The Chair é uma série com múltiplas pautas relevantes, mas de soluções um tanto quanto rasas.

Sandra Oh é uma das atrizes mais talentosas e famosas no mundo da TV. E também não é pra menos. Após uma década interpretando a médica Dra. Cristina Yang, uma das personagens mais amadas e carismáticas da série de sucesso estrondoso, Grey's Anatomy, e após faturar o prêmio Globo de Ouro em 2019 por sua atuação na série investigativa Killing Eve, é natural que queiramos conhecer outros trabalhos dessa atriz, que devo dizer é uma das mais versáteis da indústria na atualidade.

A série de hoje é original da Netflix e se chama The Chair. A comédia dramática conta com seis episódios e foi criada por Amanda Peet e Annie Julia Wyman. Pra quem não reconheceu o nome, Amanda Peet é conhecida especialmente por seu trabalho como atriz, sendo ela  protagonista de uma série conhecida no início dos anos 2000, Jack e Jill e de filmes como 2012. Além de roteirista do show, ela também assina a produção executiva, ao lado de David Benioff e D. B. Weiss, estes reconhecidos por seus trabalhos em Game of Thrones. A série foi lançada no catálogo do streaming no dia 20 de agosto deste ano.

Sua premissa mostra o dia-a-dia da Universidade de Pembroke, onde a Dra. Ji-Yoon Kim (Sandra Oh) acaba de ser a primeira pessoa não branca a ocupar a cadeira (o que faz jus ao nome da série) de chefe do departamento de Inglês. Ela só não esperava rapidamente receber em sua mesa uma lista com possíveis nomes de professores para demissão, o que vai de encontro com sua personalidade excessivamente apaziguadora e justa. Além disso, o fato de ser próxima de um dos professores pode atrapalhar seu julgamento em variados contextos. Na correria de sua carreira, ela é ainda uma mãe solo que cria uma menina de um temperamento nem um pouco fácil.

The Chair debate a convivência entre gerações. Acompanhamos um ambiente acadêmico conservador majoritariamente branco e masculino, onde existem predominantemente professores idosos, renomados e extremamente competentes, mas que não estão dispostos a se atualizar e aprender o que há de novo com a nova geração, sendo muitas vezes até mesmo soberbos e resistentes quanto a essa troca de conhecimentos. Da mesma forma, vemos jovens resolutos e por vezes indispostos a aprender com aqueles que têm muito o que passar. A série faz bem esse contraponto, sem escolher lados, mas também não aprofunda  questões importantes como a diversidade e misoginia, que, apesar de aparecerem, têm desenvolvimentos bem genéricos. 

Nesse contato entre gerações a comédia é utilizada de uma forma leve e muito acertada, se aproveitando de uma das muitas habilidades que Sandra Oh tem, seu timing para humor preciso e com ironia na medida. Assim como Oh, devo ressaltar a brilhante atuação de Holland Taylor. Ela dá vida a uma das poucas professoras mulheres do departamento, Joan Hambling, que está em busca de um escritório que seja bem localizado, como de todos os outros colegas homens, após mais de 30 anos aceitando condições inferiores de trabalho sem questionar. Taylor rouba a cena e não me surpreenderia a atriz de 78 anos receber indicações na temporada por seu trabalho em The Chair.

A série tenta dualizar com o drama ao explorar pautas relevantes como o discurso de ódio e a cultura do cancelamento, através de outro personagem de destaque, o professor Bill Dobson, interpretado por Jay Duplass. Seu arco aborda como o processo do luto pode ser doloroso e complexo e mostra ainda que determinadas ações podem tomar proporções gigantescas na era das tecnologias digitais e representar pro outro algo completamente diferente do que você imaginou a princípio. Quando eu digo TENTA dualizar, é porque o resultado não é satisfatório. Antes que um tema seja aprofundado, situações pouco relevantes aparecem e jogam água fria na trama, que acaba não conseguindo fugir a uma abordagem mais superficial. E é justamente isso que não emplaca The Chair. Ele acaba sendo aquele  seriado sem comoção, que não nos cativa a dar o play no episódio seguinte.

Sandra Oh comprova mais uma vez que não é artista de um papel só. Ainda assim, ela não é suficiente para conduzir o navio. São pautas demais e poucas soluções, ou até mesmo quando tais pautas são solucionadas, estas são rasas demais para o tamanho da importância do tema. Dessa forma, o final do show nem ao menos parece um final de temporada e você abre o menu para conferir se de fato aquele era o último episódio.

Se você está à procura de algo simples, leve e despretensioso ao extremo, The Chair certamente vai lhe agradar. Se busca algo mais, sairá um pouco desapontado. 

Mesmo sendo uma obra mediana, não dá pra negar que existem ensinamentos e reflexões importantes sobre a necessidade do mundo acadêmico de acompanhar as mudanças inerentes da sociedade. Mas se houver renovação da série para uma segunda temporada,  serão necessárias mudanças urgentes, ou o barco afundará de vez.


Nota: 6,5 


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