Nova minissérie da Netflix é um deleite para os fãs de drama e evidencia Anya Taylor-Joy como uma das mais promissoras atrizes dessa geração.  

Em sua produção mais ousada do ano, a Netflix acerta em cheio ao apostar na obra criada por Frank Scott e Allan Scott que, por sua vez, se basearam no romance homônimo de Walter Tevis. No drama, acompanhamos Elizabeth Harmon desde a perda prematura da mãe na década de 50, passando pelos seus sérios problemas envolvendo o uso de entorpecentes ainda na infância, até o auge da sua fama como uma exímia enxadrista. 


A série pode aparentar ter um desenvolvimento lento para quem é acostumado com ritmos mais frenéticos, especialmente em seu episódio inicial, focado na infância de Beth no orfanato. No entanto, é nesse lugar que a personagem desenvolve o seu laço mais profundo durante a série: com o zelador irascível que a ensina a jogar xadrez. E é nele também que ela conhece Jolene, a órfã que, embora indiretamente, contribui para o início do seu vício em remédios. Ah, a título de curiosidade, o gambito da rainha é, na verdade, um difícil movimento no jogo de xadrez.  


Passando as introduções, é só no segundo episódio, sob a guarda de sua mãe adotiva, que a personagem de Anya inicia sua jornada no xadrez profissional. O ponto mais interessante do show é justamente a construção da personalidade de sua protagonista. Retratada como alguém naturalmente quieta, é em seu olhar questionador e curioso que notamos suas emoções, seja em relação ao seu afloramento sexual, aos sentimentos sobre a nova família ou em sua súbita fama.  


E claro, tudo isso graças à brilhante atuação de Anya Taylor. Após o divertido e envolvente Emma, Joy entrega a sua mais incrível e completa performance nessa minissérie. Com trejeitos únicos, a atriz confere várias camadas à traumatizada Beth Harmon ao longo dos recortes temporais: de uma jovem deslocada e receosa para uma mulher glamourosa e confiante. A prodígio do xadrez é facilmente uma das protagonistas mais fortes e encantadoras da TV nos últimos anos, sem que seja necessário um roteiro apelativo ou frases de efeito para construir isso.  




O seu elenco de apoio, composto por Thomas Brodie, Moses Ingram e Harry Malling, também não está muito atrás, entregando ótimos momentos de interação com Taylor. Destaque para Ingram, interprete de Jolene, que nos presenteia com divertidas cenas e é peça fundamental na vida de nossa enxadrista. 


O roteiro bem escrito ainda consegue abordar temas de suma importância de maneira sutil e precisa, como sexualidade, família, hipocondria, vícios e amadurecimento. Ele torna empolgante acompanhar Harmon em cada momento de sua vida, seja nas partidas onde está cercada por homens, na escola ou em seus momentos mais íntimos quando abusa das bebidas alcoólicas e outras drogas.  


Os aspectos técnicos, por sua vez, estão impecáveis. Há riqueza nos detalhes ao emular toda a atmosfera da década de 60 nos cenários e figurinos de vários países por onde Beth passa. No quesito trilha sonora, faltam adjetivos para qualificar: ao mesclar orquestras instigantes com clássicos da época, a produção consegue elevar o nível de qualidade das cenas, principalmente durante as partidas de xadrez. 


Aliás, são inúmeras ao longo de The Queen's Gambit  (no original). No entanto, cada uma consegue sua particularidade e agregam para a construção da personagem de modo que não tornam-se repetitivas ou genéricas. Muito pelo contrário: o telespectador se pega torcendo e vibrando em cada lance de Harmon, prendendo a respiração quando tudo parece desandar. Eu mesmo me encontrei nessa situação durante a competição final, no sétimo episódio, pelo título de campeão mundial. Senti como se estivesse assistindo um megaevento como a Copa do Mundo ou algo derivado.  


A história escrita para Elizabeth é tão fascinante que quando chegamos ao fim da minissérie, só conseguimos desejar assistir um pouco mais. 

 

Em suma, é importante ressaltar a história envolvente em narrativa e deslumbrante visualmente que é nos entregue. Com certeza, uma das melhores produções lançadas em 2020. No que tange à qualidade, a Netflix fez uma jogada (cof cof) de mestre com O Gambito da Rainha contra outros serviços de streaming em ascensão. 

 

Nota: 10/10 


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