"Sex Education" usa de uma linguagem acessível e honesta para tratar de temas que ainda são tabus na sociedade e faz isso com excelência.

Nada melhor do que falar abertamente e com naturalidade de temas que ainda são tabus na sociedade, para então desmistificá-los e, especialmente, informar. Num mundo onde a desinformação é praticamente uma refeição a ser servida, séries que abarquem um amplo público são um excelente canal de transmissão de saberes importantes e Sex Education, tema da crítica de hoje, faz isso com maestria.

Sex Education é uma série  britânica de comédia dramática criada por Laurie Nunn e produzida por Jon Jennings para a Netflix que teve sua estreia no dia 01 de fevereiro de 2019. Com a proximidade do lançamento de sua terceira temporada, eu não poderia deixar de escrever sobre o começo dessa tão bem sucedida história que hoje é, sem dúvida, um dos carros chefes do streaming.

A série narra a vida de Otis (Asa Butterfield), que é filho da Dra. Jean Milburn (Gillian Anderson), uma terapeuta sexual. Apesar do jovem carregar inseguranças quando o assunto é sexo, não dá pra negar que Otis conhece bastante do assunto na teoria, a ponto de saber como ajudar outras pessoas. Juntamente com sua colega de escola, Maeve (Emma Mackey), uma garota de personalidade forte e transgressora, eles montam uma espécie de "clínica" clandestina em assuntos sexuais para aconselhar os estudantes de sua escola. E é com esse pano de fundo que a série consegue explorar com humor e sensibilidade inúmeros temas inerentes à vida sexual ou não, de formas que dificilmente vemos em outro show do gênero.

A começar temos o eixo central da primeira temporada: a amizade entre Otis e Eric (Ncuti Gatwa). A amizade entre um homem heterossexual e um homem homossexual, algo que ainda é encarado por muitos como um tabu, ali acontece da forma mais natural possível e é justamente esse o tom que a série quer apresentar e isso encanta. Por que colocar obstáculos em algo que é natural e tão simples? A amizade dos dois, ainda que atravesse obstáculos no decorrer da trama, é a perfeita representação de uma relação verdadeira, garantindo além de cenas divertidíssimas, algumas realmente tocantes.

No arco de Eric é debatido ainda o bullying e a homofobia, com cenas impactantes que mostram como a sociedade está repleta de pessoas intolerantes e cruéis. Na escola, a prática de bullying e homofobia está relacionada a Adam (Connor Swindells). Filho do diretor de Moordale, ele é aquele típico valentão disposto a importunar e fazer todo o tipo de ofensa. Aos poucos, vamos conhecendo o que constrói essa personalidade tão nociva e o plot twist desse personagem passa a ser um dos grandes pontos altos da temporada.

Maeve é uma jovem repleta de potencial, embora sua criação e infância difíceis não tenham feito com que ela cultivasse sua autoconfiança e, muito menos, autoestima. Sua relação com Otis é o grande ship da série. Otis consegue extrair o melhor de Maeve e ela, por sua vez, consegue fazer com que o rapaz desabroche, já que seu temperamento e personalidade inseguros estão relacionados ao casamento  conturbado dos pais que ele presenciou durante parte de sua vida. Ao longo da temporada, ela se envolve com Jackson (Kedar Willians-Stirling), aluno exemplar e um dos principais atletas da escola que tenta lidar com a pressão imposta pelas mães de ser o melhor o tempo todo. 

Por falar em Otis, com ele e sua "clínica" nos deparamos com o debate de pautas importantes. A vida sexual de adolescentes é explorada de uma forma honesta e despida de protocolos. Vemos desde o debate sobre o vaginismo, aborto, os perigos do revenge porn (exposição da privacidade de alguém), até a importância sobre o autoconhecimento do corpo. A relação com uma mãe tão "moderna" também revela nuances interessantes e permite que façamos contrastes e comparações com o que vemos no nosso próprio dia-a-dia.


Há pouco o que se criticar na série. O tom caricato de alguns personagens às vezes passa da medida, como é o caso do diretor do colégio, Mr. Groof (Alistair Petri). Além disso, temos que lembrar que uma série de adolescentes protagonizada por adultos pode até convencer, mas... até que temporada?

A série possui um figurino interessante que dá um tom colorido e vintage, ao mesmo tempo que é a frente do seu tempo. O elenco é simplesmente fantástico e com um timing de humor extremamente acertado. A cereja do bolo, no entanto, está em seu roteiro construído minuciosamente de modo a criar arcos com personagens variados e repletos de mensagens importantes que não sobrecarregam seus protagonistas e tornam a série cativante do começo ao fim. Por mais séries como Sex Education

A terceira temporada de Sex Education estreia no dia 17 de setembro na Netflix.


Nota: 9,0

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