Minissérie da HBO acaba não inovando em nada, mas é carregada pela incrível atuação de Kate Winslet e drama policial que prende o espectador até o final.

Em Mare of Easttown, uma detetive (Kate Winslet) de uma pequena cidade da Pensilvânia decide investigar o assassinato de um cidadão local, enquanto tenta de tudo para não deixar que seus problemas pessoais façam sua vida desmoronar ao seu redor.

Anunciada em Janeiro de 2019, a minissérie da HBO foi criada por por Brad Ingelsby (O Caminho de Volta) e Craig Zobel (The Leftovers e Westworld), que também serviu como roteirista, showrunner, produtor executivo e diretor da minissérie. Outros nomes que chamaram a atenção do público na produção foram do diretor Gavin O’Connor (Guerreiro, O Contador) e da atriz Kate Winslet (Titanic, Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças), que além de produtora estrela a minissérie.

Embora “Mare of Easttown” seja uma série super “ok”, rapidamente chamou a atenção da crítica e do público geral, gerando um certo burburinho. Muito desse sucesso se dá não só pelo ótimo elenco composto de nomes como Evan Peters (WandaVision), Guy Pearce (Amnésia), Jean Smart (Watchmen), Julianne Nicholson (Eu, Tonya), David Denman (The Office), Angourie Rice (Homem-Aranha: De Volta ao Lar) e outros, mas sim a qualidade do roteiro e o suspense/mistério criado em volta do assassinato.

Dentre todas as performances, as que roubam a série com toda a certeza são as de Kate Winslet e Jean Smart. Winslet interpreta Mare Sheehan, a protagonista da série e uma mulher dura, amargurada e que não superou a morte de seu filho, que cometeu suicídio. É uma personagem extremamente problemática, difícil de se lidar e ainda tem que investigar um novo assassinato que assola a pequena cidade. A personagem é cativante embora muitas vezes cometa atos questionáveis, fazendo a personagem cair como uma luva nas mãos de Winslet.

Já Jean Smart interpreta Helen Sheehan, mãe atrapalhada de Mare que vive com a filha e ajuda ela a cuidar da casa e de seu bisneto. A personagem é extremamente carismática e gera grande parte do alívio cômico da minissérie, enquanto tem uma das cenas mais emocionantes de toda a história. Uma personagem marcada por decisões ruins do passado, mas que se deu o direito de perdoar e se perdoar, sendo facilmente uma das melhores personagens de toda a minissérie. A interpretação de Smart com certeza lhe dará no mínimo uma indicação a melhor atriz coadjuvante em minissérie (muito pela cena do almoço no último episódio).

Os mistérios e investigações são muito bem conduzidos ao longo dos sete episódios, com algumas tramas secundárias e outros casos se conectando com a investigação principal. O desenrolar da investigação é cativante e prende o espectador, cheio de reviravoltas e momentos chocantes.

Um dos pontos mais baixos da minissérie é a direção de Craig Zobel, sendo competente mas pouco inspirada. A fotografia também é operante, não tendo takes ou shots marcantes, sendo a paleta de cores azuis e “frias” que casam com o clima frio e depressivo da série o único fator visual interessante.

Em contrapartida, a série tem uma linguagem bem moderna e uma representatividade bem bacana. Todo o arco da personagem Siobhan Sheehan (Angourie Rice) passa uma sensação de “filler” em alguns episódios, mas é uma representatividade boa em tornar casais LGBTQ como algo normal dentro de uma série.

A série aborda dentre vários temas o luto e a paternidade. Todos os personagens têm relacionamentos conflitantes com seus filhos, e as tramas pessoais giram em torno de salvarem eles ou procurar uma forma de entendê-los, e isso é algo que se estende até o último minuto da minissérie. O arco de Mare com sua mãe, de Lori com seu filho, de Mare procurando superar a morte de seu filho, da luta pela custódia do neto, etc. A maneira que a série acha de encaixar esses relacionamentos com a trama de investigação do assassinato (que também envolve pais e filhos) é primoroso.

O episódio final fecha muito bem a história e as tramas criadas, não deixando brechas para futuras temporadas. O plot twist no final realça muito bem o tema central e mostra até onde uma mãe/pai está disposto a fazer para salvar seu filho.

Mesmo com alguns deslizes, “Mare of Easttown” é mais uma excelente produção da HBO recheada de ótimas atuações e mistérios intrigantes, além de possuir camadas e tocar em temas como superação, luto e família. A minissérie com certeza estará presente nas premiações futuras e deve levar algumas estatuetas.

Nota: 9.

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