Mesmo com um começo intrigante e bons momentos, o episódio apresenta uma versão quase original do Cavaleiro da Lua, lembrando pouco a versão dos quadrinhos.

Seven Grant é um homem gentil que possui um emprego comum, começa a suspeitar que sua vida pode não ser sua quando um outro que vive dentro dele começa a surgir.

Com a popularização das adaptações de quadrinhos de heróis, até personagens insignificantes e obscuros nos quadrinhos tiveram sucesso em brilhar nas telas e conquistar os corações do público. Alguns exemplos notáveis são os Guardiões da Galáxia, Pacificador, Wanda Maximoff, Loki, etc. E assim, a Marvel Studios continua a sua empreitada de sucesso em expandir a sua grande franquia chamada MCU (Marvel Cinematic Universe, ou simplesmente Universo Cinemático da Marvel) através do serviço de streaming Disney+, dessa vez trazendo o Cavaleiro da Lua para a sua primeira adaptação live-action dentro deste universo tão querido.

Como bem disse no meu texto de personagens (que você pode ler clicando aqui), eu sou um dos grandes 3 fãs do Cavaleiro da Lua que leram quase todos os quadrinhos dele, e tenho uma história bem pessoal com o personagem. Quando falamos de adaptações, é sempre bom lembrar que por mais difícil que seja, os fãs precisam aceitar certas mudanças feitas. Dito isso, a versão que vemos do personagem nesta série é quase uma releitura completa dele, sendo praticamente um personagem original, e tudo… bem, pois a maioria das mudanças feitas FUNCIONAM, e no final é isso o que realmente importa.

O episódio é extremamente confuso e desconexo, e por essa ser a intenção que ele acertou tanto nesse quesito. O roteiro de Jeremy Slater (Umbrella Academy, Death Note), que também é o showrunner, é bem competente em conduzir o piloto de forma “confusa” mas que ainda prenda o espectador, com alguns diálogos e momentos bem legais que lembram os quadrinhos (como a cena em que Steven conversa com uma estátua).

Mas quem carrega essa série (ou no caso, o episódio) nas costas é Oscar Isaac (Duna, Star Wars - Os Últimos Jedi). Não é de hoje que sabemos que Isaac é um dos grandes atores de sua geração, trabalhando com os melhores diretores em alguns dos melhores filmes da última década. Aqui, ele traz muito bem as diferenças das personalidades do Cavaleiro da Lua, com o sotaque britânico ridículo e engraçado de Steven (junto com sua personalidade bobalhona) e a seriedade (com uma fala mais normal) de Marc. Não tem ninguém melhor para esse papel do que ele.

Ethan Hawke (Fé Corrompida, Dia de Treinamento) interpreta o misterioso vilão Arthur Harrow, uma espécie de líder religioso com poderes e filiação à entidade egípcia Ammit. Embora não tenha muito o que se comentar do vilão, visto que o episódio é muito mais focado no protagonista. Já o resto do elenco é composto apenas de personagens terciários que não devem voltar a aparecer na série, com exceção do Deus Khonshu, dublado pelo ator F. Murray Abraham (Amadeus, O Grande Hotel Budapeste). O visual do Deus está perfeito e idêntico aos quadrinhos, mas a sua personalidade fazendo piadinhas sem graça e comentários sarcásticos ficou super destoante e irritante.

A narrativa caótica conduzida pelo diretor Mohamed Diab (Clash, Cairo 678) é o grandes aspecto do episódio, e FINALMENTE temos uma produção recente da Marvel Studios que (tirando alguns momentos onde o cgi não está polido) é visualmente interessante e tem tomadas e takes bem dirigidos, empolgantes e bonitos, algo que eu pessoalmente venho reclamado nas produções da Marvel (Viúva Negra, Homem-Aranha, Shang-Chi, Gavião Arqueiro, etc) que eram visualmente pobres e sem qualquer inspiração. Méritos também para o excelente diretor de fotografia Gregory Middleton (Watchmen, Game of Thrones) que fez um ótimo trabalho nesse episódio. 

Muito se foi questionado sobre o tom da série e se eles iriam finalmente fazer algo mais sombrio ou na linha do que os quadrinhos do personagem ou a série do “Demolidor” da Netflix fizeram. Embora não seja nem um pouco violenta, “bizarra”, sombria ou diferente do que todos imaginavam que ia ser, eles tentam sim fazer coisas diferentes com essa versão reimaginada do Cavaleiro da Lua, e flertam com elementos de terror e momentos de tensão com um tiquinho de violência.

Sem muitos spoilers, mas o episódio termina com a real introdução do Cavaleiro da Lua e seu belíssimo visual, que foi muito bem adaptado pelos figurinistas e artistas visuais da Marvel Studios. Já que o episódio piloto foi bem introdutório para criar os mistérios e dinâmicas que devemos ver pela série, nada mais justo que os episódios sequenciais explorem mais as personalidades de Marc/Steven e foquem mais em sequências de ação com o uniforme.

O começo de “Cavaleiro da Lua” está bem longe de ser ruim, ou genérico como das outras séries da Marvel para o Disney+. Apresenta uma premissa curiosa e minimamente diferente (principalmente dos padrões estabelecidos pela Disney), mas não chega aos pés do que séries do gênero como “Demolidor” ou até mesmo “Pacificador” trazem. Contudo, a série e o personagem possuem um potencial enorme e discussões pertinentes a serem trazidas para o mainstream (sobre distúrbios de personalidades e a saúde mental), e eu espero que a série se mantenha nesse alto nível que o personagem tanto merece, e não se torne que nem as outras produções da Marvel para o serviço que teve um desenvolvimento mediano e uma conclusão agridoce. Até o momento, foi uma estreia bem competente e acertada.

Nota: 8

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