Apesar do roteiro raso, "Viúva Negra" entrega um bom filme de ação e traz uma despedida honrosa de Scarlett Johansson do papel.

O tão esperado filme da Viúva Negra está finalmente entre nós. Após consecutivos adiamentos e um timing pra lá de questionável, tendo em vista o destino da personagem no MCU, o filme de uma das vingadoras mais carismáticas e queridas do público finalmente estreou nos cinemas e no acesso premium do Disney+.


Se olharmos para trás, já em 2004 se falava de um filme centrado nessa personagem. Nesse período, entretanto, ainda era a Lionsgate que estava desenvolvendo o projeto. Foi em 2006 que a Marvel Studios deteve os direitos do filme da personagem e a incorporou no universo cinematográfico pela primeira vez em 2010, em Homem de Ferro 2. A partir daí, muito se reverberou sobre a possibilidade de um filme solo da espiã e vingadora que, no entanto, só foi efetivamente sair do papel no final de 2017.

Produzido pela Marvel Studios, este é o vigésimo quarto filme do Universo Cinematográfico da Marvel e o pontapé inicial para a chamada fase 4 do MCU. O filme conta com uma mulher na direção, Cate Shortland, e é sempre bom exaltar isso, especialmente quando se trata de apenas o segundo filme solo de uma heroínA entre 24 filmes e o primeiro dirigido sozinho por uma mulher. O roteiro, por sua vez, é assinado por Eric Pearson, responsável por roteiros de longas-metragens como Thor: Ragnarok e Godzilla vs Kong

Vale lembrar: a crítica a seguir NÃO contém spoilers.

Diferente do que muitos imaginavam a princípio, Viúva Negra (Black Widow) não é exatamente um filme de origem ainda que retrate a infância de sua protagonista Natasha Romanoff, interpretada mais uma vez pela talentosíssima Scarlett Johansson. Seu filme solo se passa na verdade após os eventos de Capitão América: Guerra Civil (2016). Natasha está em fuga após a violação do tratado de Sokovia e, enquanto se esconde, assim como Rogers e outros membros dos vingadores, ela precisará enfrentar um inimigo totalmente associado ao seu passado como assassina.

O filme tem o sabor da despedida da personagem de Johansson? Sem dúvida (ainda que não tenhamos total certeza quanto a isso). Ela novamente entrega uma personagem forte e obstinada, embora ao mesmo tempo consiga demonstrar um lado mais emocional,  capaz de despertar o melhor dos outros e que fora desenvolvido no tempo ao lado dos Vingadores. 

Com mais tempo de tela, é possível perceber o quão versátil é Natasha Romanoff. Apesar de ser uma vingadora desprovida de poderes e que não detém algum acessório ou arma marcante, como acontece no caso do Falcão ou do Gavião Arqueiro, por exemplo, o longa não poupa nas sequências de lutas para exaltar suas habilidades técnicas muitas vezes menosprezadas. O primeiro ato do filme tem cenas de tirar o fôlego e comprovam a riqueza de repertório físico e tático da personagem.

A direção de uma mulher fez toda a diferença na abordagem da Viúva Negra. Houve todo um cuidado para não sexualizar, não apenas ela, como todas as outras personagens femininas e realmente entregar cenas de ação e sequências de confronto que não ficam a dever em nada para filmes protagonizados por homens, o que é um enorme contraste quando comparado com o início da personagem no MCU, ainda no filme Homem de Ferro 2 (2010), no qual ela foi tão objetificada que mais parecia um acessório do que uma heroína propriamente dita.

No contato com seu inimigo do passado é que Natasha se depara com o mais próximo que teve de uma família e é assim que conhecemos Yelena Belova (Florence Pugh, Adoráveis Mulheres). A herdeira do legado da personagem Viúva Negra se mostra uma personagem dura mas ao mesmo tempo carismática e com um timing para o humor pra lá de acertado, algo que não é um traço marcante na personalidade de Natasha e que abre um enorme leque de possibilidades no universo compartilhado.

Aproveito para enfatizar que Yelena é pivô de uma das cenas mais hilárias e debochadas de todo o longa. Daquelas que dá vontade de rir alto. Sabemos que esse é um recurso muito utilizado pela Marvel para atrair diferentes públicos alvos para os cinemas e isso só me faz imaginar no futuro um diálogo entre ela e Kate Bishop, que será interpretada pela brilhante atriz Hailee Steinfeld, que tem um viés cômico igualmente apurado.

David Harbour é mais uma adição fenomenal do elenco. Famoso pelo seu personagem na série Stranger Things (2016), em Viúva Negra ele interpreta mais uma figura do passado de Natasha, Alexei Shostakov. Além de alívio cômico, ele dá vida ao Guardião vermelho, um personagem interessante, exótico e que ainda pode ser muito aproveitado, já que o filme não o explorou da melhor forma possível. 

Rachel Weisz, apesar de excelente atriz, pareceu um pouco deslocada na trama. Um pouco menos de ação e talvez um pouco mais de acesso a história de sua personagem Melina Vostokoff, teria agregado bem mais. E esse talvez seja o ponto fraco do longa. O foco ficou tanto na ação, que o roteiro do filme em si é tão frágil e simples, que até mesmo seus vilões não emplacam.

Se não fosse pelo elenco e pela ação, que já é traço marcante da Marvel, possivelmente o filme cairia no esquecimento. Eric Pearson costuma apoiar seus roteiros basicamente em explosões e piadas e esquece de fato de dar ao espectador uma história coesa e atrativa. O filme tem zero surpresas, e seu enredo é reto e totalmente previsível. Os vilões quase passam batidos à nossa atenção e não nos causam temor algum. O Treinador, personagem marcante nos quadrinhos é um mero coadjuvante, assim como Dreykov não tem tempo suficiente para nos intimidar e causar comoção.

Como em boa parte dos filmes da Marvel, alguns exageros sempre acontecem e esses se concentram no terceiro ato do filme. Tem hora que até mesmo parece que Natasha Romanoff é uma super soldado dado os excessos de algumas cenas de ação, em especial na batalha na Sala Vermelha.

O final nos reserva uma cena pós-crédito de respeito. Ahhh como eu adoro essas surpresas escondidas nos pós-créditos! Daquela que faz o coração dar uma acelerada pela riqueza de conexões e desdobramentos passíveis a partir daí. Por isso, se ligue e não deixe de assistir. 

Em suma, o roteiro da forma como foi concebido faria muito mais sentido em 2017, antes de sabermos o que acontece em Vingadores: Ultimato (2019). No entanto, sob a ótica do universo compartilhado, o filme deixa de se tratar de Natasha e passa a ser a introdução de uma nova vingadora, Yelena. Se assistirmos com essa visão, Viúva Negra é um bom filme. Diverte e se despede dignamente de Natasha Romanoff que, sem dúvida, deixará saudades!

Agora conta aí nos comentários suas impressões sobre o filme!

Nota: 7,0


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