Fantasmas do Passado entrega suspense que expõe o privilégio branco e o racismo institucional e estrutural.
Críticas sociais em filmes de suspense e terror têm se tornado tendência. Afinal, quem disse que esse gênero deve se ater apenas aos elementos de sempre, como assombrações, monstros e serial killers com pouquíssima contextualização?
Mariama Diallo tem sua estreia como diretora trazendo pra jogo o debate sobre o racismo em uma universidade predominantemente branca, aproveitando-se de sua própria experiência como mulher negra em Yale. E como verão a seguir, ela consegue colocar o dedo na ferida.
Master, que no Brasil recebeu o nome de Fantasmas do Passado, é um suspense estadunidense escrito e dirigido por Mariama Diallo. O filme teve sua estreia no Festival de Sundance em 21 de janeiro de 2022 e foi lançado no Prime Video no dia de 18 de março.
Na história acompanhamos duas mulheres afroamericanas. Uma delas é Gail Bishop (Regina Hall, Nove Desconhecidos) que ocupa um cargo de importância na fictícia Ancaster College, instituição de maioria branca que, segundo seu corpo docente e lideranças, quer tornar a Universidade mais diversa. A personagem de Reginal Hall tem proximidade com Liv Beckman (Amber Gray), uma professora que almeja um cargo efetivo em Ancaster.
Gail, além de lecionar, funciona como uma espécie de mentora que mantém contato direto com os estudantes e tem como uma de suas atribuições fazê-los se sentirem acolhidos no processo de adaptação. Sua tranquilidade começa a ser desafiada quando barulhos e visões inexplicáveis passam a ser cada vez mais rotineiras em sua casa. Em meio a isso, temos contato com a história do passado do campus que teria sido palco do julgamento de uma mulher chamada Margaret Millet, acusada de bruxaria.
A outra mulher em evidência no longa é uma caloura, Jasmine Moore (Zoe Renee). Ela está empolgada em iniciar seus estudos ali, embora precise lidar com os desafios de ser uma das poucas jovens negras de Ancaster. Isso se somará ao fato de ela ser designada justamente para o dormitório considerado assombrado do lugar.
A trama é dividida em capítulos, como uma espécie de diário, que alterna entre o ponto de vista das protagonistas. Pouco a pouco Jasmine conhece a história do quarto que divide com uma estudante da Universidade e começa a ver e ouvir coisas estranhas. Aquilo que seria sobrenatural se mistura aos desafios do real, já que a princípio ela se esforça para ter a sensação de pertencimento, se molda para ser aceita, mas o tempo todo sofre com frases, comportamentos e injúrias raciais.
Não demora até entendermos que a história da bruxa em si é um mero pano de fundo para a verdadeira discussão (o que pode agradar a alguns, mas repelir parte do público que contava com jump scares e similares).
O longa se aproveita de sons, vultos e alegorias para insitar o suspense. Cada foto, quadro carregam consigo informações valiosas para percebermos que pouco mudou do passado para a Ancaster atual.
O filme escancara o racismo institucional e estrutural e mostra que muitas vezes o verdadeiro perigo vem das pessoas e não de assombrações. Master, além disso, suscita muito bem a temática do privilégio branco, bem como o debate sobre como algumas pessoas se apropriam do discurso de diversidade e representatividade apenas de forma vazia para seguir tendência.
É quase impossível não lembrar de Corra! ao assistir Fantasmas do Passado. A ousadia prevalece em ambos, falta, entretanto, uma organização dos fatos a serem contados e uma crescente que se sustente no filme de Diallo. A mensagem impacta igualmente e temos a excelente performance de Regina Hall para tornar a experiência valiosa. Simplesmente assistam.
Nota: 7,5
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