Com frequência, a Amazon Prime Video tem investido cada vez mais em produções originais, sempre inovando com diferentes e instigantes narrativas para todo e qualquer tipo de público. Não obstante, as produções primam pela alta qualidade, com ótimas histórias e um elenco impecável. Com efeito, o streaming apostou em uma estranha combinação de gêneros que, à primeira vista, é uma mistura estranha, mas que sabe dosar seus elementos narrativos na medida certa ao plantar dúvidas e teorias acerca dos fatos narrados de forma bem misteriosa.
“Outer Range” é a mais nova série original da Amazon Prime Video, que combina faroeste com ficção científica em meio a dramas familiares, segredos, assassinatos e luta por terras no indominável oeste americano. Com uma trama criativa e original, a produção apresenta uma narrativa cheia de suspense e elementos sobrenaturais, conseguindo manter o clima tenso sobre os misteriosos e intrigantes acontecimentos até o último capítulo.
Na trama, Royal Abbott (Josh Brolin, de “Duna”, 2021) é um fazendeiro que luta por sua terra e família. A vida da família Abbott muda de maneira drástica depois que a nora de Royal, Rebecca, desaparece e um mistério cresce ao redor deles. Tudo isso enquanto tentam sobreviver no arisco deserto do Estado de Wyoming, na região das Montanhas Rochosas dos Estados Unidos, onde brigas por terras, conflitos econômicos e familiares são normais. Neste momento vulnerável, as coisas se complicam ainda mais quando Wayne Tillerson (Will Patton, de “A Última Profecia”, 2002), o rico fazendeiro vizinho com grandes e lucrativas propriedades, arma um plano para tomar as terras deles.
Depois
que uma morte prematura acontece, é desencadeado um efeito dominó na
comunidade, em que eventos cheios de tensão e problemas de cidade pequena se
tornam grandes complicações para os Abbott, principalmente depois que uma
cratera negra que se abre no pasto a oeste de sua propriedade após a chegada de
Autumn (Imogen Poots), uma estranha viajante que aparentemente tem uma conexão
com o rancho de Abbott. Enquanto Royal busca explicações para os desconhecidos
acontecimentos, ele se envolve em uma série de eventos catastróficos que
mudarão sua vida, cujas revelações vão acontecendo em meio a muitos conflitos e
assassinatos, o que faz com que ele queira ainda mais proteger sua família e
suas terras de tudo e de todos.
A produção, disponibilizada na plataforma a partir de 15 de abril (lançando 2 episódios semanais e um total de 8 episódios), foi criada por Brian Watkins e é seu primeiro trabalho na TV como showrunner e roteirista. Watkins aposta em fatores aparentemente inexplicáveis para explorar uma trama criativa e misteriosa. Com isso, a série consegue instigar a curiosidade do telespectador conforme a história se desenrola até o desfecho, mantendo o suspense até o final do último episódio e forçando o público a encaixar as peças sobre os reais acontecimentos daquele lugar.
“Outer
Range” foi produzida por Brad Pitt, que auxiliou a produção a equilibrar os
elementos narrativos da série entre os gêneros de faroeste e ficção científica,
explorando, de forma sobrenatural (devidamente equilibrada), os mistérios que
acontecem nas terras da família Abbott, seus dramas familiares e suas lutas
pela propriedade contra a família Tillerson. A produção ainda conta com Josh
Brolin como produtor executivo (além de atuar como Royal Abbott), que entrega
um trabalho primoroso e excelente em ambos aspectos.
“Outer Range” foi desenvolvida de forma inteligente e ambiciosa, sabendo explorar, com equilíbrio, os diversos elementos narrativos que compõem a série. Em um primeiro plano, a série aborda os dramas familiares frente a problemas recorrentes. Duas famílias de fazendeiros vizinhos brigando por causa das terras e o desaparecimento da nora do patriarca de uma dessas famílias são os temas principais básicos da série, que segue um estilo country – clássico dos temas de faroeste.
Por
outro lado, a série, que, em tradução livre, significa algo como “Além da
Margem”, apresenta elementos da ficção científica com base em questões de
metafísicas e envolvendo viagem pelo espaço-tempo para construir uma narrativa
sobrenatural para plantar dúvidas, caos e mistérios nas vidas dessas pessoas.
Essa sintonia entre tais elementos faz com que os personagens tenham que lutar
contra o desconhecido, afetando, de certa forma, a vida de todos. E, no centro
de tudo isso, está o tal misterioso buraco, situado no meio do pasto oeste da
fazenda da família Abbott.
