George Clooney estrela e dirige um drama existencial que não possui carisma.

Sinopse: Céu da Meia-Noite acompanha Augustine (George Clooney), um solitário cientista no Ártico que tenta impedir que Sully (Felicity Jones) e seus colegas astronautas voltem para casa em meio a uma misteriosa catástrofe mundial.

O Céu da Meia-Noite é um filme que pode passar uma impressão muito equivocada caso o espectador se guie pelo material promocional divulgado pela Netflix. Nas prévias, aparenta ser uma mistura de Gravidade e uma versão glacial de 127 Horas, porém não chega aos pés dos filmes citados e desperdiça uma ótima premissa com uma condução narrativa desastrosa. Baseado no livro Good Morning, Midnight de Lily Brooks-Dalton, o longa acompanha a jornada de Augustine (George Clooney), um dos últimos sobreviventes de um desastre que deixou o planeta Terra inabitável. Ele mora numa estação meteorológica no Pólo Norte e possui uma doença que exige uma purificação de sangue diária através de máquinas. O objetivo dele nesse local é contatar missões espaciais que não sabem das atuais condições do planeta e avisá-los para não retornarem.

Estabelecida a premissa básica, o filme divide-se em três núcleos, o primeiro acompanha o protagonista, o segundo são flashbacks do passado dele e o terceiro mostra uma equipe de astronautas voltando para casa após uma missão na busca por planetas habitáveis. Desses núcleos, nenhum é capaz de engajar o público emocionalmente na história, a montagem faz um vai e vem que prejudica a fluidez das partes e deixa o ritmo moroso. Com uma duração de 2h, o filme parece ter o dobro disso, é tudo tão devagar que parece que a montagem foi feita por uma tartaruga de tão letárgica. A direção de George Clooney é outro problema, ele não sabe conduzir bem os diferentes núcleos e fica a sensação de estar assistindo duas tramas completamente distintas. Os atores estão visivelmente desconfortáveis em cena, a apatia deles com  o projeto é palpável. Em diversas cenas, eles aparentam estar perdidos ou com cara de sono. O elenco aqui é recheado de nomes talentosos como Felicity Jones, Kyle Chandler e David Oyewolo, mas o roteiro não tem nada de interessante para fazer com eles a não ser repetir piadas sobre nomes de bebê ou jogar diálogos existencialistas para tentar dar uma profundidade que não é sentida em momento algum por mais que os atores se esforcem.

Pelo menos, a parte visual do longa é bem mais assertiva com tomadas bem enquadradas e cenas visualmente imponentes tanto no ártico quanto no espaço. Clooney e o diretor de fotografia foram assertivos em apostar em cenas com forte apelo visual para tentar dar um simbolismo visual a jornada dos personagens em ambientes hostis. A metáfora do homem vs natureza se faz presente na trama e é utilizada em dois núcleos a fim de trazer um paralelo sobre o peso que escolhas aparentemente inofensivas podem trazer com o tempo. No que tange ao design de produção, tudo é da mais alta qualidade, tanto as instalações no ártico quando as naves espaciais tem uma aparência moderna com muito espaço, luzes e cores claras. Esses elementos ajudam muito na construção de uma solidão que o filme tenta emular, toda uma modernidade, mas ainda sim os seres humanos sentem-se sozinhos. Os efeitos visuais são bem renderizados e raramente passam uma sensação de artificialidade, tudo apresentando tem um quê de real.

Esse senso de realidade na parte técnica não se repete na construção da trama, os personagens são muito subaproveitados enquanto o roteiro joga várias informações sobre eles que não recebem um desenvolvimento minimamente sensível. Pega-se o Augustine como exemplo e toda a atuação de George Clooney é voltada para fazer uma cara de cansado e sofredor, o personagem quase não verbaliza em sua versão presente e nos flashbacks não funciona também. As revelações do passado dele são feitas em cenas muito rápidas que são inseridas em momentos específicos para dar a noção de que ele é atormentado, mas toda a mensagem é rapidamente diluída pela pobreza dos diálogos e situações do roteiro de Mark L. Smith. Tais momentos são apenas uma caricatura dele feita para dar uma humanização que é deveras clichê e já foi feita melhor em outras produções.

Erros do passado ou a esperança de uma vida melhor são grandes motivadores para jornadas árduas em produções desse tipo, no entanto, nenhuma delas é minimamente crível nesse filme. O núcleo do grupo de astronautas tenta muito ser existencialista e aposta em cenas tristes com toques de comédia e um pouco de ação, mas diálogos são péssimos e a citada falta de interesse do elenco não ajudou. Existem cinco pessoas nessa missão e todas parecem que acabaram de se conhecer, não há uma química e pior, quando o roteiro investe em cenas mais íntimas da tripulação, soa como algo deslocado. O primeiro ato é focado quase que exclusivamente m Augustine e Iris (Caoilinn Springall) com alguns flashbacks e transições para o espaço, enquanto que a segunda parte dedica-se a jornada do herói vs natureza e o final é uma salada de diálogos toscos e plot-twists previsíveis.

Por fim, é importante ressaltar que para um filme sobre existencialismo, esse projeto não soube como contar essa história de um jeito empático, uma bela cena de superação ou tragédia torna-se vazia sem um contexto que aproxime do público e foi isso o que faltou. A inexperiência de George Clooney como diretor também deve ser um fator que explica a bagunça narrativa, ele não teve controle do ritmo e a montagem também não ajudou, mas visualmente, não existem cenas ruins nesse longa. O final vai dividir opiniões, ainda que não seja totalmente ruim, é mais um na série de coisas que já foram feitas melhores por outras produções.

Nota: 3,0


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