protagonista. Fica ainda mais interessante saber que a sexualidade não é uma questão a ser superada ou vencida por elas. O grande impasse da trama é o fato de suas espécies serem grandes rivais, o que remete na mesma hora à atmosfera do clássico Romeu e Julieta com famílias em conflito declarado, enquanto as duas lutam pelo direito de viverem seu amor. Inclusive é possível observar algumas referências bem diretas ao conto de Shakespeare.


Na trama, os monstros (e aqui não se tratam apenas de vampiros) são de conhecimento da população, mas não se tem notícias deles há mais de vinte anos. O sobrenatural, portanto, não é algo necessariamente velado, mas como são vistos como ameaças aos humanos,  Juliette precisa esconder sua identidade por precaução. 

É justamente essa variedade de seres fantásticos que gera os primeiros complicantes narrativos. Os dois primeiros episódios até surpreendem por não serem tão óbvios e conquistarem pela química entre as duas personagens. Juliette e Calliope funcionam muito bem juntas, têm carisma e é o romance entre as duas a ÚNICA mola propulsora que nos guia até o final da temporada.

Após os dois primeiros episódios, não demora muito para a história se perder. O primeiro incômodo vem com a tempestade de informações relativas a inúmeras espécies, raças, rituais, famílias que são simplesmente jogadas na série sem um timing coerente ou preparo devido. 

Talvez se a série tivesse se concentrado mais nos desafios de Juliette na busca de adiar sua primeira morte e descobrindo todas as suas habilidades, enquanto Calliope enfrenta o dilema de lidar com seus sentimentos e se prepara para matar sua primeira criatura, o resultado teria sido mais satisfatório. Mas o que temos é uma hierarquia mal explicada, tanto no arco dos vampiros quanto dos caçadores, uma cobra bem sem noção que é introduzida da forma mais brega possível na história. Enfim, uma série de enredos desnecessários para uma temporada introdutória.

Não dá pra não mencionar os efeitos especiais precários, que escancaram o baixo orçamento da série. Se o show tivesse focado apenas nos vampiros e caçadores, teríamos certamente menos cenas mal feitas e com efeitos que nos fazem lembrar episódios dos Power Rangers e similares.


Além das protagonistas, poucos personagens do elenco conseguem convencer e engajar. As matriarcas de ambas famílias (sim, finalmente os vampiros seguem um sistema matriarcal) agradam com atuações seguras, entre elas a já conhecida Elizabeth Mitchel (Lost), que dá vida a mãe de Juliette, Margot, bem como a personagem Talia Burns (Aubin Wise), mãe de Calliope. Não espere muito dos filhos e maridos da história, pois as atuações variam do mediano ao amador.


Seus oito episódios deixam inúmeras lacunas que dependem da renovação do show. Para isso, é necessário que Primeira Morte seja bastante assistida (do início ao fim), a fim de convencer a Netflix da renovação. 

Se renovada, esperamos que a série não dependa única e exclusivamente do romance e consiga conquistar pelo scyfi. Quem sabe apostando no mais simples e seguro, ainda dá tempo da série deslanchar?

Nota: 5,5




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