"Nove Desconhecidos" começa empolgando, mas se perde em seu roteiro apressado e despreocupado em convencer.
Inúmeras pessoas, algumas mais outras menos, lidam com conflitos internos o tempo todo. Conflitos esses frutos de um dia-a-dia turbulento de muito trabalho, crises familiares, ou até mesmo traumas mais profundos como a perda de um ente querido. A busca por encontrar a melhor forma para lidar e superar tais impasses é hoje uma tendência que exige coragem e, convenhamos, dinheiro também.
A minissérie da crítica de hoje reúne um grupo de nove desconhecidos com um objetivo em comum. Eles querem virar a página de suas vidas atribuladas e recomeçar, ainda que muitas vezes não estejam realmente convencidos de que precisem disso.
Nine Perfect Strangers, ou Nove Desconhecidos, é uma produção original Hulu, que foi distribuída no Brasil pelo Amazon Prime Video. A minissérie de drama estadunidense é baseada no livro de mesmo nome escrito por Liane Moriarty. Com roteiro de David E. Kelley, criador e produtor de sucessos como Big Little Lies, e John Henry Butterworth, o show teve sua estreia em 18 de agosto no Hulu e chegou ao Prime Video no dia 20 de agosto de 2021.
O show é estrelado por Nicole Kidman, que também assina sua produção executiva. Ela interpreta Masha, terapeuta e fundadora de Tranquillum, um espaço de bem-estar luxuoso e famoso por seus métodos não convencionais de tratamento. Ela recebe nove pacientes, entre eles Francis (Melissa McCarthy), uma escritora que passa por um péssimo momento em sua carreira e vida pessoal; a família Marconi, que busca superar a perda de um dos filhos; Lars (Luke Evans), um homem misterioso que não se abre inicialmente quanto a seu passado e propósito; Ben (Melvin Gregg) e Jessica (Samara Weaving), um casal em busca de reavivar sua relação; Carmel (Regina Hall), uma mãe que tenta superar o término de seu casamento; e Tony (Bobby Cannavale), um dependente químico em busca de tratamento.
A minissérie começa muito bem. Ao longo dos primeiros episódios vamos conhecendo mais a fundo o passado de cada um dos pacientes e suas verdadeiras motivações, assim como vamos nos afeiçoando a algumas histórias mais do que outras.
Michael Shannon, intérprete de Napoleon Marconi, é um dos principais nomes da série. Além do arco de sua família ser o mais interessante e bem trabalhado de todos, os melhores episódios são justamente aqueles com foco em seu personagem. Napoleon é aquele pai que tenta ser a pedra fundamental e aparentar que está bem, para assim ajudar a família a lidar com o luto, no entanto, aos poucos vamos conhecendo o seu lado vulnerável e no terceiro episódio, temos a cena mais linda e profunda de todas, um verdadeiro show de interpretação.
Melissa McCarthy também está muito bem como Francis. Finalmente a atriz ganha uma personagem fora do estereótipo cômico de sempre e em contato com dramas tangíveis. O entrosamento de Francis com Tony é cativante e é talvez o segundo motivo por conseguirmos levar a minissérie até seu final. Além disso, pouca coisa funciona. Outras tramas, como a de Ben e Jessica, mais parecem que estão ali apenas para dar volume, já que ambos são peças apenas superficiais e muito mal trabalhadas.
Ainda que com um início satisfatório e que de certa forma aguce nossa curiosidade por desvendar os mistérios construídos ao redor de sua protagonista e dos pacientes, a partir do quarto episódio, a história se perde. Ainda que Masha seja a grande interrogação da história, o propósito da "guru" não fica claro nem mesmo no final. A série em determinada altura vira um literal surto coletivo, que começa a girar em círculos com soluções que soam improvisadas e muitas "drogas e rock and roll", sem uma contextualização adequada. A história termina sem sabermos se a proposta tinha embasamento científico real ou mais um caráter espiritual, já que essas informações foram jogadas de maneira descuidada e apressada.
Uma equipe auxilia Masha na gestão de Tranquillum. E pensa numa equipe que até parecia que teria uma narrativa própria, mas ao final percebemos que simplesmente não agrega muita coisa. Tiffany Boone (Pequenos Incêndios por Toda Parte), que dá vida a Delilah, é um talento desperdiçado e acaba entregando uma personagem que gera antipatia. Por sua vez, Manny Jacinto (The Good Place) não significa muita coisa pra trama, assim como Glory (Zoe Terakes), e, dessa forma, ambos parecem mais executar uma espécie de figuração, em vez de personagens úteis de fato.
Nicole Kidman entrega uma personagem nova e autêntica, e que é completamente diferente de suas personagens em Big Little Lies e The Undoing, que chegavam a demonstrar semelhanças em vários pontos. É perceptível que o problema em si não está na construção de Masha, mas sim no roteiro, que optou por não trabalhar certas nuances necessárias para nos entregar respostas concretas.
Nove Desconhecidos é diferente de tudo o que você já viu. É exótica, autêntica, mas despreocupada demais em convencer o espectador quanto a seus aspectos mais fantásticos. Se vale a pena ver? O elenco faz valer alguns momentos, no entanto, ela é do tipo fácil de cair no esquecimento. Um verdadeiro desperdício de cast.
Nota: 6,5
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