"Tudo Bem no Natal que Vem" usa bem o humor de identificação para arrancar risadas do público e emocionar.
Nada melhor do que assistir um filme natalino nacional pra poder se identificar com acontecimentos que são recorrentes na ceia de Natal de boa parte dos brasileiros. Quem nunca ouviu o famoso: “É pavê ou 'pacumê'?”, ou se enfureceu por encontrar uvas-passas em todos os pratos salgados oferecidos. Quem nunca passou pela correria das compras de última hora com aquelas filas intermináveis nos caixas? Ou teve que aturar aqueles parentes chatos, que adoram pedir dinheiro emprestado em pleno jantar natalino? Nessa atmosfera divertida e familiar é que se desenvolve Tudo Bem no Natal que Vem.
O roteiro é assinado por Paulo Cursino, enquanto a direção conta com Roberto Santucci, ambos responsáveis por O Candidato Honesto e Até que a Sorte nos Separe, e é o primeiro filme natalino brasileiro produzido pela Netflix. O filme já carrega consigo algumas marcas interessantes, sendo o quarto mais visto em todo o mundo, segundo o site Flix Patrol até a data dessa publicação, além de manter a liderança no ranking em diversos países, entre eles Portugal, Alemanha, Suíça, Áustria, Luxemburgo e também no Brasil.
O longa é estrelado por Leandro
Hassum, nome conhecido da comédia brasileira, e conta a história de Jorge, que
tem ódio do Natal pelo fato de ter nascido exatamente nessa data e, como ele
mesmo diz, é impossível dividir tal ocasião com o aniversariante mais famoso de
todos. Jorge é casado com Laura (Elisa Pinheiro) e juntos têm dois lindos
filhos. Ao contrário dele, ela adora o feriado e sempre faz questão de
comemorá-lo com a família e com todos os clichês que a data exige, para o
estresse do marido.
Tudo corria conforme o usual durante
as comemorações natalinas do ano de 2010, as mesmas piadas e tretas de sempre, até
que ele precisa se passar por Papai Noel durante a ocasião e acaba caindo do
telhado de sua casa. A partir daí, Jorge acorda na manhã do dia 24 de dezembro,
só que do ano seguinte, sem se recordar de absolutamente nenhum acontecimento
dos últimos 365 dias. Essa “sina” não para por aí e Jorge passa a ter que
reparar as burradas que ele mesmo faz ao longo dos anos subsequentes, sempre na véspera do Natal, que é quando supostamente o Jorge acidentado “desperta”.
A leveza e a simplicidade do roteiro
são um prato cheio que se alia à identificação imediata com os elementos do nosso cotidiano. O tom de humor utilizado no filme é aquele característico de
Hassum. Bem no estilo pastelão e caricato, que incomoda algumas vezes, por se
assemelhar a um stand up encaixado em pleno roteiro, no entanto, não dá pra
negar que o ator é dotado de um carisma nato e, quando este acerta no timing e
na piada, é difícil não cair na risada. O elenco de apoio, que conta ainda com Danielle Winits, Miguel Rômulo, Rodrigo Fagundes, Louise Cardoso, José Rubens Chachá e Arianne Botelho, funciona só como base
para as ações de Hassum, que realmente é o principal regente de toda a
história. Um roteiro cujo protagonista toma toda responsabilidade para si, acaba por reprisar situações já vistas nos outros filmes do ator.
À medida que os anos avançam, novos
elementos são inseridos pouco a pouco para não causar desinteresse no
telespectador, em razão da situação de Deja Vu, e isso funciona bem, haja vista
que a trama trabalha as relações familiares. Vemos como as pessoas e as
relações mudam ao longo do tempo, especialmente quando ocorrem grandes eventos
em suas vidas e isso de certa forma lembrou-me o filme Click, uma comédia inesquecível de 2006. O casamento de Jorge e
Laura é um dos focos de atenção do roteiro, já que o casal passa por altos e
baixos que vão se acentuando conforme a linha temporal avança. É impossível não
torcer pelos dois e ficar em estado de ansiedade pra saber o que aconteceu ao
casal no intervalo de um ano, principalmente quando Márcia (Danielle Winits) entra na jogada.
A grande surpresa do enredo é a carga dramática trazida no último terço do filme. Ninguém espera em uma comédia como essas, terminar em lágrimas. A clássica busca pela redenção de um protagonista que encara as consequências de seus atos é a fórmula que sempre costuma funcionar em filmes com essa proposta natalina. Utilizando-se de lições de valorização dos pequenos momentos e da família, Tudo Bem no Natal que Vem consegue comover com simplicidade, e apresenta um drama que casa muito bem com o restante da proposta.
Como é bom ver o cinema nacional crescer! Apesar de contar com alguns exageros, bem como perucas estranhas, certamente dá pra considerar Tudo Bem no Natal que Vem um bom representante da comédia brasileira aqui e no mundo. Que seja um entre muitos!
Nota: 7,0
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