Uma cruel, triste e depressiva história de um relacionamento “amoroso” de um casal.

Minissérie dramática de televisão que reexamina a representação icônica do amor, ódio, desejo, monogamia, casamento e divórcio através das lentes de um casal americano contemporâneo.

A nova minissérie de drama da HBO é um projeto que adapta a minissérie sueca produzida, escrita e dirigida pelo aclamado diretor Ingmar Bergman (O Sétimo Selo, Morangos Silvestres) lançada em 1973, atualizando para os dias de hoje em uma sociedade americana.

A minissérie que é produzida em parceria com a família do diretor conta com roteiros, produção e direção de Hagai Levi (The Affair, Em Terapia) e seria inicialmente estrelada por Oscar Isaac (Star Wars: Os últimos Jedi, Ex_Machina: Instinto Artificial) e Michelle Williams (Manchester á Beira-Mar, Sete Dias com Marilyn), mas a atriz teve que deixar o elenco por conflitos na agenda, sendo substituída pela atriz Jessica Chastain (A Hora Mais Escura, It - Capítulo 2). A produção da minissérie foi extremamente conturbada, sofrendo paralisações nas filmagens por conta da pandemia.

A premissa é bem simples: analisar o relacionamento de Mira (Chastain) e Jonathan (Isaac), um casal americano na faixa dos seus trinta/quarenta anos que vive em uma casa simples com a sua filhinha pequena (Kopera). Com o passar dos episódios a relação dos dois vai ruindo e vemos como são personagens complexos e até certo ponto reais até demais, com diálogos e discussões fortes que quase sempre resultam em uma cena de sexo (como a maioria das séries da HBO).

O maior ponto a se destacar da minissérie é sem dúvidas as interpretações de Oscar Isaac e Jessica Chastain. Ambos são atores veteranos em Hollywood e já se provaram diversas vezes como ator e atriz de primeiro nível entregando (quase sempre) interpretações fantásticas, e aqui vemos isso mais uma vez. Isaac entrega um personagem meio perdido que têm conflitos internos envolvendo a sua família e religião, já Chastain interpreta uma mulher que se perde em suas decisões que não sabe se consegue equilibrar seu trabalho com a atual vida, mas ambos tem uma coisa em comum: o amor distorcido que tem um pelo outro. Já são fortes concorrentes para as premiações de 2022.

Mesmo focando na dupla principal, a série ainda tem um elenco de apoio que mesmo fazendo brevíssimas aparições, conseguem dar peso a trama, com destaques para Corey Stoll (Homem-Formiga, Meia-Noite em Paris) e Nicole Beharie (Shame, Solos), que interpretam o casal amigo de Miran e Jonathan e Sophia Kopera, que interpreta a filhinha dos protagonistas.

O diretor Hagai Levi disse em algumas entrevistas que esse era o trabalho mais pessoal de sua carreira até hoje. Isso é perceptível pela forma com que conduz as câmeras e trabalha o ambiente da casa, que é frio e ao mesmo tempo vazio (mesmo tendo diversos móveis) que nem os personagens, mostrando o empenho e carinho que está tendo em contar essa história. Seu trabalho nos diálogos, discussões dos personagens e na direção são primorosos, assim como a fotografia de Andrij Parekh (Namorados Para Sempre, Madame Bovary).

Não cheguei a assistir a minissérie original de Bergman, mas logo após o seu encerramento, as taxas de divorcio na Suécia aumentaram em mais de 70%. A nova interpretação dessa história não deve trazer um impacto tão grande, mas dependendo de que tipo de pessoas assista, pode engatilhar alguma emoção ou abrir algumas feridas deixadas por um relacionamento passado.

O ritmo da história e sua narrativa no entanto são bem lentos e podem afastar as pessoas logo no seu piloto. Os episódios seguem estruturas bem simples onde são 50/60 minutos dos dois personagens principais conversando e discutindo suas vidas e relações dentro da casa, com foco forte nos diálogos e interações do casal.

Uma coisa curiosa que vale ressaltar são as cenas de abertura de cada episódio, que são planos sequências mostrando o elenco e membros da produção (de máscaras) chegando aos sets e se preparando para filmar as cenas. Não sei exatamente qual era a intenção do diretor em adicionar essas cenas nas aberturas (e no encerramento) da série, mas elas trazem um tom de "artificialidade" que quebra a "magia" e a imersão do espectador, e podem ser uma forma do diretor ajudar a trabalhar e mostrar como o relacionamento e amor desses personagens são “artificiais”.

A conclusão da minissérie é arrebatadora, e mostra como um final feliz é algo extremamente subjetivo, assim como o amor. O episódio final é a prova que é possível encerrar uma série dramática sobre o relacionamento de um casal complicado de maneira cruel, melancólica e triste sem sequer ter nenhuma discussão ou gritaria. 

“Cenas de um Casamento” é uma série extremamente depressiva e real, mostra um casal completamente desequilibrado e que te provoca raiva, ansiedade e estresse. É muito bem dirigida, escrita e atuada, e com toda certeza deve estar nas principais premiações de 2022 no que envolve produções para a TV/Streaming. É uma produção extremamente difícil de consumir, mas vale cada segundo desse “sofrimento”.

Nota: 9.

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