Apesar de muitos furos no roteiro, novo filme da Netflix é uma boa mistura de suspense e ficção científica.


O que faz um bom filme? Dependendo do espectador que assiste, a reposta pode variar, mas é seguro afirmar que uma boa produção cinematográfica é aquela que entretêm o público. Dentro os variados gêneros de filmes existentes, o suspense e a ficção científica sempre se destacaram mundialmente pelo poder de dar asas à imaginação do público e poder transportá-los para uma nova realidade. 

É sempre prazeroso conferir uma produção que você não apenas absorve o conteúdo apresentado, mas também participa dele. Especialmente com filmes de mistério, esse sentimento de participação é mais nítido, visto que o público sempre tenta juntar as pistas deixadas pelo enredo de modo a solucionar o grande mistério. Claro que para não deixar tudo fácil, a equipe criativa ludibria a audiência com meias verdades e informações que levam a conclusões incorretas, tudo para chocar com a revelação bombástica ao final da obra.

'Oxigênio' é uma dessas obras que sente prazer em frustrar as expectativas, ainda que não faça isso de modo tão interessante quanto outras produções. Dirigido por Alexandre Aja (Predadores Assassinos), o filme é uma produção francesa que foi adquirida pela Netflix e lançada na última quarta-feira (15). A trama conta a história de uma mulher (Mélanie Laurent) que acorda numa cápsula médica sem lembranças de como ou porquê foi parar ali, para piorar a situação, o oxigênio está se esgotando rapidamente e ela deve correr contra o tempo para salvar sua vida. 

A premissa não é das mais originais, o filme 'Enterrado Vivo' é uma forte inspiração para o enredo, então para dar um ar de inovação, o roteiro de Christie LeBlanc adiciona muitos elementos de horror sci-fi para dar uma identidade própria para a obra. Toda a narrativa é apresentada pelo ponto de vista de Elizabeth Hansen interpretada pela atriz francesa Mélanie Laurent, a personagem, assim como o público, está descobrindo tudo pela primeira vez. 


Como a personagem está sem traços de personalidade definidos por conta da amnésia, o texto usa a situação de confinamento como elemento empático para fazer o espectador torcer para ela e funciona. Mélanie Laurent transmite brilhantemente toda a dor e angústia que uma pessoa teria na situação de Elizabeth, porém mais do que apenas chorar, ela também ganha simpatia por seu sarcasmo e criatividade na superação de adversidades.  

A direção também contorna sabiamente o problema da limitação do cenário e aposta numa série de enquadramentos e jogos de câmera que explorem o máximo possível da cápsula médica. Por exemplo, o uso dos super closes para captar toda a claustrofobia do ambiente e close-ups no rosto para realçar o desespero da protagonista. Até mesmo nos flashbacks apresentados quando Liz se lembra de uma nova informação, a câmera sempre filma os personagens com ângulos fechados para realçar o senso de mistério da narrativa. 

A criatividade na parte visual não é acompanhada pelo roteiro, quanto mais a trama avança, menos o filme faz sentido. É necessária uma grande suspensão de descrença para não questionar a lógica dos acontecimentos, especialmente, quando o próprio roteiro não sabe bem para onde quer levar a história. Nos primeiros parágrafos da crítica, mencionei o quanto é excitante tentar resolver mistérios, mas que nem sempre nossas conjecturas são assertivas. Esse filme é um bom exemplo de que menos é mais, toda vez que os eventos começam a formar uma lógica, surge uma nova informação ou problema que faz o público questionar o que está sendo desenvolvido. 

Na tentativa de manter o plot-twist desapercebido, várias informações estabelecidas pela própria narrativa são ignoradas, gerando vários furos no roteiro. A taxa de oxigênio da cápsula cai conforme o texto precisa que as cenas funcionem, se o momento exigir uma longa duração, o oxigênio fica estável, mas caso contrário, começa a despencar numa velocidade astronômica para deixar o clima ainda mais tenso. Esse problema de lógica se estende para outros segmentos, deixando nítido que a cadência de eventos não é feita de modo orgânico. 

O design de produção é bem simples, os elementos de horror sci-fi são empregados em cores bem claras reforçando um perigo inerente ao uso da tecnologia tal como em '2001: Uma Odisseia no Espaço' e 'Ex-Machina: Instinto Artificial'. O final irá dividir opiniões, ainda que possa ser considerado exagerado, funciona de uma perspectiva humanista.

'Oxigênio' pode não ser o melhor filme de 2021, mas oferece bastantes elementos de entretenimento para o público.

Nota: 6,5

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