Espirituosa, nova animação da Disney dialoga sobre empatia e confiança em um longa repleto de ação e gráficos estonteantes. 

Em retrospectiva, existe sempre uma grande expectativa acerca das animações da gigante Disney. E com Raya e o Último Dragão, lançado na última quinta-feira (04/03), a história se repete, mas felizmente, após quase duas horas, o saldo finaliza no positivo. É louvável a capacidade da equipe em proporcionar uma experiência tão inusitada e emocionante mesmo dentro de tantas conveniências narrativas. 

Na trama, acompanhamos o mundo fragmentado de Raya (Kelly Marie Tran) após o sacrifício dos dragões, que coexistiram harmonicamente com os humanos, para impedir os avanços de forças perversas. Agora, com as criaturas emergindo novamente, a guerreira se vê diante de uma busca incansável pelo mitológico último dragão.

Logo, evidencia-se o interessante enredo escolhido para ser o plano de fundo da jornada de nossa protagonista. Baseado em lendas do sudoeste asiático, o filme esbanja uma história com simbologias instigantes e uma repartição de tribos que nos fazem desejar muito mais daquele mundo. O esmero em construir as particularidades de cada tribo, com trejeitos, cenários e figurinos distintos, tornam cada uma delas fascinantes e um puro deleite visual. 

Aliás, que trabalho magistral por parte da equipe de computação gráfica! Existe um esmero notável na construção requintada de detalhes e expressões que nos fazem olhar auspiciosamente para o futuro das animações. Por exemplo, as sequências de luta com espadas são muito bem feitas. De maneira semelhante, esse requinte também recaiu sobre o material promocional do filme que ostenta pôsteres belíssimos. Acompanhado a isso, está uma trilha sonora sem grande destaque (com exceção de uma sequência instrumental no 3 ato), mas que é competente dentro do que é proposto. 

Nesse enredo encantador, temos Raya e seu mascote Tuk-Tuk (Alan Tudyk, você por aqui?) na busca de sua única esperança: um dragão. O detalhe de destaque no arco da protagonista é que ela, inicialmente, não almeja um bem coletivo, a união das tribos na outrora Kumandra, mas apenas atender a um desejo próprio. Diante disso, Raya é alguém desiludida e que, de certa forma, perdeu a fé no próximo. Nesse ponto, a ficção assemelha-se ao mundo real tão individualista e que caminha a passos largos para interações interpessoais pouco significativas ou mesmo inexistentes. Isto posto, é evidente sua evolução no decorrer da trama.  E isso, é claro, é por conta de seu envolvimento com a dragão fêmea carismática e ingênua Sisu (Awkwafina, mais uma vez, em um ótimo timing cômico). Ainda que infantilizada de diversas formas, Sisu funciona como uma bússola moral que guia Raya para fora de seu estado de conforto - solitária, indiferente  e desacreditada. Contudo, é bom salientar que esse background não chega a ser tão explícito, afinal trata-se de uma animação voltada para o público infantil. Diversos desses pontos estão encobertos por muita cor e humor. 

Em antagonismo à Raya, temos a Namaari de Gemma Chan mostrando novamente que, às vezes, "o vilão é o herói da própria história". Felizmente, a personagem não limita-se apenas a isso e rende uma interessante (e até mesmo emocionante) reviravolta no último ato do filme, quebrando o ciclo de repetições que vinham acontecendo. Namaari e Raya constroem uma ótima relação de rivalidade durante a produção. Os demais coadjuvantes funcionam muito bem em suas respectivas funções de causar riso ou em garantir um maior dinamismo na história, com destaque para o pai de Raya, Benja (Daniel Dae Kim) que também tem um ótimo trabalho de dublagem no português. 

Assim sendo, as qualificações supracitadas suprimem um possível incômodo acerca das conveniências de roteiro excessivas que permeiam a produção. Para efeito de análise, há uma facilidade perceptível na resolução dos conflitos apresentados. Desse modo, é praticamente inexistente a atmosfera de urgência e perigo, embora isso não chegue a prejudicar a produção.

De modo geral, Raya and The Last Dragon (no original) expõe sua mensagem de superação das diferenças, confiança e empatia sem soar cafona, mas provocando em seu telespectador um estranho desejo por uma realidade tão utópica. 

Nota: 8,5/10

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