Quarto filme de Quentin Tarantino é uma excelente história de vingança que referencia vários elementos da cultura japonesa.


Sinopse: A ex-assassina conhecida apenas como "A Noiva" acorda de um coma de quatro anos decidida a se vingar de Bill, seu ex-amante e chefe, que tentou matá-la no dia do casamento. Ela está motivada a acertar as contas com cada uma das pessoas envolvidas com a perda da filha, da festa de casamento e dos quatro anos da sua vida. Na jornada, "A Noiva" é submetida a dores físicas agoniantes ao enfrentar a inescrupulosa gangue de Bill, o Esquadrão Assassino de Víboras Mortais.

Kill Bill Vol. 1 é um dos filmes mais celebrados da carreira do diretor Quentin Tarantino por sua narrativa de vingança muito bem construída e pelas várias referências a elementos culturais do Japão tais como espadas de samurai e animes. A trama é baseada na personagem “A Noiva" escrita por Tarantino e a atriz Uma Thurman, protagonista do filme.

O maior acerto deste filme é o equilíbrio que o diretor emprega tanto no ritmo quanto na composição visual do longa. A trama intercala-se entre momentos de ação e outros mais calmos que contam a história da Noiva e o porquê de suas motivações contra aquelas pessoas. Tarantino aposta numa ação bem “fantasiosa” com partes do corpo sendo decepadas, jatos de sangue e lutas que misturam vários estilos diferentes. Aliás, é formidável o modo ele constrói a atmosfera nas cenas sempre com muita atenção aos detalhes, mas dando aquela impressão de algo mais está acontecendo sem que o público saiba.

Visualmente, a película também é um vislumbre à parte com a fotografia de Robert Richardson usando cores bem fortes para ressaltar as cenas de violência gráfica sempre puxando para tons mais amarelados, azuis e brancos. Em cenas mais intimistas, ele usa uma paleta de cores mais melancólicas que puxam pro sépia ou bege, vale notar que mesmo em algumas cenas em preto e branco, ainda são perceptíveis algumas cores presentes como na parte da capela com os olhos da Noiva.

Falando na protagonista, é justo dizer que a performance de Uma Thurman é espetacular em todos os sentidos. Quando a Noiva (que não tem seu nome revelado aqui) leva a cabo sua vingança contra os membros do seu antigo esquadrão, nota-se na expressão da atriz que personagem sabe que aquilo é errado, mas pelo enorme sofrimento que cada um causou a ela, esse acerto de contas não é apenas um capricho e sim um modo de expurgar seu passado sombrio. Thurman também é assertiva em momentos mais íntimos como na cena em que sua personagem acorda do coma e descobre que além de ter perdido sua filha, ainda ficou presa quatro anos nesse sono profundo.


É nesse momento que a raiva e dor da personagem são expostas e logo vemos que ela não é alguém para se fazer esse tipo de coisa. Tendo isso em mente, o roteiro de Tarantino faz questão de enfatizar a violência e o ódio dela por aquelas pessoas, mas ao mesmo tempo vemos a vulnerabilidade da personagem, pois quando se encontra face a face com o inimigo, ainda sim sente remorso, porém há coisas das quais não se pode desculpar.

A primeira da lista de morte é O-Ren Ishii (Lucy Liu), agora líder da Yakuza no Japão e é com a apresentação da personagem dela que a trama tem seus melhores momentos. Enquanto a protagonista nos narra a história da inimiga, em tela é usada uma animação que remete aos animes japoneses para ilustrar visualmente o conto e o resultado é fantástico. A animação é simples, porém bem feita e seu propósito narrativo é fazer um paralelo entre O-Ren e a Noiva no que diz respeito à ideia de vingança.

O roteiro também escreve ótimos diálogos que ajudam a passar a impressão de que aquelas personagens tem toda uma história juntos e dispensa muita exposição barata como seria em outros filmes. Aqui toda a afirmação ou metáfora tem o propósito de elucidar para o público o tamanho da maldade ou culpa de cada personagem na narrativa. A cena com Hattori Hanzo (Sonny Chiba) é um bom exemplo de trecho com escrita fenomenal, pois ao invés de apostar em uma exposição das intenções de cada um abruptamente, Tarantino prefere fazer um jogo com cada personagem falando o mínimo possível, porém com cada fala tendo um enorme impacto nas ações de cada um.

Um fato curioso é que o grande vilão Bill (David Carradine) não tem seu rosto mostrado em nenhum momento durante esse filme sendo apresentando sempre por meio de ângulos que focam em uma parte do corpo como as mãos. Os demais membros do esquadrão Víboras Mortais fazem participações curtas com o destaque ficando para o trecho que envolve a luta entre a Noiva e Vernita Green (Vivica A. Fox) no início do filme.

Por fim, vale destacar a excelente escolha musical desse filme. Eles pegam temas musicais de filmes japoneses, westerns e algumas músicas pops, todas elas funcionam muito bem quando tocadas e ajudam muito a passar um sentimento de reflexão em cenas mais íntimas e euforia nas cenas cheias de adrenalina.

Kill Bill Vol. 1 é ótimo em tudo que se propõe a fazer e prova o talento de Quentin Tarantino para mesclar diferentes elementos em uma narrativa sem que haja uma perda da identidade de cada um.

Nota: 10

Publicado por: Matheus Eira

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