Cruel Summer é um suspense dramático adolescente maduro e que garante reviravoltas de tirar o fôlego.

Cruel Summer é uma série de suspense dramático criada e produzida por Bert V. Royal que após estrear no Freeform em 20 de abril de 2021, chegou ao catálogo do Amazon Prime Video no dia 06 de agosto. Um dos trabalhos conhecidos de Bert V. Royal como roteirista foi o filme estrelado por Emma Stone, A Mentira (2010), que fez sucesso no Brasil entre o público jovem. A série conta ainda com outros grandes nomes na produção, entre eles Jessica Biel, responsável pela bem sucedida The Sinner, e Tia Napolitano produtora de algumas das séries mais queridas do pública como Scandal, Grey's Anatomy e Station 19.

A premissa de Cruel Summer pode afugentar alguns espectadores, já que ela soa como bastante batida. Temos de um lado aquela adolescente extremamente popular no Ensino Médio, Kate Wallis (Olivia Holt), e do outro a menina nerd, Jeanette (Chiara Aurelia), que fica completamente hipnotizada com a vida aparentemente perfeita de Kate e sonha em um dia ser como ela. Como pode perceber, zero novidades até aí. 

A série começa a mostrar a que veio quando a popular Kate Wallis desaparece misteriosamente dando espaço para Jeanette ocupar seu lugar na hierarquia social da escola. A partir daí, inúmeros questionamentos começam a surgir: o que aconteceu com Kate? Jeanette está envolvida com seu desaparecimento ou tudo não passa de coincidência? Em quem podemos ou não confiar?

O mistério da trama é nutrido de forma inteligente no decorrer dos dez episódios e a forma como a história é contada faz toda a diferença. Logo no início de cada episódio somos advertidos de que acompanharemos três linhas temporais distintas, dos anos de 1993, 1994 e 1995. Então não espere uma narrativa com um desenho linear, as idas e vindas no tempo são justamente para nos intrigar e dar margem para que consigamos conhecer melhor sobre a personalidade de cada um dos personagens, além de permitir que criemos nossas próprias teorias.

Essas diferentes linhas temporais vêm acompanhadas de uma fotografia interessante que refletirá a atmosfera de cada período. Começamos com uma "vibe" extremamente colorida e contagiante ainda em 1993 e, aos poucos, isso se transforma em um emaranhado de tons escuros e pouquíssima iluminação quando chegamos ao ano de 1995. Somado a isso, a própria maquiagem, corte de cabelo e figurino das personagens se modifica e contribui e muito para transparecer a essência delas e o amargor adquirido após tantas tragédias e revelações.

Os mistérios aqui são revelados pouco a pouco. O ritmo dessa entrega de informações chega a incomodar um pouco ao longo dos episódios do meio da temporada, mas nada que diminua o interesse por maratoná-la. As reviravoltas são interessantes e difíceis de prever e isso graças a construção bem feita de suas protagonistas e vários outros personagens. Ainda que seja com uma pegada adolescente, o estilo de narrativa de Cruel Summer lembra um pouco o da minissérie da HBO, The Undoing (leia a crítica clicando AQUI), ou seja, é aquele tipo de trama que você questiona o tempo todo a credibilidade de cada personagem e até mesmo acaba sendo manipulado por eles.

Algumas pautas abordadas são extremamente relevantes, entre elas o bullying, a sexualidade, mas especialmente o abuso. A série toca nesse tema sensível com responsabilidade e se utiliza de uma personagem que é terapeuta para mostrar como funciona a mente e como são os comportamentos típicos de abusadores/aliciadores de menores de idade. O roteiro é precavido para não romantizar o assunto, em especial pelo fato da série ter como principal público alvo os jovens.

As duas protagonistas da série se saem muito bem em seus complexos papéis. Tanto Jeanette como Kate sofrem grandes mudanças de temperamento ao longo da história e isso só foi possível graças às boas atuações de Olivia Holt e Chiara Aurelia. Alguns outros personagens também têm uma construção interessante e suas jornadas próprias, desde a complexa Mallory (Harley Quinn Smith), com quem acompanhamos os dramas de uma amizade tóxica, até Cindy,  mãe de Jeanette, interpretada por Sarah Drew (Grey's Anatomy), que apresenta os dilemas de uma mãe que não consegue confiar na própria filha.  

Nem todos os personagens são igualmente cativantes, entretanto. A série peca com alguns excessos e pode flertar com o melodrama barato. Froy Gutierrez, que interpreta Jamie, o inicialmente namorado de Kate, perde a mão no quesito drama e acaba desperdiçando um arco que poderia ser bem mais marcante, ao entregar uma interpretação mediana.

A primeira temporada tem um season finale de tirar o fôlego. Digo inclusive que se Cruel Summer  tivesse sido vendida no formato minissérie e se encerrasse exatamente ao final do décimo episódio, ainda que com alguns pontos em aberto, seria um desfecho fascinante. 

A segunda temporada já foi confirmada, o que é ótimo, mas ao mesmo tempo preocupa. A história terá fôlego para manter o nível do suspense, tendo já revelado seu principal plot twist? Cabe ao roteirista caprichar e impedir que a série se perca num mar de plots pouco relevantes como River Dale e outras similares do gênero.

Nota: 8,0

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