Mank é o típico filme que é aclamado pela crítica, mas que você conta os minutos para que ele acabe.
Filmes em preto e branco, lançados nos tempos de hoje, não são uma novidade. Pelo contrário. Dá até mesmo para considerá-los uma espécie de aposta ou recurso para chamar atenção da crítica. O Artista (2011), por exemplo, levou cinco estatuetas da Academia para casa, incluindo a de melhor filme e Roma (2018), por sua vez, faturou três prêmios, entre eles o de melhor filme estrangeiro. Não dá pra negar o requinte que esse estilo excêntrico de película oferece, trazendo consigo ousadia e dando ênfase a uma parte preciosa de um longa, suas atuações.
O drama traz consigo a biografia de Herman J. Mankiewicz, também conhecido como Mank, que é interpretado pelo brilhante Gary Oldman. Ambientado na velha Hollywood de 1930-1940, acompanhamos a vida complicada do roteirista Mank, enquanto este escrevia o roteiro de um dos que são considerados melhores filmes já produzidos na história do cinema e obra-prima de Orson Welles, Cidadão Kane (1941). Mank tem 60 dias para entregar o roteiro e convive com o alcoolismo autodestrutivo, vício em apostas, isso tudo em um momento onde a indústria do cinema começava a ser permeada mais massivamente pela política. De pano de fundo, temos os Estados Unidos que sofrem as duras consequências da Grande Depressão e a ameaça nazista que assombra crescentemente a Europa.
Um dos recursos utilizados pelo filme para permitir ao telespectador conhecer um pouco mais de Mank e sua trajetória na indústria cinematográfica são os famosos flashbacks. Estes surgem após anúncios datilografados bem marcados, abandonando a linearidade que por vezes é clichê e caracterizando bem o estilo a ser narrado. A partir daí, conhecemos as pessoas que passaram pela vida de Mank, incluindo Orson Welles (Tom Burke), com quem ele divide os créditos de Cidadão Kane, de forma bastante controversa, sendo esse um dos temas explorados pelo drama.
Mank é um homem desbocado, perspicaz, excêntrico e além de servir como o grande observador para as situações que surgem no decorrer do filme, ele sempre deixa sua opinião reflexiva e ácida, mesmo que elas não sirvam para mudar muita coisa. Vemos isso desde a campanha política de Upton Sinclair (Bill Nye), que coloca em debate o temor ao socialismo (uma crítica muito atual por sinal), à segunda Guerra Mundial que bate a porta, bem como os bastidores do cinema que nem sempre são glamorosos.
Devo alertar, no entanto, que nem sempre um filme refinado é consumível pela maior parte do público. O que prende a atenção ao longa, não é a história em si (não mesmo), mas sim sua estética impecável.
Falando especificamente da estética, o filme foi gravado em câmeras digitais e foi posteriormente envelhecido o que deu o toque necessário para o público se sentir imerso no período retratado. O posicionamento de câmeras é impecável e uma marca registrada de Fincher. As transições de cenas, com o escurecimento gradual, gera um efeito nostálgico, que é somado a uma trilha sonora bem encaixada, com uma sonoridade também de época.
O elenco é repleto de grandes nomes. Gary Oldman, ganhador do Oscar por sua atuação em O Destino de uma Nação (2018), onde representou o primeiro ministro britânico Winston Churchill, encarna muito bem seu personagem e certamente deve receber variadas indicações na temporada de premiações, apesar de dificilmente conseguir tirar o prêmio póstumo de Chadwick Boseman. Vale salientar, no entanto, que o personagem de Oldman não fascina como é de se esperar. Mank não desperta empatia suficiente para que criemos um vínculo, ou torçamos por ele, ainda que em cenas mais leves, como as com sua esposa Sarah (Tuppence Middleton, Sense8), ou Rita Alexander, sua assistente (Lily Collins, Emilly em Paris), mostre seu lado mais humano e justo.
Amanda Seyfried (Cartas para Julieta, 2010) retorna em um filme de repercussão, após um tempo mais apagada em Hollywood. Ela interpreta a atriz Marion Davies e entrega um ótimo resultado, que deve lhe render uma provável indicação, mas dificilmente a vitória.
Pra quem é fã de uma arte minuciosa, o filme chega como um prato cheio, em contrapartida, pra quem busca um filme envolvente, Mank desaponta e suas mais de duas horas parecem uma jornada eterna, já que boa parte do público não está por dentro de quem foi Orson Welles e do que sua obra representa, e muito menos acerca do protagonista em questão. Fincher ao mesmo tempo que entrega uma exímia experiência sensorial nos quesitos técnicos, fica a dever no emocional. Mank é chato, por vezes confuso, e moroso.
Mank é favorito a indicação ao Oscar, o que te faz questionar o critério utilizado pela Academia e críticos em geral. Basta os quesitos técnicos para fazer um longa ser premiado em categorias que exigiriam algo mais? Estarão os filmes indicados cada vez mais distantes do grande público? Fica a reflexão.
Nota: 6,0
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