Desde o começo, com a sublime arte de Alex Ross recapitulando os acontecimentos do primeiro filme, até o seu fim, Homem-Aranha 2 é uma aula de como fazer um filme de super-heróis poderoso, cativante, que há peso dramático e personagens relacionáveis. É um blockbuster que não se preocupa apenas com as sequências de ação, você pode tirar todas as lutas e a destruição e mesmo assim você encontraria um filme divertido, que possui um roteiro magnífico, digno de um personagem tão amado como o Homem-Aranha. 

E cada cena, cada pequeno momento, diálogo, movimento de câmera, eu percebi a paixão de Sam Raimi pelo personagem e por suas histórias, assim como claramente o roteiro compreende o conceito de heroísmo e o demonstra de forma perfeita como poucos filmes do subgênero conseguiram mostrar. Homem-Aranha 2 é simplesmente lindo, o meu filme favorito do personagem, o meu filme de super-heróis favorito, e um dos meus filmes favoritos no geral. 

O que eu mais amo é o modo como o filme trabalha seu personagem titular. Você vê Peter (Tobey Maguire) ser espancado com um taco de baseball pela vida, que é injusta com ele desde a cena de abertura. Nós vemos o tanto que ele sofre. A sua responsabilidade está sempre o atrapalhando, seja em sua vida profissional, escolar ou amorosa. Ser o Homem-Aranha, seguir os ideais que ele segue, faz a vida de Peter ser o desastre que ela é. E é isso que o torna tão identificável, o que faz o espectador se importar com ele. 

O que tornou Homem-Aranha 2 especial para mim, e para tantas outras pessoas, é como ele consegue trabalhar Peter Parker, o tímido adolescente por trás da máscara que está sempre sofrendo, tão bem. A cena com o Tio Ben (Cliff Robertson) é fantástica, assim como a cena de Peter contando a verdade sobre o assassinato de Ben para sua tia May (Rosemary Harris), com as pausas e ele engolindo em seco. Chega a ser pessoal para mim o tanto de cenas que me deixou emotivo. E no final, o filme entrega uma mensagem sincera sobre heroísmo, e como o sacrífico é intrínseco quando se trata do assunto. 

O filme é a personificação dos balões de pensamento de Peter Parker nos quadrinhos durante sua era de ouro, das HQs roteirizadas por Lee e com arte de Steve Ditko e depois John Romita, e consegue adaptar fielmente histórias icônicas como Homem-Aranha Nunca Mais. Está claro que o filme foi feito por pessoas que amam o personagem, que entendem o que ele representa, sua essência e o que o torna tão especial.


Apesar de ser o melhor trabalhado, Peter não é o único que é escrito de forma tão cuidadosa. O vilão do filme, Doc Ock (Alfred Molina), é também um dos muitos pontos positivos do filme. Octavius não é a personificação do mal, nem um psicopata ou um narcisista. Ele é um cientista que deixou seu ego nublar seu julgamento e que sofreu um grave acidente. E no final do filme sua redenção foi algo que funcionou e que também mostrou o crescimento de Peter, sempre vendo o melhor nas pessoas. A Tia May aqui serve um propósito e diferente do primeiro filme ela não tem uma aparição tão curta, e ela é quem diz uma das melhores frases do filme e protagoniza alguns momentos emocionantes. Mary Jane (Kirsten Dunst), apesar do desgosto geral por sua personagem nessa trilogia, não me pareceu irritante como alguns dizem e foi desenvolvida de forma satisfatória. O filme também se beneficia de seu vasto elenco de personagens secundários carismáticos, como J. Jonah Jameson, Robertson, Hoffman, Brant e Ditkovich. 

E claro, nós temos um dos principais responsáveis pelo charme e pela energia contagiante dessa película, que é a direção de Sam Raimi, provendo o estilo que esse filme precisava e bebendo da fonte das clássicas HQs do personagem, trazendo um filme visualmente interessante. São vários os momentos que Raimi traz sua identidade visual única, como quando a tela vai escurecendo após Peter jogar no lixo seu uniforme e no fim somos capazes de ver apenas os visores. 

A sequência do roubo do uniforme no Clarim Diário, com a câmera se afastando do Jameson, e logo após o jornal com o título “Ele Voltou!” surgir na tela para então vermos o Homem-Aranha atravessar o jornal e se balançar por Nova York, com depois a câmara se afastando novamente, dessa vez para revelar que aquilo era um reflexo nos óculos do Doutor Octopus. Aquilo foi puro quadrinhos e a prova do quão dinâmico e original é esse filme, um espetáculo de encher os olhos. E isso não seria possível sem a fotografia magistral de Bill Pope, que tem uma carreira impressionante, e os efeitos especiais, mesmo que em algumas partes pareçam datados. 

Homem-Aranha 2 está repleto de amor genuíno ao personagem titular e suas histórias. O roteiro de Alvin Sargent e a direção de Raimi provam isso. Não há uma cena que tenha sido curta ou longa demais, ou uma que não tenha cumprido um objetivo e que não avançasse a trama. Não houve uma cena na qual eu não tenha sorrido ou adorado, para mim foram duas horas que se passaram rápidas e que quando terminaram, me fizerem querer ver o filme mais uma vez. O filme está repleto de momentos memoráveis, seja a sequência no trem, ou o roubo no banco, a cena no hospital com o nascimento do Doutor Octopus, a sequência brega de Peter em um momento passageiro de felicidade ao som de “Raindrops Keep Falling On My Head” na qual eu ainda continua tocando na minha cabeça, ou as interações entre Peter e MJ ou Harry ou Jameson, eu não consigo não gostar de um momento sequer desse longa. Tudo funciona: o drama, o humor, o romance, a ação e até mesmo o horror. Raimi consegue juntá-los e surpreendentemente funciona, é algo impressionante e por esse feito ele merece inúmeros elogios. Homem-Aranha 2 é um marco nas adaptações de quadrinhos e muito provavelmente o melhor filme de super-heróis já feito. 

Nota: 10

Publicado por: Sam.

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