A excelente Fotografia de “Outer Range” é um dos pontos mais bem trabalhados da produção. Drew Daniels, Jay Keitel e Adam Newport-Berra são os responsáveis por criar uma obra visualmente bela, sabendo aproveitar bastante a luz solar e fazendo uma ótima iluminação durante a noite. As sequências dos planos abertos das paisagens, planícies e pastos do deserto do Estado de Wyoming, na região oeste das Montanhas Rochosas dos Estados Unidos, são maravilhosas e criam o ambiente perfeito para contar uma história que se passa, de fato, no interior dos EUA, evidenciando o grandioso e lindo horizonte do oeste americano. Com certeza, Watkins acertou em cheio na escolha do cenário rural do interior do país para rodar as gravações da série, atendendo com sucesso a proposta que a produção se dispõe a apresentar.
O
elenco de “Outer Range” também se destaca por entregar excelentes atuações. Josh
Brolin interpreta o típico fazendeiro cowboy durão com passado sofrido que luta
para proteger suas terras e sua família a todo custo, não medindo esforços para
manter a família unida e sua propriedade intacta. No mesmo diapasão, Lili Taylor (de “O Preço de Um
Resgate”, 1996) – que interpreta Cecilia Abbott, a esposa de Royal – entrega
uma personagem forte que trilha o mesmo caminho conservador e familiar, além de
ser a base emocional e religiosa da família Abbott. Os dois personagens, mesmo
com certas diferenças, conseguem criar dois filhos com um estilo de vida
conservador e digno de famílias interioranas, com base em tradições e costumes.
Em contrapartida (de forma extremamente perceptível), Will Patton entrega uma atuação incrivelmente potente ao interpretar Wayne Tillerson, um fazendeiro rico e ganancioso que preza mais os lucros e a riqueza acima de qualquer outra coisa. Isso faz dele e de sua família um clã extremamente perigoso, colocando em risco a segurança e tranquilidade dos Abbotts, vizinhos de sua propriedade. É o contraste perfeito dos personagens, que faz de Wayne um ótimo (frio e calculista) antagonista da série. Imogen Poots entrega uma atuação bem convincente, ao interpretar uma personagem enigmática e inteligente, não revelando nada mais do que uma camada superficial de sua pessoa. Com isso, ela se torna uma personagem suspeita durante toda a série, dificilmente deixando rastros sobre suas reais intenções naquele lugar.
Outro
ponto que merece destaque é sobre a Trilha Sonora, composta por Danny Bensi e
Saunder Jurriaans (de “Tokyo Vice”, 2022). A dupla conseguiu construir uma
trilha muito bem elaborada e adequada à proposta, conseguindo combinar
perfeitamente um estilo que reflete a vida country do interior daquela região
com um clima sombrio típico de produções de ficção científicas. Isso deu a “Outer
Range” o tom tenso necessário para explorar as cenas de suspense e mistério.
De forma bem enigmática e cheio de reviravoltas, “Outer Range” apresenta um show com base no estilo cowboy para introduzir questões misteriosas e inexplicáveis. O clima tenso é proporcional à mistura de dois gêneros clássicos, faroeste e ficção científica, sabendo dosar em iguais medidas até onde um fator interfere no outro. A rivalidade entre os dois fazendeiros pelo domínio de suas propriedades vai sendo testada até o momento em que um enorme e misterioso buraco no meio da pastagem desafia a lógica sobre tempo e espaço; interferindo, assim, no cotidiano daquelas pessoas e alterando determinados eventos, de forma sobrenatural. O estilo de vida de pessoas comuns tentando sobreviver com seus problemas cotidianos é bruscamente afetado por uma força externa estranha e toma um rumo na história completamente surpreendente.
“Outer
Range” inovou ao apresentar uma narrativa que mescla os dois gêneros
cinematográficos, unindo elementos sobrenaturais, mistérios e dramas familiares
ao abordar uma história sobre o desconhecido em meio ao vasto oeste americano. Acontecimentos
ainda inexplicáveis vão ficando cada vez mais incompreensíveis à medida que o
tempo passa, aumentando o desespero e a rivalidade entre as pessoas daquele
lugar. A série vai sendo explorada de forma a não revelar, de bandeja, toda a
verdade sobre o buraco, tão pouco sobre os mistérios e os perigos que o
envolvem. O desenrolar da trama vai sendo construída de tal forma que uma compreensão
maior sobre o buraco pode ser entendida quando se chega no último capítulo,
obrigando o público a questionar sobre todos os acontecimentos anteriormente
apresentados, encaixando peça por peça ao final da primeira temporada. A série em tela é uma produção impactante, envolvente e visualmente deslumbrante, prendendo
a atenção com suas teorias e mistérios, mesmo que não apresente todas as
respostas e explicações necessárias.
“Outer Range” está disponível na Amazon Prime Video.
Nota: 9.0
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