Nova animação da DC Comics explora a icônica equipe dos quadrinhos clássicos, acertando no tom, fan service e personagens.

A Sociedade da Justiça da América (SJA) foi o primeiro grupo de super-heróis a surgir na Era de Ouro dos quadrinhos, sendo uma criação dos escritores Sheldon Mayer e Gardner Fox. A equipe costuma ser utilizada em histórias de guerra, especialmente, a Segunda Guerra Mundial, época na qual a maior parte dos personagens de quadrinhos nasceram. A equipe teve diversas formações ao longo dos anos e devido às inúmeras mudanças na timeline das HQs da DC Comics, a SJA tem uma das origens mais complicadas de acompanhar.

O novo filme do Universo Animado da DC, 'Sociedade da Justiça: Segunda Guerra Mundial', traz diversos personagens das histórias clássicas, homenageando toda a mitologia do grupo. Dirigido por Jeff Wamester, a aventura começa apresentando rapidamente os integrantes da equipe e seus poderes, a formação é composta por: Mulher-Maravilha (Stana Katic), Homem-Hora (Matthew Mercer), Gavião Negro (Omid Abtahi), Canário Negro (Elysia Rotaru), Jay Garrick (Armen Taylor)e Steve Trevor (Chris Diamantopoulos). A missão do grupo é terminar o domínio dos nazistas sobre a Europa, mas não será facil, pois, os inimigos possuem acessos a poderosos artefatos mágicos que podem mudar a balança de poder no campo de batalha.

Após essa breve introdução, a história passa para a Metrópolis futurista vista em 'Superman: O Homem do Amanhã' e nos apresenta o Flash de Barry Allen (Matt Bomer) numa tentativa de encontro com sua namorada Iris West (Ashleigh LaThrop). É claro que algo tira o casal de seu passeio, Barry vai até o Superman (Darren Criss) para ajudá-lo numa batalha contra Brainiac, mas por um descuido, o Velocista Escarlate acaba indo parar num período temporal distinto onde vê a equipe da Sociedade lutando contra as forças do Eixo.

Por mais básica que a premissa da trama pareça, acredite, ela esconde muitas boas supresas para os fãs. Poucas vezes vi um filme live-action ou de animação lidar com uma gama tão vasta de personagens e conseguir utilizar todos de maneira satisfatória. Cada personagem tem seus poderes, limitações e medos bem definidos pelo roteiro, não há ninguém deslocado, a dinâmica da equipe é muito bem equilibrada. A química entre os heróis foi fundamental para isso funcionar, o texto faz uso de duplas para se aprofundar nas relações, por exemplo, a Mulher-Maravilha e Steve Trevor tem um romance implícito que não se concretiza, mas ambos tem um olhar apaixonado e a certeza de que devem cumprir seus deveres para assegurar a paz mundial. O Homem-Hora e Jay Garrick são os cientistas da equipe, possuindo um entendimento mútuo sobre as limitações que o time deve enfrentar, enquanto Gavião Negro e Canário Negro são dotados de um sentimento de dúvida pelas perdas que sofreram.

Barry Allen funciona como os olhos do público nessa história, tentando juntar as peças do que está acontecendo e retonar para casa. Se você já leu alguma coisa da SJA, vai ficar impressionado com o tamanho respeito com que a equipe de roteiristas deu para o material fonte quando escreveu essa adaptação. Existem inúmeras referências às diferentes encarnações do time de heróis, mas é um fan service que agrega valor para a história, mantendo o público interessado nas possíveis reviravoltas. Não confunda respeito com adaptação literal, existem mudanças feitas para se adequar à trama do filme, porém, a essência do que é a Sociedade da Justiça da América foi perfeitamente traduzida para a tela.

O texto faz um alento ao heroísmo clássico no qual os personagens lutam pela "verdade, justiça e o modo americano". Esse conceito pode soar brega para os tempos atuais, mas é uma referência a um tempo no qual heróis eram fonte de inspiração para o bem, uma mensagem simples e edificante para uma era marcada por turbulências. Apesar de tudo, devo mencionar que o roteiro adapta o bom e mal das HQs, já que a trama funciona à base de muitas conveniências para fluir, não há um senso de perigo e chega um momento em que você acaba adivinhando como tudo irá terminar.

Parece que sempre que os heróis chegam no limite de suas habilidades, sempre existe um poder oculto ou aliado secreto para socorrer, não chega a incomodar, mas é um ponto fraco. Outro ponto negativo reside na fluidez da animação, a movimentação dos personagens ora é boa, ora é irregular. As expressões faciais funcionam na maior parte do tempo, ainda que em cenas que exigem uma emoção mais forte, o rosto deles permaneça estático. O estilo de arte da animação é muito bonito, faz uma homenagem às ilustrações dos quadrinhos clássicos, mantendo uma identidade visual própria.

As cenas de ação exploram bem os poderes dos personagens, mesmo que certas habilidades sejam convenientemente esquecidas para dar destaque para surpresas que o texto deseja implementar. Ainda sim, a pancadaria é muito bem desenhada, inclusive, algumas cenas são bastante inspiradas como na luta da Mulher-Maravilha contra o Aquaman (Liam McIntyre). A resolução da trama é muito bem amarrada, aproveitando tudo o que foi explorado para encerrar uma etapa, mas dando um senso de continuidade muito bem-vindo.

'Sociedade da Justiça: Segunda Guerra Mundial' é uma das adaptações mais fiéis dos quadrinhos da DC e merece ser vista por todos.

Nota: 8,0

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