"A Desordem que Ficou" é um suspense envolvente e intrigante que vai fazer você não tirar os olhos da tela!
Suspenses
policiais sempre foram objeto de fascínio popular. Autores famosos como Agatha
Christie, Harlan Coben, Sidney Sheldon, entre outros inúmeros, sempre
cultivaram em nós, meros mortais leitores, a vontade de solucionar crimes e por
vezes acreditamos que somos os verdadeiros investigadores. Hoje em dia, isso
vai muito além dos livros. O suspense chega cada vez mais às telas e é sem
dúvida um dos gêneros de maior audiência tanto na TV quanto no cinema. É nesse
clima que surge a mais nova minissérie de suspense espanhola A Desordem que Ficou (La Desorden que dejas). Criada por Carlos Montero, também criador da série Elite, e adaptada a
partir de seu romance homônimo, ela chegou ao catálogo da Netflix
no dia 11 de dezembro e já é um sucesso.
A minissérie narra, em oito episódios, a
história de Raquel Valero (Inma Cuesta), uma professora em busca de superar o
trauma da perda de sua mãe e de melhorar seu casamento que passa por um momento
turbulento. Ela concorda em se mudar para a cidade natal de seu marido, Germán
Araujo (Tamar Novas), e lá aceita lecionar literatura em uma escola pública da
região, de modo a preencher a vaga da professora Elvira “Viruca” Martinez
(Bárbara Lennie).
Os estudantes não estão dispostos a facilitar a
vida da nova professora, constrangendo-a e desafiando-a o tempo todo. Pra piorar, ela começa a receber mensagens anônimas e ameaçadoras. Em meio a tudo isso, Raquel descobre que a professora a quem
está substituindo cometeu suicídio, ou pelo menos é o que querem que pareça, já que as circunstâncias por trás do ocorrido se mostram muito mais
complicadas do que parecem.
Raquel não está disposta a ficar parada e
começa a investigar a fundo o que poderia ter acontecido com Viruca e, especialmente, se algum de seus alunos está envolvido visto que ela mesma está sendo
ameaçada e aparentemente o autor dessas ameaças estaria em sua sala de aula. No entanto, tudo é muito mais complexo e perigoso do
que ela poderia imaginar e agora até mesmo sua vida pode estar em risco.
Sexo, drogas, crime, luto, relações conturbadas e muito drama permeiam toda a trama. A série tem os três primeiros episódios muito bem construídos e com o ritmo bastante intenso. O roteiro trabalha com linhas temporais distintas, onde acompanhamos num mesmo episódio situações do presente, tendo Raquel em destaque, mas também do passado, tendo então Viruca como protagonista. Vale pontuar que isso é feito com maestria e o entrelaçar entre as linhas é muito bem acabado. O espectador não se perde e é contextualizado a todo momento podendo investigar os mistérios em conjunto com a protagonista.
Os estudantes que são focados na história, Iago Nogueira (Arón Piper, Elite), Roi Fernández (Roque Ruiz) e Nerea Casado (Isabel Garrido) são personagens um pouco óbvios, contudo a boa atuação dos três sustenta bem o enredo. O constrangimento imposto por eles às professoras chega a incomodar tanto que dá vontade até de pausar o episódio (eu que vos escrevo, como professora de profissão, tive que respirar fundo em algumas cenas).
A partir do quarto episódio, a série se perde um pouco dentro de sua própria ambição e o que deveria ser bem elaborado acaba deixando algumas lacunas de roteiro importantes, em especial no que tange o envio das mensagens anônimas. Não fica claro como o autor dessas mensagens consegue obter tão facilmente as informações utilizadas para chantagear Raquel e principalmente como ele conseguiu enviá-las em determinados momentos. A série poderia ter sanado isso com facilidade, mas preferiu deixar a brecha.
Curiosamente, a heroína Raquel não é tão
interessante quanto a inconsequente Viruca. No decorrer dos episódios vamos
acompanhando todos os fatores que levaram Viruca a sua trágica morte. A
personagem, apesar de ter uma personalidade inconstante, consegue ser magnética. É nesse arco também que as partes mais intrigantes da trama
surgem. Como por exemplo a relação complicada dela com Iago, bem como
seu confuso casamento, além de outros sérios desdobramentos.
Nos dois últimos episódios o ritmo é recuperado
e os mistérios começam a ser revelados um a um. Temos clichê? Com certeza. Ainda
assim, eles são apresentados de uma forma envolvente. No último episódio você se
vê completamente preso a tela. Um dos pontos fortes foi que algumas cenas
apresentadas ainda nos primeiros episódios reaparecem, mas dessa vez fazendo
completo sentido e te ajudando a montar as peças do quebra-cabeça. As
soluções e fechamentos não são geniais, mas acontecem de uma forma tão bem
ajustada que quem disse que o básico não pode ser o suficiente?
O desfecho traz como mensagem o quanto escolhas definem sua vida e que recomeçar é nada mais do que fazer uma escolha difícil com consequências igualmente difíceis, mas que são necessárias. Novamente a Espanha acerta em uma obra. Após sucessos como La Casa de Papel, Elite e Vis a Vis que venham mais, porque quem sai ganhando é o público.
Nota: 8,0
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