Michael Mann está de volta em excelente série de investigação jornalística e policial situada no Japão dos anos 90.

Situada no fim dos anos 1990, a série conta a história de Jake Adelstein (Ansel Elgort), um jornalista americano que se muda para Tokyo na esperança de integrar a equipe de um dos maiores jornais do país como repórter estrangeiro. Jake trabalha como professor de línguas e estuda tudo sobre a cultura e economia do Japão para se qualificar para o trabalho no jornal. Eventualmente, quando consegue uma vaga no diário, Jake fica responsável pelos casos policiais, o que normalmente não passa de bolsas roubadas e outros incidentes mundanos. Contudo, ao se aproximar do detetive Hiroto Katagiri (Ken Watanabe), um especialista no crime organizado, Jake começa a explorar o sombrio e perigoso mundo da Yakuza japonesa. Hiroto educa Jake sobre como o crime funciona em Tokyo e, em meio a vários casos suspeitos de suicídio, o jornalista fica cada vez mais próximo dos líderes da temida Yakuza.

“Tokyo Vice” curiosamente foi uma das primeiras séries anunciadas pela Warner Média em 2019 como um dos exclusivos para o serviço de streaming HBO Max, junto com “The Flight Attendant”, “Gremlins” e “Raised by Wolves”. Assim, a série adapta o livro “Tokyo Vice: An American Reporter” publicado em 2009 baseado na história real do repórter Jake Adelstein.

Embora a série tenha sido criada por J. T. Rogers (Oslo), que atua como showrunner e roteirista principal, a grande estrela da produção é o Michael Mann (Colateral, Fogo Contra Fogo), que finalmente volta ao mundo do cinema (ou no caso, da televisão) depois de 7 anos sem dirigir nada. Mann além de produzir a série, dirige o episódio piloto, trazendo elementos conhecidos de sua filmografia, como toda a tensão que ele consegue construir até nas cenas mais simples (como uma entrevista de emprego). Um dos grandes pontos altos da série é ter o seu envolvimento por trás das câmeras, mesmo que seja apenas no primeiro episódio.

O que difere “Tokyo Vice” das outras séries é a sua ambientação, já que ela se passa 100% no Japão, com a maioria dos diálogos completamente em japonês. É claro que isso não é necessariamente uma novidade para muitos, que estão acostumados a assistir Doramas e outras produções originais do Japão. Mas aqui vemos uma produção americana que se passa no Japão, e ainda assim respeita a cultura e aspectos sociopolíticos do país. A forma com que a série explora o Japão é bem interessante, com belos jogos de câmera, iluminação, planos da cidade e o foco nos cenários e construções de Tokyo. É quase como se a cidade estivesse viva e fosse um personagem na história.

Sem falar na grande temática da série sobre corrupção policial, jornalismo investigativo e as questões envolvendo as diferentes máfias e esquemas de “agiotagem” que acontecem no submundo do crime. É bem interessante ver também os desafios que Jake (Ansel Elgort) tem que enfrentar para entender a cultura japonesa (e como ele usa o trabalho para não enfrentar os problemas de sua vida pessoal), e as dificuldades de ser um estrangeiro e trabalhar em uma profissão tão complicada e requisitada no Japão.

Mann seta completamente o clima da série com o primeiro episódio da série, e deixa a direção dos outros 7 episódios nas mãos de Josef Kubota Wladyka (Narcos, The Terror), Hikari (37 Segundos) e Alan Poul (A Sete Palmos, The Newsroom). embora os três não cheguem a arranhar o trabalho de Maan no piloto, trabalham muito bem a construção da atmosfera da série e seu desenvolvimento, não deixando a peteca cair. Toda a direção dos episódios, ângulos de câmera, as (poucas) sequências de ação, iluminação e aspectos técnicos são de primeira na série.

O ritmo lento e alguns núcleos e subtramas de personagens secundários no início da série podem fazer com que algumas pessoas desistam dela. Mas vale ressaltar que a lenta construção dos personagens tem um payoff bem satisfatório durante a metade da temporada, amarrando bem a trama fazendo com que o espectador não consiga largar a série, ficando totalmente fisgado por ela. Essa melhora progressiva da série se dá muito pelo desenvolvimento dos personagens secundários, que em alguns momentos se tornam até mesmo mais interessantes que o próprio protagonista.

E falando dos personagens secundários, a série tem um grande elenco e leque de personagens muito interessantes e chamativos. Além do protagonista, os destaques ficam para Ken Watanabe (Batman Begins, A Origem), que interpreta Katagiri, um policial correto que procura solucionar os crimes de Tokyo, Rachel Keller (Fargo, Legião), que vive Samantha, uma jovem americana que trabalha em um clube noturno mas que também tem os seus sonhos, Rinko Kikuchi (Círculo de Fogo, Babel) como Eimi, uma jornalista mulher que tem que lidar com o preconceito e machismo que sofrê no trabalho e Shô Kasamatsu (Love You as the World Ends), que interpreta Sato, um jovem em ascensão em uma célula da Yakuza que tem grandes ambições para o seu futuro.

Precisamos falar no entanto sobre o elefante branco na sala da série, que é o ator Ansel Elgort (Em Ritmo de Fuga, Amor, Sublime Amor). O ator foi acusado em 2020 de abusar sexualmente de uma garota menor de idade, que apresentou provas concretas contra ele. Não me sinto confortável em desmerecer o excelente trabalho dele na série (já que ela começou a ser filmada antes mesmo das acusações contra ele surgirem), que não só entrega ótimas interpretações, mas também aprendeu a falar japonês para o papel. No entanto, é necessário que a HBO Max tome as devidas ações para lidar com essa situação, já que é inadmissível ter uma pessoa que comete tais atos em uma posição tão importante na série. 

Polêmicas à parte, toda boa história precisa de bons personagens que servem como alicerces da trama. E “Tokyo Vice” não só tem bons personagens com dramas e questionamentos interessantes, mas sabe fazer pequenos momentos de personagens, como a maravilhosa cena onde dois personagens cantam “Backstreet Boys” em um carro.

Embora a série não tenha sido oficialmente renovada pela HBO Max, o final da temporada deixa diversos ganchos para uma possível 2ª Temporada, com novas investigações surgindo e movimentações suspeitas da Yakuza. 

Apesar de algumas polêmicas, “Tokyo Vice” é uma das melhores produções originais da HBO Max, e uma das grandes séries do ano. Trazendo uma sociedade completamente diferente daquela em que estamos acostumados, o thriller investigativo é muito bem conduzido, explora bem a cultura japonesa e a tão famosa máfia da Yakuza. É uma grande recomendação para quem procura uma série de investigação policial e jornalística.

Nota: 8,5

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