Sex Education se supera e entrega a sua melhor temporada até o momento. 

Quando você pensa que as pautas haviam se esgotado e que  Sex Education estaria fadada a uma queda natural de qualidade, vem a terceira temporada e mostra que você está absolutamente errado.

Sex Education é uma série britânica de comédia dramática criada por Laurie Nunn, que teve sua terceira temporada lançada na Netflix em 17 de setembro de 2021, após um longo tempo de espera devido à pandemia da COVID-19 que atrasou a agenda de gravações de boa parte das séries.


Sabemos bem que Sex Education não é aquele tipo de série com uma história principal. Temos na verdade variados personagens que interagem entre si e vivem os desafios e descobertas de sua faixa etária. O ponto comum entre todas essas histórias, e que será o pano de fundo da trama em sua nova temporada, é a nova gestão do colégio Moordale. 

Após uma série de eventos rotularem a imagem da escola na mídia como a Escola do Sexo, em especial pela má fama adquirida após o suposto surto de clamídia abordado na segunda temporada, a escola recebe uma nova diretora, Hope Haddon (Jemima Kirke), que está disposta a fazer mudanças substanciais no currículo e nas regras de Moordale, principalmente em seu manual de conduta, visando promover um ambiente, segundo ela, mais apropriado e seguro para o estudo.

Partindo dessa premissa, a série dá uma aula a respeito da importância da educação sexual de qualidade e os perigos por trás da desinformação. A cada um dos seus oito episódios vamos percebendo que as supostas mudanças na verdade não são necessariamente democráticas, e sim um processo de silenciamento contínuo dos estudantes. 

É interessante como Nunn consegue inserir com naturalidade diálogos mais que necessários sobre a abordagem curricular da educação sexual. Tendo em vista que vivemos em um país onde os professores são cada dia mais podados quanto ao ensino desse conteúdo, Sex Education é coerente ao retratar a necessidade de se tratar o tema no ambiente educacional e mostra que optar por não informar o estudante é na verdade a pior escolha possível já que isso só traz  prejuízos, como a disseminação de IST's (infecções sexualmente transmissíveis) e a temida gravidez indesejada.

Laurie Nunn coleciona mais um acerto e traz um roteiro redondo e mais dinâmico do que nunca. Seu texto dá protagonismo a vários de seus personagens, o que torna a série simplesmente deliciosa de se assistir. Até mesmo personagens que antes não tínhamos afeição, como é o caso de Isaac (George Robinson), é apresentado de uma forma diferente e mais leve, deixando de ser encarado com um vilão, mas sim como um personagem passível de erros, como qualquer outro. O diretor Groof (Alistair Petrie), antes um tanto quanto caricato e sisudo, mostra seu lado mais sensível e vulnerável. Finalmente conhecemos mais a fundo Ruby (Mimi Keene), a garota popular da escola, que não tem uma vida familiar fácil. A série mostra que todos têm problemas para lidar e que muitas vezes o que é exposto para a sociedade é apenas uma casca de quem nós realmente somos.

Novos personagens surgem e, consequentemente, agregam novas pautas à série. Como é o caso de Cal (Dua Saleh), que traz à tona o debate sobre a não-binariedade e de como os ambientes escolares muitas vezes são completamente binários e não levam em consideração as particularidades de cada um, preocupando-se apenas em padronizar e gerar números/resultados. Sua relação com Jackson (Keddar Willians-Stirling) é um dos grandes acertos da temporada. O relacionamento de Ola (Patricia Allison) e Lily (Tanya Reynolds) é colocado a teste na nova temporada e com ele o tema bullying é novamente explorado. O debate leva a reflexões profundas sobre até que ponto a sociedade repele tudo aquilo que é diferente dos padrões criados e impostos por ela mesma.

Otis (Asa Butterfield) chega mais fofo do que nunca e avança no sentido de entender seu propósito. Sua amizade com Eric (Ncuti Gatwa) continua aquecendo nossos coraçõezinhos e, após uma segunda temporada que amarra demais sua relação com Maeve (Emma Mackey), na terceira finalmente esse arco é desenvolvido com mais atenção e cuidado, bem do jeito que a gente gosta. Maeve novamente tem sua vida pessoal repleta de turbulências e será desafiada pelo seu próprio temperamento. Tudo isso é feito com um humor acertado, sensibilidade e sem exageros.


O arco sobre a maternidade de Jean (Gillian Anderson) é um dos mais interessantes. O preconceito que mulheres mais velhas sofrem durante sua gestação é abordado de uma forma inteligente e sua história é fundamental para dar uma perspectiva adulta à trama. A nova configuração familiar com a chegada do bebê vai mexer com todos os envolvidos e é fácil se identificar com cada um dos sentimentos levantados. Gillian Anderson está, sem dúvida, em sua melhor temporada e inclusive participa de uma das cenas de mais impacto, ao lado da personagem Aimee (Aimee Lou Wood), que novamente se mostra uma das melhores escolhas da série. 

Outro acerto é o desenrolar do relacionamento entre Eric e Adam (Connor Swindells). É simplesmente incrível ver a evolução e desabrochar de Adam na companhia de Eric e mais interessante ainda perceber que a série não é construída a fim de mostrar pessoas perfeitas, ao contrário, ela mostra que todos estão suscetíveis a erros e ao processo de amadurecimento.


A nova temporada é excelente e já passou da hora de Sex Education ser ao menos indicada nas principais premiações. Essa terceira temporada é a chance disso acontecer. Agora é hora também da série caminhar rumo ao seu desfecho final e deixar saudades enquanto está no seu auge. A Netflix ainda não sinalizou renovação, mas uma quarta temporada pra fechar com chave de ouro, seria o ideal. Nós ficamos na torcida, pois séries que nos ensinam a aprender a amar a nós mesmos e ao próximo deviam ser regra.

Nota: 10,0

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