Genera+ion é um retrato autêntico da geração Z escrito com brilhantismo por uma adolescente.

Não dá pra começar esse texto sem antes descrever o conceito de geração Z. A geração Z é aquela marcada por pessoas nascidas, em média, entre a segunda metade dos anos 1990 e o início do ano 2010, ou seja, ela seria basicamente a sucessão da Geração Y detendo como característica principal o fato de estar no auge da tecnologia, sendo assim essas pessoas estão extremamente familiarizadas com a internet, telefones móveis e a era das redes sociais. E é justamente sobre essa geração que a série da crítica de hoje traz seu desenrolar. 

Genera+ion (lê-se Generation) é uma comédia dramática criada por Zelda Barnz e Daniel Barnz , que estreou em 11 de março de 2021 no HBO Max. Zelda começou a escrever a história de Genera+ion ainda com 16 anos (PASME), com o incentivo de seu pai, Daniel, também diretor e produtor executivo da série. Filha de dois pais, LGBTQIAP+, Zelda, hoje com 19 anos, escreveu uma série com a qual ela se identifica e com um olhar de fato de quem vive a geração Z. E o resultado não poderia ser outro: SUCESSO.

A história em si não tem exatamente um personagem central, apesar de um ou outro se destacar em meio às múltiplas tramas. Acompanhamos na verdade a história de um grupo de adolescentes, cada um com seus dilemas e excentricidades, no explorar de sua sexualidade e relacionamentos típicos da faixa etária. Em comum, todos estudam no ensino médio de um colégio em Orange County, na Califórnia, e de alguma forma se conhecem mais ou menos profundamente.

Nesse contexto temos Chester (Justice Smith), um adolescente gay extremamente seguro acerca de sua sexualidade. Atleta de polo aquático e super popular, ele é tão seguro de si que constantemente desafia regras e padrões escolares que considera opressores, com seu jeito ousado e extrovertido de ser. Temos ainda Nathan (Uly Schlesinger), que é bissexual mas ainda não teve coragem de assumir isso para sua família, ao passo que sua irmã Naomi (Chloe East), está ansiosa para iniciar sua vida sexual. 

Outra personagem, e essa devo dizer que possui um dos arcos mais instigantes da série, é Greta (Haley Sanchez), uma adolescente lésbica de família latina, que tem dificuldades para se socializar por ser extremamente tímida. Temos também a ácida e polêmica Arianna (Nathanya Alexander), filha de dois pais,   Delilah (Lukita Maxwell), uma adolescente extremamente ativista que vê seu mundo desmoronar e Riley (Chase Sui Wonders), uma jovem aspirante a fotógrafa com sérios problemas familiares. 

A série é repleta de representatividade e, por isso é constantemente comparada pela crítica e público com outra série da HBO, Euphoria. As semelhanças de fato existem, embora eu diria que Genera+ion tem um tom bem mais leve e divertido de condução, o que talvez faça lembrar mais o estilo de Sex Education, mas de uma maneira menos satirizada. Ainda que diversos traumas e problemas de seus personagens venham à tona, ela possui alívios cômicos necessários e que fazem toda a diferença.

A estética da série é extremamente interessante, em especial pelo bom uso das cores e cenários diversos que exploram o dia-a-dia dos personagens não apenas na escola, mas em suas casas, em visitas pedagógicas, festas e afins. O uso da linha temporal também dá um charme a parte e cadência ao roteiro. Em um mesmo episódio assistimos às situações sob os pontos de vistas de cada personagem e isso é um excelente recurso na hora de aguçar a curiosidade da audiência com relação a algum fato específico, em especial aquele evento que abre a série e já prende a atenção desde os primeiros minutos.

Genera+ion não é mais uma série adolescente. Ela é fluida e ousada. Aqui a representatividade LGBTQIAP+ não vem como um fardo trágico, como em boa parte das séries e filmes do gênero. Ela se apresenta de forma mais orgânica e dá espaço para que outras problemáticas emerjam. Aqui não há tristeza pela orientação sexual, não que ela não exista no mundo real ainda, mas por essa abordagem estar mais que desgastada. Dessa forma, a série tem sim originalidade e consegue ser autêntica. De fato é possível perceber que não é um adulto por trás daquela escrita, uma vez que há uma série de situações tão cotidianas e de fácil identificação.

De modo geral, todas as tramas de alguma forma são interessantes, todos os personagens têm nuances com as quais somos capazes de nos identificar, mas não tem como não exaltar a atuação de Justice Smith. O ator encarnou com excelência o personagem com todos os seus recursos, voz, gestual, que nos fazem realmente enxergar Chester ali, além do figurino que foi extremamente assertivo e marcante, agregando ainda mais à sua interpretação. Os momentos de drama e suas cenas com o conselheiro Sam (Nathan Stewart-Jarrett) são um espetáculo a parte. E a condução de seu arco é sábia o bastante para nos mostrar que adolescência é sim a fase de se fazer uma tempestade no copo d'água e, em seguida, encarar recomeços.

Outra personagem que se destaca ainda que não seja do núcleo adolescente é a tia de Greta, Ana, interpretada pela atriz trans Nava Mau. Ana usa de seu carisma para nutrir a autoestima de Greta e dos amigos da adolescentes, além de incentivá-la a seguir seu coração e viver sua sexualidade sem medo do que os outros vão pensar. Seus conselhos deixam o coração da gente mais quentinho, assim como sua vivacidade e timing de humor tornam esse núcleo aquele que a gente mais deseja presenciar ao longo dos 16 episódios.

Por falar em 16 episódios, a série é bastante dinâmica, com episódios com em média 30 minutos. Mas 12 episódios teriam sido suficientes, uma vez que após a resolução do primeiro grande evento da série temos uma pequena barriga. Mas nada que o elenco brilhante não torne indolor. 

Até o momento não houve sinal verde com relação à renovação, mas a torcida sem dúvida é grande.

Nota: 9,0

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem