Dedique 12 minutos do seu tempo a esse sensível curta de animação! Você definitivamente não irá se arrepender!

O hábito de prestigiar curtas não é tão disseminado no Brasil e há de se admitir que os poucos contatos de muitos com essa categoria se fizeram graças às aberturas de muitos filmes da Pixar, como Tin Toy, que introduziu o primeiro Toy Story e foi o primeiro curta com uso de computação gráfica a ganhar um Oscar, além de Luxo Jr., que apesar de ser de 1986 só ganhou as telas de cinema quando abriu Toy Story 2 e trouxe ao estrelato a famosa luminária que mais a frente se tornou o grande símbolo do estúdio.

Já vi longas metragens que precisaram de mais de uma hora para me envolverem à narrativa e emocionar, ou até mesmo passaram horas e ainda assim não alcançaram seu intento primordial. Dessa forma, os curtas metragens têm a difícil tarefa de fazer muito com pouco.



A Netflix lançou no dia 20 de novembro o curta animado Se Algo Acontecer... Te amo (If Anything Happens I Love You). A animação com cerca de 12 minutos, considerando os créditos, escrita e dirigida por Michael Govier e Will McCormack (coescritor de Toy Story 4), conta a história de um casal que enfrenta o luto após a trágica morte de sua filha. E aqui já deixo uma sugestão. Assista sem ler a sinopse disponível no streaming, uma vez que ela já deixa evidente o que causou a morte da criança. Garanto que a surpresa te tirará o fôlego e, por isso, não mencionarei o fato ao longo da crítica (depois volte aqui e me agradeça, rs).

A película de traços simples, quase rabiscados, utiliza majoritariamente a escala de cinza e cores mais fechadas pra traduzir bem o vazio e a solidão tangível sentida pelos pais da menina frente a sua ausência, que abala severamente a relação dos dois que mais parecem ter morrido em sua essência juntamente com a garota. As poucas cores que emergem ao longo do filme, exprimem a alegria através de singelos pertences e memórias da garota.

O curta não possui diálogos e isso não faz falta alguma! A mensagem é exclusivamente passada através do desenho assertivo, cores e sombreamento precisos, somados a uma trilha sonora afiada e tocante. Assistimos às sombras dos personagens, que representam de certa forma suas almas em conflito, realizarem movimentos quase hipnóticos que nos angustiam a princípio, porém em certo momento já são sinônimos de encantamento e conforto.



A dor é transmitida com profundidade e não demora até que as primeiras lágrimas brotem dos nossos olhos. É incrível que apesar dessa dor avassaladora, a delicadeza e sensibilidade na abordagem concedam o alívio necessário para que tenhamos esperança. A animação traz lições sobre escolhas e mostra como temos a tendência de nos apegar às memórias mais tristes e devastadoras e como isso pode nos afundar num poço difícil de sair. Ela mostra ainda que ao nos firmarmos a lembranças felizes, somos capazes de seguir em frente. Fica a mensagem central, portanto, de que o luto não é encarado pelo esquecimento, e sim pelo enfrentamento. E que sombras só se dissiparão se ali houver luz.

A trama nos dá ainda um soco no estômago ao trazer algo extremamente realista e uma crítica social veemente associada à morte da garotinha e é aí que a razão do título vem à tona e nos esfacela sem pedir licença. Impossível não ser tocado! 

Prepare seu lencinho e se delicie com essa obra de arte surpreendente. E fica aí o apelo: que mais curtas sejam disponibilizados nos streamings de modo a divulgar mais essa categoria!


Nota: 10

 

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