Não é raro que sejam lançados filmes baseados na vida real de uma pessoa, seja de alguém que já morreu ou não; ou, ainda, acerca de algum fato importante e/ou histórico em que esta pessoa (ou grupo de pessoas) está envolvida. Depende muito da abordagem que determinado filme quer propor e como apresentá-la ao público.

O diretor Todd Robinson (“Os Fugitivos”, 2006), que também assina o roteiro, nos traz “Verdade e Honra”, um drama baseado em fatos reais que conta a bela história pouco conhecida sobre um herói da Guerra do Vietnã. O filme em tela foi lançado em 19 de outubro de 2019 e mostra todo um lado burocrático que o governo tem que lidar para conseguir aprovar uma condecoração por bravura para um militar morto em combate.

Na trama de “Verdade e Honra”, o investigador do Departamento de Defesa do Pentágono, Scott Huffman (Sebastian Stan, de “Falcão e o Soldado Invernal”, 2021), recebe a tarefa de revisar o pedido de condecoração ao soldado William H. Pitsenbarger Jr. (Jeremy Irvine, de “Cavalo de Guerra”, 2011), morto na Guerra do Vietnã; pedido este feito pelos seus companheiros de pelotão. Huffman precisa se unir a um grupo de veteranos que lutaram na Operação Abilene, na Guerra do Vietnã, e lutar contra a máquina da política de Washington para tentar convencer o Congresso americano a dar uma Medalha de Honra para o soldado William H. Pitsenbarger Jr., que se sacrificou para salvar 60 soldados durante a Guerra do Vietnã após uma emboscada.

Conhecido como Pits, o soldado William H. Pitsenbarger Jr. teve atuação marcante na Guerra do Vietnã como paraquedista e médico da Força Aérea dos Estados Unidos, que voou em missões de resgate de helicópteros durante a Guerra do Vietnã para ajudar soldados e pilotos derrubados. Entretanto, levou 34 anos após a sua morte para ser devidamente reconhecido pelo exército norte-americano, recebendo a mais alta honraria militar da nação, premiado com a Medalha de Honra por seus serviços e ações no campo de batalha durante a Guerra do Vietnã.

De forma até dinâmico e nada lento, “Verdade e Honra” mostra todo o processo burocrático de como funciona as engrenagens do governo no que tange às investigações acerca dos pedidos de condecorações feitos por companheiros de batalhão e/ou familiares para honrar soldados que perderam suas vidas em campo de batalha. O filme em tela é mais um dentre tantos outros casos envolvendo pedidos de condecorações, tardiamente reconhecidos. Porém, o que o diretor Todd Robinson apenas faz é contar, da forma mais detalhada possível, a forma como Scott Huffman tem que lidar com a situação, conversar com familiares, amigos e todos os envolvidos no caso em questão, além de investigar o que realmente aconteceu, tirar dúvidas, enfrentar dificuldades burocráticas e ver o sofrimento de veteranos tendo que relembrar da dor de uma guerra violenta ao terem que explicar ao investigador sobre detalhes ocorridos envolvendo eles e o soldado William H. Pitsenbarger Jr. durante o episódio em questão em que este salvou outros 60 soldados.

Tudo isso para que se justifique toda uma análise profunda de Huffman sobre o pedido de condecoração e depois enfrentar mais obstáculos para que o Congresso aceite o relatório de recomendação de Honra ao Mérito para o soldado morto em combate: uma homenagem e reconhecimento mais do que justa e merecida a um soldado que deu sua vida para salvar tantos outros de uma guerra sangrenta. E, no meio de tudo isso, o investigador passa por uma transformação pessoal, tendo que lidar com questões que jamais imaginaria terem sido, ou da forma como realmente ocorreram, de fato.


Para que se tenha uma maior e melhor compreensão acerca dos fatos narrados, “Verdade e Honra” apresenta alguns flashbacks do soldado William H. Pitsenbarger Jr. juntamente com o batalhão. Até certo ponto, isso se faz um pouco necessário, até mesmo por causa do impacto dramático, mostrando a bravura e coragem de um soldado salvando seus companheiros.

E “Verdade e Honra” sabe dosar tais cenas na medida certa, sem se prolongar por muito tempo e não sendo cansativas. Até porque o filme em tela não tem o propósito de abordar, necessariamente, uma história de guerra, propriamente dita. O foco central que a trama se propõe a apresentar é relembrar as cenas (pelos companheiros de pelotão) que são relevantes para a investigação de Huffman, que justifiquem a Medalha de Honra póstuma. Além do que, essas cenas também ajudam a dar uma quebrada no ritmo dramático do longa, para que este não fique muito maçante.

Verdade e Honra” não tem a pretensão de se posicionar a favor ou contra a Guerra do Vietnã, nem de exaltar ou desprezar uma guerra violenta que matou milhares de combatentes em campo de batalha e abandonou tantos outros à própria sorte com mutilações, tanto físicas quanto com traumas psicológicos pós-guerra. O foco principal do longa em questão é apenas mostrar o quão difícil e demorado – além de trabalhoso, burocraticamente falando – foi para que o governo, depois de 34 anos, conseguisse reconhecer a bravura de um herói da Guerra do Vietnã, que se sacrificou para salvar outros 60 combatentes.

Com um elenco de prestígio, “Verdade e Honra” reúne nomes de peso, tais como William Hurt (de “Viúva Negra”, 2021), Samuel L. Jackson (de “Capitã Marvel”, 2019), Christopher Plummer (de “Entre Facas e Segredos”, 2019), Ed Harris (de “A Rocha”, 1996) e Peter Fonda (de “Motoqueiro Fantasma”, 2007), para contar uma história pouco conhecida, mas marcante, sobre familiares e companheiros de pelotão que continuaram “lutando”, de certa forma, por 34 anos, para que um soldado morto em batalha seja reconhecido e agraciado com uma homenagem póstuma por seus atos de bravura e coragem e o quanto esse sofrimento pode ser doloroso para todos os envolvidos, mesmo depois de mais de três décadas após o término da guerra. “Verdade e Honra” é um belo e emocionante filme sobre reconhecimento (póstumo), justiça e, indiretamente, sobre um certo descaso que o governo tem pelos veteranos.

Verdade e Honra” não está disponível para assistir em nenhum streaming atualmente.

Nota: 8.5

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