O show da HBO prova, mais uma vez, ao abordar temas profundos sobre a vida, que é mais do que um simples seriado adolescente.
Após mais de 1 ano desde o lançamento da primeira temporada*, Rue Bennet (Zendaya) retorna em um envolvente episódio repleto de mensagens poderosas, intitulado Trouble Don't Last Always (Problemas não duram para sempre). E mais do que isso: ao apostar em uma narrativa menos frenética, Euphoria nos entrega um necessário embate entre gerações de forma impressionante.
Passando-se quase que inteiramente em um restaurante, o episódio traz Rue e Ali (Colman Domingo), às vésperas do natal, conversando sobre os últimos acontecimentos da vida da garota. Não se engane, no entanto, ao pensar que se trata de algo monótono ou chato. Ou pior: uma mera tentativa de aproveitar-se do sucesso do primeiro ano. Na verdade, Trouble Don't Last Always é hipnotizante e trabalha com maestria assuntos de extrema relevância. Aqui cabe citar o incrível talento do roteirista ao conseguir manter o espectador preso aos acontecimentos mesmo com o aparente ritmo lento – ainda mais se comparado aos outros momentos da série.
O retorno de Colman como Ali, o experiente membro do grupo do qual Rue fez parte, é muito mais que bem-vindo: é essencial! Ao trazer um olhar mais experiente sobre as adversidades da vida, seu personagem consegue com que Rue, naturalmente tomada pela ideia de onipotência juvenil, repense sobre suas ações e o seu papel quanto ser humano. A dinâmica com Zendaya (novamente brilhante) é prazerosa de se assistir e rende ótimos momentos sem que soe forçado ou mesmo mecânico. É algo franco e sincero, como se de fato fossem apenas dois amigos conversando sobre a vida.
Honestamente, foram quase 60 minutos de socos no estômago. Isso porque os pontos levantados não limitam-se apenas ao fictício (ou apenas aos usuários de droga): eles recaem também sobre o telespectador. É de se admirar a qualidade da série ao abordar tantos temas de maneira tão orgânica e que te incitem à reflexão. Aliás, em determinado momento, Ali recorre a uma espécie método socrático de indagações e promove em Rue uma verdadeira jornada de autodescobrimento. Acredite: você não está preparado para tudo que vai ouvir. De maneira surpreendente, o roteiro o conduz por temáticas que envolvem religião, vício, individualismo, dependência afetiva, racismo, paternidade e perda. Fazia tempo que este mero redator não assistia a um diálogo tão bem estruturado na televisão.
No mais, o novo episódio mata a saudade dos fãs e faz isso de maneira louvável. Além de permitir um olhar mais auspicioso em relação ao futuro de Rue, nos deixa ansiosos pelo que virá a seguir. As expectativas para a parte 2, ainda sem data de estreia definida, aumentaram!
Em suma, o novo episódio de Euphoria consegue elevar o seu nível de qualidade com críticas ácidas aos comportamentos humanos e mostra-se extremamente relevante – principalmente em virtude do cenário em que vivemos. Como disse Ali em determinada cena, “você tem que acreditar na poesia. No valor de duas pessoas sentadas em um restaurante conversando sobre a vida”.
Nota: 10
*Confira a crítica da primeira temporada aqui.