Nicole Kidman e Hugh Grant brilham em um suspense psicológico muito bem dirigido.

O suspense psicológico é um dos gêneros líderes de audiência na TV de todo o mundo. Quem nunca se envolveu profundamente com as mais diferentes narrativas e já se colocou na posição de uma espécie de "investigador-espectador" a fim de descobrir assassinos, motivações, que atire a primeira pedra. A série da crítica de hoje faz bom uso dessa fórmula.

The Undoing é uma minissérie americana de suspense psicológico baseada no livro You Should Have Known, de Jean Hanff Korelitz. O roteiro foi escrito e produzido por David E. Kelley. A direção, por sua vez, é assinada por Susanne Bier e por trás da produção executiva se encontra um dos principais nomes do elenco do show, Nicole Kidman. A minissérie teve sua estreia na HBO no dia 25 de outubro de 2020 e conta com seis episódios.

Na trama acompanhamos a história dos Fraser, uma família da elite nova iorquina que aparentemente mantém uma vida feliz. Grace (Nicole Kidman, Big Little Lies) é uma terapeuta bem sucedida e é casada com o carismático médico oncologista, Jonathan (Hugh Grant, Um lugar Chamado Nothing Hill), com quem tem um filho, Henry (Noah Jupe). Como, rapidamente descobrimos, as aparências de fato enganam. Um assassinato misterioso e o desaparecimento repentino de Jonathan vão virar a vida da família de cabeça para baixo e gerar uma rede de desconfianças.

Ao longo dos seis episódios nos mantemos firmes no objetivo de descobrir quem é o assassino, quais suas motivações e como o fato teria transcorrido. Enquanto isso, somos imersos em uma série de eventos que misturam desde memórias até a imaginação e é justamente esse o diferencial dessa minissérie. 

Assim como os personagens, em especial Grace que é de certa forma o ponto focal da trama e principal ponto de vista apresentado, entramos num dilema complexo de não conseguir confiar em simplesmente ninguém. Tudo é nebuloso propositalmente e a narrativa gira com muita rapidez e inteligência, fazendo com que nos prendamos a tela durante cada minuto. E isso só é possível graças a uma direção absolutamente acertada. Suzanne Bier consegue se apropriar da história e contá-la de uma forma interessante, mesmo que esta seja repleta de obviedades. Além da direção, é claro que o item elenco é outro ponto forte e colossal a ser destacado.

Nicole Kidman interpreta novamente uma mãe que é facilmente manipulada pelo marido. No entanto, não ache que Grace é uma reprise da personagem que a atriz interpreta em Big Little Lies. A terapeuta tem múltiplas camadas e o talento de Nicole consegue entregar novidades.

Mas não dá pra negar que os holofotes da vez estão em Hugh Grant. Em The Undoing ele entrega um dos melhores papéis de sua vida. Jonathan é egocêntrico, narcisista e ao mesmo tempo extremamente sedutor. Seu poder de manipulação consegue transcender as telas e alcançar o público, que o tempo todo fica em dúvida quanto a seu caráter mesmo diante de tantas evidências. Rendeu-lhe indicações aos prêmios da temporada merecidamente, assim como para Kidman.

Não pense que o filho do casal é um simples coadjuvante, pois não é. Henry é uma peça fundamental no enredo e Noah Jupe, que fez sucesso na franquia Um Lugar Silencioso, comprova cada vez mais que é um dos principais atores de sua geração. Ele tem um talento nato para o drama, conseguindo contracenar de igual para igual com artistas de peso.

Vale destacar ainda o atemporal e sempre excepcional Donald Sutherland. Ele interpreta Franklin, pai de Grace. O personagem ganha tempo de tela, à medida que os episódios avançam, e participa de algumas das melhores e mais impactantes cenas de toda a minissérie. Seu personagem é centrado e calculista, mas ao mesmo tempo visceral nos cuidados para com sua família. Noma Dumezweny dá vida a advogada dos Fraser, Haley Fitzgerard, e não dá pra não falar dela. Sua personagem é marcante com sua frieza e poder de articulação que fazem toda a diferença e simplesmente se apodera da cena. Ela brilha em um dos melhores episódios da série, que é o quinto.

A minissérie foi ganhando repercussão ao longo de sua exibição e quebrou recordes, sendo a primeira série original da HBO a ganhar audiência todas as semanas ao longo da temporada. Além disso, seu último episódio foi o mais assistido na emissora desde o final da segunda temporada de Big Little Lies

The Undoing só não fez mais sucesso ainda, pois em seu sexto e último episódio acabou saindo um pouco dos trilhos. Após um desenrolar cativante, a minissérie acaba pecando com os excessos justamente em seu desfecho. Fugas, perseguições e um ar extremamente novelesco e exagerado marcam a metade final do seu episódio de encerramento. O problema não é o clichê em si, mas sim a maneira como ele foi desenvolvido. 

Ainda que com um desfecho de certa maneira desastroso, a trajetória até lá agrada e agrada muito. Minissérie mais que recomendada para os amantes de um bom suspense.

Nota: 8,0

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